2° Conto - O último andar

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Em uma noite chuvosa, na cidade de Nova Iorque, um homem de meia idade caminhava pelas vielas até chegar ao seu trabalho. As ruas estavam bem enfeitadas com as cores natalinas e os pisca-piscas iluminava a cidade, porém as ruas estavam vazias, pois era véspera de Natal.

Senhor Turner tinha um emprego um pouco ingrato, ele trabalhava como segurança do Empire State e seu turno começava às nove horas. Todos festejavam no calor de suas casas e famílias, e ele, por outro lado, irritado e com bastante frio (e molhado para variar).

"Boa noite", cumprimentou o outro segurança que estava na portaria e seguiu rumo aos seus afazeres costumeiros. Após duas horas escutou um choramingo baixo vindo perto do elevador do 3º andar. O corredor estava bem iluminado, então o Sr. Turner conseguira ver uma garotinha de pele muito pálida e cabelos vermelhos cor de fogo.

Ela se encolhia atrás de um jarro de plantas e quando o segurança chegou a garotinha começou a chorar. Om bastante calma, Sr. Turner a envolveu com seu paletó, já que era uma noite bastante fria, e voltou o seu olhar para ela. Tinha os olhos castanhos, usava uma roupinha azul claro e uma sapatilha. Para o segurança ela deveria ter seis anos.

"O que houve garotinha? O que você faz aqui?", então a menininha olhou para o Sr. Turner e não disse nada. Contudo, seu choro cessou.

"Onde está sua mãe? Hoje é Natal, não deveria estar aqui" e, para a surpresa do segurança, a menininha apontou para o elevador. "Você quer ir para onde?"

E, com uma voz bem baixinha que arrepiou seu corpo, a garotinha respondeu: "Casa".

"Mas...aqui não tem casa", tentou explicar. "Onde está sua mãe?" E, insistindo, a menina apontou para o elevador, respondendo: "Casa! Casa!"

O segurança já estava com a paciência esgotada, então levantou-se e abriu o elevador. A caixa de aço era levemente assustadora quando não havia ninguém dentro e ainda mais naquela noite sombria, todavia Sr. Turner conhecia aquele prédio como ninguém, portanto já estava acostumado com aquele elevador assustador. A garotinha entrou e o segurança mostrou o painel. "Qual é o andar da sua casa?", perguntou ironicamente e ela respondeu, sem pestanejar: "O último".

Em seus pensamentos, Alan achava que a garota tola e maluca, pois sabia que o último andar era o andar que ficava as máquinas. "Como queira", concluiu e apertou o botão 102.

O silêncio mórbido tomou conta do ambiente. Foram os minutos mais agoniantes da sua vida, porque ele não fazia ideia do que faria com aquela garotinha e ela não devia estar naquele prédio. Não no turno dele. Aquilo iria arruinar o seu emprego.

Então, de repente, há um solavanco e as luzes piscaram. Sr. Turner olhou o painel e percebeu que a luz vermelha brilhava no número 66. "Ninguém merece", resmungou e prontamente pegou seu rádio para se comunicar com os outros seguranças.

"Brian? Peter? Alex? Alguém na escuta? Câmbio", mas o único som era de um ruído incessante. Ele estava preso no elevador na véspera de Natal com uma garotinha totalmente estranha, nada poderia ser pior.

"Meu nome é Sky", disse de repente a garota que estava sentada brincando com a poeira. "Qual é o seu nome?"

O segurança sentou-se ao seu lado, colocou o walkie-talkie no chão e encostou suas costas exaustas na parede fria do elevador. "Me chamo Alan", esticou seu braço e apertou, delicadamente, a mão da garota. "De onde você é?", perguntou e Sky tamborilou com seus dedos o chão. "Sou daqui".

"Manhattan?", insistiu o segurança, mas ela respondeu prontamente: "Daqui". E apontou para o elevador. "Eu nasci aqui dentro, foi o que minha mãe disse".

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