Eu caí. Ok, talvez tu tenha me empurrado. Ou, eu mesma tenha me jogado depois de ver o teu sorriso. O fato é, eu caí. E a queda foi longa, demorou, quase como Alice caindo pelo buraco. Lembro de borroes da queda, lembro do teu sorriso e teu olhar enquanto eu caía. Tenho alguns arranhões por ter tentado me agarrar ao chão, e mais ainda dos arbustos espinhosos que me esperavam no abismo quase sem fim. Mas enfim cheguei ao chão, caí e aceitei a queda. Não nego, doeu, doeu ao sentir o impacto, senti meu corpo em chamas, dolorido, minha mente assustada por onde fui parar. Doeu. Doeu sentar-me ao chão e notar que tudo estava escuro, doeu perceber que eu estava sozinha. Me escorei ao canto, os joelhos em meu peito, assustada.
Chorei.
Chorei por ter caído, me almodiçoei por ter feito isso sozinha. Meus olhos não enxergavam esperança.
Era tão escuro.
Mas então eu olhei para cima, uma pequena claridade chegava aos meus olhos. Pisquei.
Seriam seus olhos?
Então, creio que tenha sorrido, pois iluminou toda a escuridão. Você, lá do alto, na ponta do penhasco, sorrindo, fez toda luz chegar a escuridão onde me encontrava. Você estava olhando para baixo.
Pode me ver?
Tu olhava assustada, hesitando, pensando em se jogar, talvez. Com medo, medo de se machucar. É, cair pode doer. Então me levantei, olhando ao redor, andando de um lado para outro. Arranjei Travesseiros, colchões, trampolim. Tudo. Coloquei todos ao redor. Escalei as paredes, arranquei os arbustos, desculpe se ainda ficaram alguns. Mas fiz meu melhor. Fiz fogo, tirei do meu próprio peito, iluminei o resto da escuridão.
Não se engane, não fiz por mim.
Foi por você.
Ajeitei tudo, tudo para quando decidir se jogar. Não se preocupe, não irá se machucar. Ok, talvez tenha alguns arranhões, mas juro que a queda será suave, e o impacto macio ao sentir o colchão.
Ou seriam minhas mãos?
Ainda vejo seu sorriso e seu olhar indeciso, mas não se apresse. Já me acomodei, estou aqui embaixo, deitada entre lençóis suaves, colchões macios e confortáveis. Ainda encaro seu sorriso, mesmo de longe, e ainda me hipnotizo pelo teu olhar.
Ainda espero sua queda.
Ainda espero que ela irá chegar.
Não se preocupe, eu consigo te pegar.
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Poemas Líquidos.
PuisiPoemas Líquidos são poemas inconstantes e incertos, que costumavam fluir pela minha mente. São poemas (e textos) de sentimentos confusos e voláteis.