Capítulo 6

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Os dias que passaram depois de ter encontrado Maya, foram os mais difíceis para mim. Olhava a nossa foto todo o tempo.

Era incrível como algumas coisas não mudam. Sua mesma expressão concentrada com o olhar perdido na mesa, enquanto eu conversava com sua filha.

O mesmo sorriso nostálgico.

O mesmo olhar expressivo.

O mesmo batuque em meu coração.

O mesmo amor de sempre.

Sabia que precisava encontrar com ela.

Havia muito a ser dito.

Não conseguia acreditar que ela ficou com outro cara tão logo depois de termos terminado. Sempre dizem que as mulheres demoram mais para entrar em uma relação depois de um termino, mas, pelo visto, ela foi buscar consolo da mesma forma equivocada que eu.

Talvez, quisesse me esquecer com um novo alguém.

Mas a pergunta que não quer calar, é:
E se ela tiver conseguido?

Observei bem suas mãos. Sem aliança, ou qualquer marca que ela possuía uma. Mas existem homens que não são presos a esse tipo de convenção.
Se bem que, por ela, eu usaria a mais grossa das alianças, apenas para que ela usasse uma também. Não que eu não confie nela, longe disso. Mas porque eu queria que todos soubessem, que eu havia tirado a sorte grande. Que tinha algo melhor que ganhar na mega acumulada.

Eu tinha ela.

A mais incrível mulher que conheci.
Saindo do mundo ideal, onde eu a tinha em meus braços, e indo para um mundo real, onde ela estava aí a mercê de qualquer idiota. O mundo real, onde ela desapareceu, depois de acender faíscas de esperança em meu coração.

O mundo sombrio e doloroso onde eu acordava todos os dias sem ela.
O mundo ideal, é realmente o melhor lugar para se estar.

–Nada ainda, Davi – O detetive que contratei para encontra-la falou assim que atendeu – Me ligar a cada dez minutos não vai fazer com que ela entre em meu radar. Tenha paciência – Concluiu.

–Ok – Respondi resignado – É que... Isso é muito importante para mim.
Depois de mais algumas informações passadas, desliguei.

Não que eu seja um perseguidor maníaco, que coloca um detetive atrás de alguém. Embora pareça muito isso. Mas, se ela queria que o destino nos ajudasse, e já havia chegado a conclusão que o destino me odeia, eu podia dar uma ajudinha favorável a meu favor dessa vez, não é?
Afinal, uma mão lava outra. Já dizia o Castelo-ra-tim-bum.

Pensar que ela podia morar a duas quadras de mim, era absolutamente angustiante. Ouvi a porta se abrir, e percebi o quanto as horas já haviam avançado. A horrenda entrevista com o “Me conta” começaria a qualquer momento.

–Ei, cara! Chegamos – Ouvi Enzo gritar, seguido de várias vozes falando ao mesmo tempo. As garotas riam, enquanto os caras pareciam disputar alguma coisa. Desci as escadas encontrando meus amigos.

–Parece que até mesmo quando o programa é na sua casa, você consegue se atrasar – Lara falou rindo, mas não dei atenção. Malu vinha da cozinha com Alex e Miguel trazendo algumas latas de cerveja, refrigerante e petiscos.

–Alguma novidade? – Miguel perguntou entregando uma latinha para mim.

–Não cara – Suspirei – É como se o chão tivesse se aberto, e ela sido engolida por ele – Passei as mãos pela cabeça dando um gole na garrafa que meu amigo havia me oferecido – Eu queria ter a oportunidade de falar novamente com a filha dela – Sentei recostando minha cabeça no sofá, e olhando fixamente para o teto – Eu sinto que conheço alguém muito parecido com aquela menina, mas não sei quem é!

Alguns segundos de silêncio pairaram sobre nós.

–E sabe o que mais me irrita? – Perguntei, mas nem esperei a resposta para continuar – Ela não esperou nada pra ficar com outro cara, sabe? – Balancei a cabeça em negativa – Um dia ela me ama, e no outro está tendo um filho de um qualquer.

–Eu não aguento com isso – Malu se manifestou – Como você é burro! – Praticamente gritou em minha direção.

–E eu posso saber o que fiz agora? – Perguntei com cenho franzido.

–Aí meu Deus! Como você não vê o que está na sua cara? – Lara se levantou indo parar ao lado de Malu que estava atrás do sofá vermelho a minha frente.

–Melhor vocês não falarem nada, não sabemos o que...

–Não falarem o que? – Perguntei levantando-me. Estava irritado de tentar imaginar o que poderia estar por trás desse segredinho deles. Caminhei em direção as garotas, ouvi o interfone soar, não precisei ir ver quem era, pois Enzo se adiantou.

–Isso – Malu virou o celular em minha direção.

Eu conhecia aquela foto.

Aquele era eu, com meus cachos soltos caídos pela testa, tocando uma guitarra imaginaria, enquanto Enzo tocava algumas latas de leite como se fossem uma bateria. Usava os palitos de cabelo de sua mãe como baqueta.

–Esse sou eu! – Falei o obvio – Essa foto saiu naquela revista de...

–E não tem ninguém que você ache parecido com você nessa foto? – Lara interrompeu impaciente.

Olhei para a foto e lembrei da pequena a minha frente comendo. Os mesmos cachos, o mesmo tom de cabelo.

Peguei o celular rapidamente de sua mão, enquanto olhava incrédulo para todos os outros que estavam na sala. Eu não podia acreditar que aquela garotinha...

–Desde quando vocês... – Não consegui finalizar a frase. Minhas pernas pareciam não conseguir mais sustentar o peso do meu corpo, e caí sentado no sofá.

–Assim que você mostrou a foto – Alex respondeu – Ela é a sua cópia quando criança.

Eu não conseguia acreditar em como não percebi a semelhança antes.
Mas antes mesmo que conseguisse registrar todas as informações em minha mente, Enzo abriu a porta, e o mais improvável aconteceu.

–Davi – Aquela voz que eu tanto ansiei em ouvir soou em meus ouvidos –Precisamos conversar – Maya completou com o rosto banhado em lágrimas.

Depois do Fim [Hiatus]Onde histórias criam vida. Descubra agora