8 Cerveja e melancolia

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Entrei no quarto, e como sempre acontecia quando ela estava nervosa de mais, ouvi ela vomitando no banheiro, no último ano, isso foi bem recorrente. Empurrei a porta, e ela estava sentada no chão, com a cabeça apoiada no vaso.

Me sentei atrás dela, puxando seu cabelo para trás, e quando vi que ela não colocaria mais nada para fora a puxei pra mim, dei a descarga e a aninhei em meu peito no chão do banheiro. Sem dizer nada, até porque, não havia o que podia ser dito naquela hora.

Fiquei horas ali, acariciando seu cabelo esperando que ela falasse alguma coisa, mas dando o tempo que ela precisava.

Eu nem sabia mais há quanto tempo nós estávamos ali. Mas ela levantou a cabeça e me deu um sorrisinho.

— To aqui lembrando da vez que vomitei por causa do seu pedido de casamento. – ela riu.

Sorri também — Me lembro bem. – falei acariciando seu rosto e limpando uma lágrima com o polegar.

— Naquele dia foi de nervoso, de vergonha, de medo...

— Eu sei, Elise. – sussurrei para ela.

— Mas dessa vez foi de nojo. Como ele... Como ele pôde?

— Ele não sabia, Elise... – minha voz saía mais baixa que o normal, porque ter que defender aquele desgraçado era nojento. — Ele não sabia das intenções dela...

— Não interessa, não era pra ele sair falando de mim assim. – ela falou quase espumando de ódio.

— Eu sei gordinha, ele pisou na bola feio. Mas agora não adianta fazer nada.

— Mas você socou ele. – ela sorriu.

— Não tenho sangue de barata. – sorri pra ela. Se eu não tivesse feito aquilo, acho que nem conseguiria dormir.

Ela deitou a cabeça no meu peito outra vez. — Que bom que socou ele. Obrigada.

— Disponha. – acariciei a cabeça dela. — Sua tia ainda deve ta aí. Quer ir falar com ela?

Ela balançou a cabeça negativamente.

— Quer que eu te leve pra cama?

— Não... — ela me encarou outra vez — Sabe o que eu quero agora?

— Nem imagino. – sorri pra ela.

— Uma cerveja... — ela pensou um pouco — É, é isso, quero uma cerveja.

A afastei de mim para olhar pra ela, achei que fosse uma piada, mas ela estava séria.

Ela se levantou me puxando pelo braço. — Vem Léo, quero o meu Léo vagabundo, o Léo das antigas...

Fiquei perdido. O que ela queria com isso? Nunca tinha visto ela assim, mas entrei na brincadeira, já que era o que ela queria.

Ela saiu do banheiro me arrastando pelo quarto e indo até a cozinha, abriu a geladeira e pegou toda a cerveja de dentro.

— Elise... — a tia dela parou na bancada vendo-a pegando todos os fardos de cerveja.

— Tia, pega um táxi, pode ir embora, não quero papo hoje, ta. – ela jogou um beijo pra ela e saiu correndo pela sala indo para os fundos.

Parei de frente pra Bel — Pode ir Bel. Ela só quer extravasar, pode deixar que tomo conta dela, ta.

Ela me abraçou — Mas ela não ta bem, Léo...

Assenti — Eu sei, mas vai ficar, conhece sua sobrinha, não é? – sorri pra ela, ouvindo a Elise me chamar de lá do rancho. — Não se preocupe.

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