Cinco parte 2

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"Eu vou... Bem, vocês sabem..."- ele abaixou os olhos e sorriu envergonhado

"Vocês são irritantes juntos... Shippo!"- Paula falou de boca cheia

Fui até o banheiro e nos tranquei dentro dele.

"Notei seu olhar triste durante toda a ceia, mesmo enquanto ria alguma coisa te incomodava..."- se aproximou com cautela- "Eu fiz alguma coisa errada?"- perguntou temeroso

"Jamais!"- sorri de lado- "Na verdade, você foi quem me fez segurar as lágrimas!"- alisei meu braço, triste

"O que está impedindo essa coisa linda de sorrir?"- perguntou tentando me animar

"Saudades. Todo natal eu sinto essa saudade descabida dos meus pais, dos meus irmãos e até mesmo dos meus primos..."- sorri ao lembrar deles reunidos envolta da mesa retangular e grande da casa dos meus pais

"Querida..."- me abraçou e começou a acariciar minha cabeça- "É normal... Quero dizer, o Natal é a época mais familiar do ano e não estar com eles é de cortar o coração. Mas, vocês está cercada de pessoa que amam e isso é um presente do aniversariante de hoje!"- apoiei minha cabeça em seu ombro

"Eu vim para Recife assim que recebi o resultado da Universidade Federal de Pernambuco. Cheguei aqui e a primeira coisa que fiz foi raspar meu cabelo e mandar uma  foto para meus pais, eles surtaram"- sorri ao lembrar.- "Alguns anos atrás tudo o que eu queria era raspar um lado da cabeça, mas meus pais diziam 'é coisa de sapatão e eu prefiria ter um dedo amputado à ter uma filha que é uma coisa dessa', então raspar a cabeça foi uma comprovação da minha liberdade... Depois de um tempo percebi o quão confortável é não ter cabelo!"-  percebi que falava coisas sem sentido

"Não consigo imaginar você de cabelo grande!"- ele riu

"Minha família era unida."- fixei o olhar no nada lembrando do passado- "Apesar de tudo éramos unidos e a minha fuga destruiu isso... Eu sou a mais nova e fui a primeira a sair de casa, depois da minha fuga meu irmão mais velho veio atrás de mim, mas arrumou um emprego naquele hospital para gente rica e ficou. Um ou dois anos após isso o do meio se formou em Medicina, assim como meus pais e meu irmão, e também se empregou no Real Hospital Português"- respirei fundo.

"A culpa não foi sua!"- Dan alisou meu rosto

"Eu nem acabei ainda!"- reclamei- "Meu pai no começo mandava dinheiro para mim e quando minha mãe descobriu eles se divorciaram. Mamãe veio até aqui e tomou o carro que meus irmãos me deram, jogou ele contra um muro e por sorte não morreu, papai entrou em depressão, meus primos e tios me culpam por isso e meus irmãos brigaram entre si e passaram uns 6 meses sem se falar aí o do meio veio morar comigo no apartamento que o mais velho comprou para mim e o resultado foi: Renato parou de falar comigo e expulsou Marcos daqui."- sorri da sua cara de 'UAU'- "Não acabei!"- sentei no chão e fiz sinal para que ele sentasse

"Nossa, amor!"- ele soltou o ar como se estivesse cansado, mas continuou atento esperando que eu continuasse

"Depois tudo ficou bem por um tempo. Meus pais voltaram, eu, Renato e Marcos fizemos as pazes, eu retomei meu carro e meus familiares pararam  se meter nas nossas vidas. Mas, como nem tudo são flores Marcos, o do meio, teve que viajar para Dortmund a trabalho e os conflitos voltaram à tona, mamãe voltou a passar na cara a minha vinda para Recife, papai apoiou Marcos, Renato queria largar o emprego para fazer Artes Cênicas na Itália."- encostei a cabeça no ombro de Dan- "E foi aí que para menores danos desistimos de ser uma família. Papai se mudou para algum lugar dos Estados Unidos, mamãe em algum país da Ásia, meus irmãos na Europa e eu fui obrigada a me mudar para que ninguém  fosse me procurar no meu antigo apartamento na zona sul de Recife... Sinto falta de todos eles!"- deixei algumas lágrimas escorregarem até seu ombro largo e confortável

