Encontramos os animais numa depressão entre três colinas. Tinham o focinho semelhante ao das lhamas, e o lombo grande de um cavalo. Na testa traziam um chifre espiralado, em cujo centro brilhava uma gema que, ao sol, luzia vermelha, azul ou amarela. Os pelos longos podiam ser brancos ou marrons, malhado de ambos, ou um cinza escuro muito bonito, semelhante ao chumbo. Tinham a aparência pacata e pastavam muito tranquilamente, olhando ao redor de vez em quando, cutucando os filhotes com os focinhos macios e arredondados.
Deitada numa das colinas, colada o mais possível ao solo, me senti um tanto estúpida. Olhei para Edula, estirada ao meu lado direito e vi que ela tinha um ar divertido nos olhos.
– Contei quarenta animais – segredou ela. – Deve haver uns dez filhotes.
Um pouco mais abaixo, César fez-me sinal para descer. Engatinhamos de volta, para junto do resto do grupo, com o mínimo de ruídos que podíamos fazer, embora eu tivesse a impressão de que naquela campina silenciosa nós ou um trem de ferro, era a mesma coisa.
– Meu plano é o seguinte – sussurrou Faiald com os olhos cinzentos pulado de um para outro do grupo. – César formará uma cerca de magia ao redor da depressão e Edula e eu fecharemos a passagem. Os outros tentarão capturar uma cabra para si e depois nos ajudarão a pegar uma para cada um de nós. Não precisam ter medo, elas são muito dóceis e depois de montadas uma vez tornam-se ótimos corcéis. Acha que pode dar conta do recado, Mago?
– Pode contar com isso – disse César empurrando os óculos sobre o nariz, sorrindo, divertido.
– Você deve estar brincado, se pensa que vamos pegar esses bichos de mãos vazias, sem cordas nem coisa alguma – protestou Cíntia olhando com desconfiança para cima da colina. – Eu é que não vou enfrentar aqueles chifres imensos.
– Aqueles "chifres imensos" são inofensivos! – retorquiu Faiald.
– Um chifre daquele tamanho, inofensivo? – ela insistiu, descrente.
Faiald revirou os olhos, irritado.
– Se você tem uma ideia melhor...
– Ah, vamos lá, não deve ser tão difícil – tentou animar Cezna.
– Você nem tamanho tem para dar opinião – resmungou a loura.
– Deixe de ser enjoada, Cíntia – pediu Márcia. Ela ainda estava pálida e Faiald resolvera deixá-la fora da caçada.
– Sim, vamos nos mexer, antes que elas deem o fora – murmurei ansiosa.
– E então ? – pediu Faiald olhando na direção da mercadora.
– Não contem comigo – replicou ela.
– Vamos – comandou César. – Depois que essa teimosa vir que não há problema, também vai querer arranjar uma para si. Ou então, irá o resto do caminho à pé.
– Faiald disse a mesma coisa sobre a trilha que pegamos na floresta. E vejam no que deu – argumentou a mercadora, venenosa.
Olhei para ela, controlando uma vontade muito grande de esganá-la.
– Essa é a última coisa da qual quero me lembar hoje – murmurou a irmã do mago, ainda mais pálida.
– Vamos, comecem a contar. Na marca de cinquenta estaremos todos em posição. Na marca de sessenta, começamos a caçada – comandou Faiald, encarando a mercadora com franca irritação. – Um, dois, três...
Continuamos a contar no mesmo ritmo, enquanto Edula e Faiald se afastavam em direção à saída da depressão e César subia a colina do meio. Nosso "grupo de ataque", era constituído por um anão de contos de fadas, um homenzinho alado de trinta centímetros de altura e eu. Sorri para eles, um sorriso amarelo, e me senti mais estúpida que antes.
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O Jogo no Tabuleiro
FantasyUm jovem desaparecido. Um grupo de amigos dispostos a resgatá-lo a qualquer preço. Um universo alternativo, que responde às regras de um jogo mortal - que podem mudar, se a Mestre do Jogo assim determinar. Escrito na década de 1990, "O Jogo no Tabul...