Quem eu não sou

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Eu não sou mais a mesma garota inocente que você conheceu. Não sou mais aquela que se apaixonou por você num piscar de olhos. Que riu de todas as suas piadas horríveis, extremamente parecidas com as que eu sempre faço. Eu não sou mais a chata que só falava de signos, e que te enchia o saco com esse assunto. Também não sou mais tão revolucionária, nem acho que vou mudar o mundo com minha meia dúzia de amigos.

Eu não acho mais que você era fria. E entendo que minha forma de amar não é única correta nesse mundo. Hoje eu entendo o que te levou a se retrair, mas continuo sem entender o que deixei de fazer pra você não ter me percebido. Eu não tenho mais medo de mudar, de viver. E acho que devo um pouco disso à você. Eu sou uma pessoa completamente diferente daquela que você conheceu. Mas o meu novo eu ainda ama você.

Agora eu gosto de cerveja e amo animais, especialmente cachorros. Hoje eu não tenho mais vergonha de assumir quem sou e continuo adorando fotografia. E sim, ainda amo Harry Potter como se tivesse 12 anos. E eu adoraria ter ido ver Animais Fantásticos e Onde Habitam com você. E te comprado uma camiseta da Grifinória. Apesar de você saber minha opinião sobre essa Casa.

Eu sinto saudade de passar horas conversando contigo sobre os assuntos mais aleatórios dessa vida. Sobre a vida. Sobre como ela é efêmera, sobre como nós podemos ser o melhor do melhor e o pior do pior. Sobre amor. Sobre morte. Sobre nós. Sobre quem seremos. Quem fomos. Eu ainda tento imaginar como é o gosto do seu beijo. E acredite você ou não, eu ainda lembro do seu cheiro. E eu guardo todos os detalhes da primeira vez que te vi. Teu cabelo, a roupa que você estava usando, do teu sorriso e de como seus olhos diminuem quando ele aparece. Do seu olhar de canto de olho. Isso é absolutamente torturante. Eu choro, noite sim, noite não, por ter deixado me levar pelo impulso. Pelo momento. Mais uma coisa que você deveria saber sobre o novo eu: ele é bem mais racional.

Talvez você não acredite que alguém possa mudar tão radicalmente em tão pouco tempo, mas só eu sei o que foram esses últimos meses. Todas as coisas que tive que aprender e reaprender, todas as coisas que tive que esquecer. Tudo o que escolhi deixar pra trás e o que decidi que serei daqui pra frente. E de todas as mudanças, você é única que eu queria de todo o coração que nunca tivesse acontecido. Você talvez não seja mais a mesma. Tenho quase certeza que não é. Mas eu sei que teria aprendido a amar todas as suas mudanças, assim como amava cada pequeno detalhe seu. A colisão de nossos universos liberou mais energia que uma supernova. Nosso contato reverbera dentro de mim até hoje.

Você sabe que eu sou capaz de me apegar e de esquecer com a mesma rapidez. Mas você também sabe que eu só esqueço quando não sinto mais nada. Eu não consigo cortar laços que pra mim ainda estão vivos. Vivos e pulsantes, vivos e imprescindíveis. Ligações mais necessárias que a própria ligação umbilical. Ligações de alma.

O que eu sinto por você é algo que eu nunca experimentei com alguém em toda a minha vida. A ligação que eu tinha com você nunca precisou de um toque, de um beijo ou de um sexo pra ser real. Claro que eu ainda quero te beijar, te tocar... Mas sabemos que o sentimento foi anterior a tudo isso. E ele não precisou de mais nada pra se manter vivo por todo esse tempo.

Eu teria sobrevivido e superado, talvez, se a última frase que disseste para mim não tivesse sido "eu te amo". E sempre que revivo aquele momento, caio em prantos. Não consigo te esquecer. Eu não consigo me relacionar com mais ninguém porque eu estou presa a ti. Todos os dias eu rogo – não sei pra quem ou que – para que não seja tarde demais. E para que um dia a gente se reencontre. Pois me recuso a admitir que és meu amor impossível. Não. Você é meu único amor, e ponto final. 

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