"Posso falar sobre minha família?"- concordei para sua pergunta- "Para falar a verdade eu não lembro da minha mãe... Fui criado pelo pai e por uma tia que até agora tenho certeza que ela seria capaz de matar meu pai enquanto eu era menor de idade para que ela pudesse assumir a Kukao's"- ele riu e eu pude sentir um tom melancólico- " Enfim, completei 18 anos e entrei na faculdade cursando jornalismo, meu pai me deu um carro do ano e  foi aí que ganhei apelido de filhinho do papai. Eu namorava com uma menina da minha sala e ela espalhava boatos sobre os negócios do meu pai, sem eu saber... Então eu fingi que ia pedir ela em noivado e no meio do pátio da faculdade armei um show de luzes e imagens das irmãs dela vendendo coisas no sinal... Ainda não entendo o problema disso, mas como ela se importava eu fiz e desse jeito terminei o namoro com ela!"- ri

"Desculpa, Dan, mas isso foi engraçado. Aliás, essa menina é a Larissa, não é!?"- ele confirmou e eu ri

"Ela é muito idiota!"- falou com nojo

"Ainda bem que agora você namora uma pessoa que presta!"- levantei para em seguida  sentar em seu colo

"Antes de realmente começarmos o namoro eu preciso te informar sobre uma coisinha que pode fazê-la desistir de tudo e de mim..."- ele respirou fundo

"Eu duvido, mas pode falar!"- dei um selinho nele

"Quando meu pai morreu eu herdei..."- coçou a garganta como se as palavras cortassem-na e continuou: - "Eu herdei todo o seu negócio no tráfico..."- ele cuspiu as palavras rapidamente e eu arregalei os olhos

"Você o q-que?"- tossia compulsivamente

"Papai era o Pop Man e agora eu sou também!"- quem pode ser mais sortuda que eu? Não sei, mas cair de bandeja nas minhas mãos o Filho do Tráfico só pode ser sorte...(irônia)

"ME AJUDA!"-puxava o ar desesperada em uma tentativa de saciar meus pulmões ávidos

"Respira!"- ele fez algo parecido como respiração boca a boca, mas parecia mesmo um beijo desesperado com gosto de arrependimento e lágrimas- "Desculpa, eu te amo!"- ele beijou minha testa, abriu a porta e saiu correndo como um covarde, enquanto eu encostada na parede respirava com certa normalidade

"O que aconteceu aqui?"- Mila entrou desesperada- "Você está bem?"- pegou minha bombinha de asma- "O que ele fez com você?"- sugava o ar como se estivesse morrendo, mas sabia que era apenas a asma atacando em mais um momento de preocupação e nervosismo

"E-estou bem, mas preciso saber onde o Dante está..."- sussurrei

"Acho que ele saiu. Vi um vulto nas cores das roupas dele passando como uma bala até a porta."- ela estendeu a mão para mim

Levantei e corri até a porta que estava escancarada.

"Você não vai sair de casa. Eu te achei no banheiro quase morta provavelmente por alguma coisa que ele fez ou disse e eu não sou responsável o suficiente para não te deixar fazer isso, portanto trate de ir tomar um banho quente e depois ir deitar!"- revirei os olhos, mas segui suas instruções por uma coisinha básica chamada Estado de Choque

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Notas finais:

Ihhhhhhhhh! O namoro perfeito está na beira do precipício...

Autora fala:

Gente, eu juro que esses capítulos deveriam ter saído na véspera do Natal, mas hoje (28/12) foi o dia no qual pude colocar minha criatividade em harmonia com minhas atividades, ou melhor, com a falta delas.

Confira tudo sobre esse casal nos próximos capítulos de Amor Quimérico!

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