2 Tempestade e calmaria

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Assim que estacionei o carro na garagem ela correu pra dentro e subiu para o quarto. Entrei jogando a chave na bancada, dei um beijo na Fatinha, peguei uma cerveja na geladeira e me sentei na bancada.

— O que aconteceu Léo? — Fatinha se sentou na minha frente.

— Ai Fá, a maior merda que podia acontecer. — suspirei.

— O que foi agora? Sua mãe...

— Não — balancei a cabeça — Dessa vez dona Cecília ta limpa. A Carol anunciou que ta grávida, e aí já viu né...

Ela colocou a mão no rosto com pesar — Ah Léo, tadinha.

Respirei fundo. A Fá melhor que ninguém sabia dos nossos dramas. O assunto família crescendo sempre chegava como um terremoto destruindo minha paz.

— E nem foi o pior. — tomei um grande gole da minha cerveja — Ela chamou pra sermos padrinhos.

— Ah meu Deus! O que essa menina tem na cabeça? – a Fá fez careta.

Eu ri. — Ela não sabe Fá, e essa é a merda. Mas não achei que eu precisasse anunciar pra todo mundo. Não achei que pudesse dar nisso.

Ela me deu um abraço. — Tá certo Léo, não tinha mesmo que contar pra todo mundo, essa é uma questão de vocês. E quem poderia imaginar algo assim, não é.

Me levantei. — Pois é, vou dar uma caída na piscina Fá, to precisando arejar.

— Não é melhor você ficar com ela?

Dei de ombros — Não, ela deve ta querendo ficar um pouco sozinha Fá.

Ela assentiu e eu saí para os fundos, arranquei minhas roupas e mergulhei deixando a água fria me acalmar.

Parecia que eu estava ficando cada vez mais encurralado. E por que é que todo mundo resolveu ter filho no mesmo momento? Só podia ser pra acabar com a minha vida.

E o pior é que eu sabia que ela não queria isso. Ela detesta crianças, não é o fato de ela não poder ter. É a maldita ideia de que eu vou querer o que ela não pode me dar. Eu já não fazia ideia do que dizer, do que fazer pra ela tirar isso da cabeça.

Me sentei na borda da piscina com as pernas na água e a Pandora com seu jeitinho desconfiado se sentou ao meu lado, lambendo a água que escorria pelo meu braço.

— É vampirinha, parece que você não é o suficiente pra sua mãe...

Ela se jogou no chão de barriga pra cima pedindo carinho de um jeito sem vergonha que parecia ter puxado de mim.

— Mas pra mim você já é até de mais, sua estopinha. – eu ri molhando ela com meu cabelo. — Bora, vamos lá ver se conseguimos alegrar sua mãe.

Ela se levantou num salto e me acompanhou no caminho para dentro de casa, coloquei uma toalha enrolada na cintura e outra sobre os ombros, tentando não molhar a casa toda.

Subi as escadas e ouvi as duas conversando com a porta entreaberta.

— Eu sinto muito, Elise. — Fiquei aliviado de saber que a Fá tentava consola-la.

— Fá, eu vejo na cara do Léo que ele quer, sabe... Ter filhos e tal.

— Querida, você não acha que isso é coisa da sua cabeça? Ele não consegue nem cuidar do cachorro direito.

— Cuidar não tem nada a ver com ter Fá. Sei lá, eu só consigo ver o que ele não pode ter comigo. O que ele poderia ter com outra pessoa... Eu vi quando foi a Vivian, mas essa da Carol... Acho que tocou fundo nele, principalmente porque podia ter sido com ele...

Além das Pistas (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora