Me lembro que a uns dois anos atrás estava no ateliê vendo um vestido para o natal do mesmo ano, quando Ally entrou correndo com Julie no colo.
-Alteza...Alteza...-Ela disse ofegante.
-O que foi, Ally? Você está bem?- Eu perguntei pegando Julie no colo dando espaço para ela. A coitada tinha descido três lances de escadas.
-To ótima, alteza. É a Julie.
-O que aconteceu??? Ela se machucou??- Examinei a bebê. Não me parecia machucada ou com cara de choro.
-Ela disse...Disse...
E foi quando ela balbuciou algo.
-Ela disse isso.
Depois disso, fiz ela repetir para o palácio todo.(risos)
A pequena tinha dito suas primeiras palavras.
Depois disso, Julie se tornou um poço de palavras ( e me orgulho em dizer que a primeira foi "mamãe" , ou algo parecido com isso). Ela vivia tagarelando sobre tudo e para todos.
Minha mãe até chegou a falar que ela estava convivendo com muitos adultos (o que poderia ser verdade, onde já se viu uma criança falar tantas palavras - inclusive as difíceis - com apenas quatro anos?!)
Esse era o grande problema: aquele pequeno ser falava demais.
Harold era baixo quanto as suas atitudes; claro que ele ia usar minha filha para chegar até mim. Uma cabeça tagarela e inocente é muito mais fácil de conquistar.
De primeira, pensei em contar ao Luke, ele deveria saber disso! Mas se tem uma coisa que eu aprendi com o meu pai foi não tomar decisões de cabeça quente (se bem que ele não segue muito seus próprios conselhos, até porque, quando a situação ficou crítica ele pensou de cabeça quente e me colocou pra casar com um príncipe que eu nem conhecia). Então decidi me sentar, organizar minhas ideias e pensar em outras coisas.
Mas como?
Lembrei de uma vez que estive na biblioteca "estudando" com Harold.
-Minha irmã está grávida.- Ele disse.- Minha mãe não para de encher o meu saco pra eu começar uma família.
-Mas e você, meu bem? Não pensa em ter filhos?
-Não achei a pessoa certa pra isso ainda.- Ele passou assobiando como sinal de "indiferença"
-Ah é?- Fingi indignação.
-Claro que achei já, minha princesa. Eu teria filhos com você. Mesmo que seja estranho, digo, nos conhecemos a pouco tempo.
Sorri.
-Você gosta de crianças?- Perguntei.
-Amo! De todas as idades, todos os jeitos...Jamais seria capaz de machucar uma coisinha daquelas.- Ele pegou alguns papéis na mesa.- Podemos continuar?
-Mesmo?- Resmunguei.
-Ah, minha princesa, sou pago pra isso...
"Jamais seria capaz de machucar uma coisinha daquelas"
Ok, ele não seria TÃO baixo a ponto de machucar Julie.
Mesmo assim, Luke deveria saber de toda essa situação. Mesmo sabendo que ia contar para ele, decidi que não ia ser agora. Talvez a noite, quando estivéssemos juntos.
Corri os olhos pela mesa e parei em um envelope: a carta.
Me senti mal por não ter lido antes. E me senti pior ainda por lembrar que a pessoa estava desesperada quando veio entregar ao palácio. Só Deus sabe o que a pessoa deveria estar passando com todo esse desespero. Mesmo com quase tudo em ordem no país, nem todos eram favorecidos, até mesmo antes de toda a crise.
Era um envelope bege, simples, e com um selo da região do palácio. A pessoa não veio de longe pelo menos.
"Vossa Alteza,
Em breve vai saber quem é (ou se já não deduziu).
Fico lisonjeado em saber que foi embora da aparição depois que percebeu a minha presença; você nunca soube disfarçar algo.
Mas tudo tem sua primeira vez, não é mesmo?
Preciso que seja muito discreta sobre sua filha, coitadinha... Não a tire da escola, ela parece gostar.
E nem pense em abrir a boca para ninguém. O que temos de resolver é algo entre eu e você
Acho que não preciso assinar, você sabe."
Depois de ler a pequena carta (que estava mais para um bilhete sujo), vi que não podia contar para Luke. Conhecia meu marido e Harold. As coisas não acabariam bem, de forma alguma.
Achei melhor deixar a carta em uma gavetinha bem escondida da mesa, caso eu precisasse um dia.
Olhei no relógio e já se passava das oito. Fui até o quarto das meninas ver se estava tudo bem: Julie estava dormindo como uma pedra e Leoni estava querendo acordar. Apaguei a luz rapidamente.
"Não filha, agora não", Pensei comigo. "Graças a Deus".
Fui para o quarto e ele já me esperava lá.
-Oi meu bem.- Luke veio até mim.- Você parece cansada.
-Muito.- Sorri- Vou tomar um banho.
Enchi a banheira e fiquei lá por longos minutos conversando com Luke, que ficou sentado na borda. Falamos sobre nosso dia, já que eu não via ele a todo tempo. Só quando era algo relacionado às meninas ou sobre negócios.
-Amor?
-Sim?- Ele disse pegando umas toalhas.
-E se eu ficar com a Julie na escola? Digo, pra ver se todo esse projeto da educação infantil está acontecendo de fato.
-Bom...- Ele me passou uma- Tem ministros que fazem isso, mas se você quer tud...
-Eu quero!- Sorri- Amanhã eu já vou com a Julie.
-Tão atenciosa..- Ele despejou um beijo na minha testa.
Respirei fundo querendo contar de toda essa situação para ele.
-Luke...
Era agora! Agora ou nunca.
-Fala.
-Eu preciso te contar uma coisa.- Disse saindo do banheiro.
-O que? O que aconteceu?
-Eu pensei sobre aquilo que você falou mais cedo...Sobre abraços carinhosos.-Sorri percebendo a aproximação do príncipe.
Ok, o nunca funcionava melhor.
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Prometida-Depois do sim (Livro II)
Romance(SPOILER! Leia o primeiro livro) Quatro anos se passaram. Um casamento incrível. Duas filhas lindas. Um país harmonioso. E Harold?