31 de dezembro, 07:30

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Casa, viagem, vó, casa, Duca. Casa, viagem, vó, casa, Duca. Casa, viagem, vó, casa, Duca. Casa, viagem, vó, casa, Duca. Casa, viagem, vó, casa, Duca. Isabela repetia essas informações para si mesma enquanto seu pai dirigia pela BR 123 que ligava a capital a pequena cidade de Vila Boa. Seus dedos batucavam contra o couro do banco do carro transmitindo sua inquietação perante aquelas próximas horas.

O ano para Isabela havia passado rápido, era como se tudo estivesse colaborando para ela voltar a Vila Boa. Seus pais sempre passavam o final de ano na casa de seus avós e desde pequena Isabela havia aprendido que a família sempre vinha em primeiro lugar, então não importava se você teria uma grande festa de ano novo em um super hotel magnífico a beira mar com seus amigos, não, você tem que esquecer o hotel, fazer suas malas e entrar em um carro por cinco horas em direção ao interior da casa de sua avó.

-Se você não parar com isso eu mesma te jogo do carro. - Fernanda ameaçou sem desviar o olhar do celular, Isabela revirou os olhos mostrando discretamente o dedo do meio para a irmã mais velha, porém o gesto foi percebido por Paula, sua amável mãe lhe jogou um pedaço de papel amassado lhe acertando o rosto.

-Olha os modos, Isabela. - ela rugiu. Isabela deu de ombros e voltou o olhar para a janela.

-Falta muito para chegar? - Henrique indagou batendo os bonequinhos de ação um contra o outro, Isabela sabia que o Capitão América logo perderia um dos braços por culpa de seu irmãozinho.

-Apenas mais duas hora. - Tiago falou, o “chefe” daquela pequena família , já havia sido pego pelo tempo há algum tempo, os fios de cabelo branco que antes podiam ser disfarçados facilmente, agora brilhavam com os raios de sol que atravessavam o vidro do carro.

Isabela olhou para o pequeno Henrique, o futuro da família estava nas mãos gordurosas e rechonchudas dele. Sabia que aquela viagem não era apenas para rever seus avós ou matar a saudade deles, isso era uma mentira deslavada que sua mãe havia contado para todos os seus vizinhos um pouco antes deles saírem, a verdade era que, Paula queria esfregar na cara de todas as suas irmãs e irmãos que Henrique havia conseguido uma bolsa em uma das melhores escolas de todo o país. Todo mundo sabia da briga dos Freitas para saber quem era o melhor, Paula se localizava na última posição, ela estava em quinto, porém com a recente desistência de Fernanda da faculdade de medicina, ela havia sido enxotada para o sétimo lugar.

Isabela sabia que sua família era um pouco competitiva, principalmente sua tia Carola, ela havia se casado com um empresário japonês e parecia fazer questão de esfregar aquilo na cara de Paula nos últimos 20 anos. Isabela não suportava a falsidade e arrogância da tia, porém, tudo ficava pior quando os filhos dela apareciam. Tiko e Teiko eram os gêmeos mais insuportáveis que ela já havia tido o desprazer de conhecer, os olhos puxados e o queixo fino, realçavam a postura metida deles.

-Quando eu vou poder voltar pra casa? - indagou, seu pai a olhou pelo retrovisor.

-Amanhã.

-Mas eu havia prometido que ia passar o ano novo com Duca e Mari. - disse.

-Você sabe que não devia ter prometido isso. - Paula falou esticando a mão e ligando o rádio, Isabela bufou. O rádio chiou até sintonizar em alguma estação local. - Tiago liga o ar. Tá muito quente aqui.

-Mas ele tá ligado.

-Não tá não. - Fernanda resmungou abrindo a janela do seu lado para receber o vento vindo de fora, Isabela fez o mesmo do seu lado, Henrique gritou chocando seus bonecos um contra o outro, o rádio voltou a chiar, Paula bateu no painel bufando irritada, Tiago pisou no acelerador, porém o carro começou a diminuir a velocidade.

-Por que estamos parando? - Isabela indagou olhando de canto de olho para o pai.

-Não estamos parando. - Tiago disse girando o volante e indo para o meio fio, apenas deu tempo de sair do meio do tráfego para o carro morrer de vez e a fumaça começar a sair do capô. - Saiam daqui.

Isabela abriu a porta e se voltou para Henrique o tirando da cadeirinha, mas foi Fernanda que o tirou do carro.

-Isso só pode ser zoação. - murmurou olhando desesperada para sua mãe.

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