1 Regresso Turbulento *Elise

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Depois do Dakar, passamos três semanas no México, aproveitando para descansar da viagem que foi simplesmente maravilhosa. Sobre a corrida, achei que poderíamos ter feito mais, mas como o Léo sempre me diz, eu sou exigente de mais. E em parte, eu até acredito. Sobre ele ser meu navegador lá, com certeza fui pega de surpresa, mas foi a coisa mais surreal que já me aconteceu.

A melhor comemoração de um ano de casados que poderia existir. Pelo menos pra mim. No dia seguinte á nossa chegada, um daqueles jantares super "animados" estava marcado na casa do Léo. A mãe dele era sempre muito atenciosa, e eu amo minha sogra, mas esses jantares recorrentes não eram muito a minha praia, nem a dele, mas não havia jeito de escapar. Não depois de uma viagem tão longa e praticamente sem noticias.

Eram sete horas quando chegamos á antiga casa dele. Fomos recebidos por dona Cecília e o primo dele, o Ju.

— Ei casal! Como foi a corrida? — Ju sorria cumprimentando Léo, enquanto dona Cecília me agarrava.

— Você não tem noção, mandamos muito bem, até curti navegar.

Ju olhou pra mim rindo. — Elise, o que você tem? Sério, como descolou a bunda dele do lugar de piloto?

Eu ri. — Fiquei tão surpresa quanto você Ju. Mas gostei muito do meu navegador.

Sorri dando um beijinho nele.

Entramos, e a família dele estava toda reunida na sala, e a prima dele Vivian com a barriga parecendo que ia explodir, já no oitavo mês de gravidez. Claro que amei saber que ela ficou grávida. Finalmente não éramos mais o centro das atenções da família. Esse bebê me faria um enorme favor quando nascesse.

Léo ficou na rodinha com os primos e o pai dele, enquanto Carol me puxou para o meio das mulheres, onde eu tinha que controlar meus olhos para não revirarem a cada cinco minutos com tanta babaquice junta.

Além da chegada do bebê que era o assunto principal, ainda tinha a proximidade do casamento da Carol. Que por sinal era ainda mais apressada que o primo, com um namoro de sete meses e já tava com o pé na igreja. Vestidos, sapatos, maquiagem, cabelo... Eu já estava ficando mais do que entediada.

Depois de muita conversa fiada, fomos para a mesa de jantar. Basicamente tudo de importante na família era anunciado naquela mesa. E estar nela era sempre uma adrenalina.

Como esperado, antes que a sobremesa fosse servida, Carol se levantou com seu noivo e pediu a atenção de todos.

Meu único pensamento na hora foi: O que essa destrambelhada fez agora?

— Bem, gente, vocês sabem que meu casamento está perto, mas tenho uma novidade.

A mãe dela já a olhava, cheia de lágrimas nos olhos. Fiquei perdida. Qual seria a bola da vez?

— Eu e o Renan descobrimos que estamos grávidos! – ela ria satisfeita.

A mãe dela correu para abraçá-la e todos os outros pareciam bem animados com a noticia. Olhei para o Léo e ele sorria, mas não era aquele sorriso de contente como dos outros. Era um sorriso de inveja, de que ele queria estar dando essa noticia. Pelo menos era isso que eu sentia.Engoli seco.

Aquilo era uma merda completa, o pior é que eu sabia que isso ia acontecer.

Me levantei, dei um breve abraço na Carol, e fui para o banheiro para me permitir tirar aquele sorriso falso da cara e fazer a cara de merda que eu queria fazer desde o começo.

Respirei fundo, sabendo que eu teria que voltar para aquela mesa e ostentar a mesma falsa alegria de antes. Isso nunca foi tão difícil.

Eu não queria ser a pessoa horrível que odeia bebês, mas não conseguia ficar de boa. Minha cabeça entrava em parafuso, sempre que essas coisas aconteciam. Nada de bom poderia vir daquele sentimento que apertava minha garganta.

Além das Pistas (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora