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Pequeno plano...

Thomaz

Eu adoro acordar cedo. Principalmente depois de uma noitada daquelas na qual eu fiquei com um monte de garotas lindas e nada broxantes. O que não é verdade. Não que eu esteja procurando alguém. Isso ainda está fora de contexto para a minha pessoa. Mas ficar com várias pessoas já está ficando cansativo. Mas até que mudar um pouco a rotina não faz mal. Se eu quiser arrumar uma namorada que me satisfaça, eu arrumo. Mas do jeito que a mulherada está hoje em dia, essa tarefa fica um pouco mais difícil. De me fazer de escravo já basta dona Amandah, minha mãe adorável.
O peso da perna de Matt sobre a minha coxa fica desconfortável cada vez mais que eu penso. Sou obrigado a tirá-la o mais rápido possível. Por que estou pensando nisso? Não quero me meter numa prisão sentimental desse tipo. A vida é só uma. Temos que aproveitá-la de qualquer jeito, não é? Um relacionamento meloso não chega a ser uma curtição. Bem, só se a ninfomanía domina em ambas as parte. Transar a qualquer hora, em qualquer lugar deve ser muito louco. Fora isso, namoro e casamento são uma completa perda de tempo.

O amor não existe.

- Ei, vocês viram o áudio que a Stacy mandou no grupo ontem de madrugada? - Matt pergunta para nós dois. Me chamam várias vezes de popular... Não vejo isso em mim apesar de eu pegar um monte de garotas lindas. Ser o filho da diretora é um rótulo que demonstra muita coisa. Ser riquinho é uma delas. Mas não sociável.
Eu conheço muitas pessoas, mas nenhumas delas conseguem ser tão amigas quanto o Josh e o Matthew. Por isso eu prefiro andar só com eles.

- Aham. E você, Thom?

- Vi. Só que a minha mãe veio grilada achando que eu estava vendo pornô lésbico.

- Nossa, cara, tenso - Matt toca no meu ombro, o afagando.

- Por um lado, isso não é mentira. Todos nós sabemos que você ama ver uma tesoura. - Diz, imitando o objeto com ambas as mãos. Ele consegue ser bem infantil quando quer, esse idiota. Dou um tapão em sua cabeça, que o faz soltar um grito fino. - Pra quê tanta violência, rapaz?!

- Para você parar de ser imbecil, imbecil.

*

Bem, até que o intervalo foi legal... Até a minha mãe cortar o meu barato por completo. Ela sempre vem com a droga desse papo politicamente correto que não é de suma importância para mim. Ela sabe muito bem como eu sou, e que não vou mudar de uma hora para outra. Não sou o "menino de ouro" da família, não é agora que vou ser. Ela é quem deveria se tocar para isso e não eu.

No carro, ela continua falando a mesma merda que estava cacarejando no pátio do colégio enquanto me matava de vergonha. Sabe quando sua mãe começa a fazer uma coisa constrangedora justamente na frente de alguém que você gosta? Então, ela fez isso. Só que não frente de toda a escola. E de brinde, fui levado à puxões de orelha até à sua sala na diretoria. O povo vai comentar sobre isso por uma eternidade. Por causa dessa palhaçada vou ter ficar com a minha cara enfiada no chão por um bom tempo. Contudo, Ashley Baker irá me pagar caro por isso.

- Ai, mãe, será que dá para parar de falar sobre isso por pelo menos uma hora? - Insisto mesmo sabendo que não vai adiantar porra nenhuma.

- Eu vou continuar jogando as verdades na sua cara, sim. Acha mesmo que você é o certo da história? - Aperta o volante com mais força, deixando os seus dedos brancos. - Por que você não me ouve e deixa Ashley viver a sua própria vida em paz? Filho, o que ela te fez para brigarem tanto? Poxa, vocês eram tão grudados na infância... O que aconteceu?

Cruzo os braços, desviando o olhar para a paisagem externa do carro, evitando continuar essa maldita conversa. Não gosto de falar sobre nós dois, de como era a nossa relação quando éramos mais novos, de como sempre ignorávamos o futuro e suas possíveis consequências. Acho que a vida está me fazendo pagar caro por isso. Que tipo de idiota ignora a própria vida adiante? Isso mesmo, eu.

Mas não fui o único a me ferrar. Por esconder tanta coisa de mim, Baker está pagando muito caro pelas suas merdas. Eu não estou diferente dela. Mas pelo menos, eu não escondo as coisas dos amigos. Bem... Se ela me considerava um amigo.
O borrão das casas se tornam cada vez mais denso. Estamos chegando em um pequeno condomínio de classe média alta que eu chamo carinhosamente de lar. Paramos na frente de um sobrado verde e branco. Sua estrutura é forte, de concreto. Seu jardim um dia foi cheio de rosas e até magnólias. Mas eu nunca tive interesse por jardinagem, e agora ele está essa bosta. Sem vida e sem cor. Somente a grama é aparada e bem verdinha; só mais um de muitos charmes da nossa belíssima moradia.

A porta é aberta, revelando a casa completamente vazia, silenciosa, monótona. A mesma coisa de sempre. Nunca pensei que eu não pudesse me importar com a ausência do meu pai. Não que eu goste de contar sobre ele. Eu simplesmente não me importo. Meu pai abandonou a minha mãe assim que soube que ela estava grávida de mim. Disse que ia sair para arrumar um emprego no centro da cidade, mas sumiu. Foi embora sem deixar rastros, sem deixar nenhum recado. Esse é o principal motivo que faça eu o odiar por completo.

Eu só quero que ele morra. Bem... Se esse maldito já não estiver morto. Pelo menos a sociedade se viu livre de mais um verme.

Nem falo nada com a minha mãe. Subo a escada de dois em dois degraus e vou direto para o meu quarto. Fecho a porta com tudo, fazendo com que as folhas da minha escrivaninha saiam voando pelo ambiente até pararem no assoalho de madeira.
Bufo, com raiva. Não gosto de relembrar o passado de uma maneira repentina. Muito menos de pensar naquela Baker. Ela só foi um peso grande para mim. Quase fez as pessoas se afastarem de mim, com repulsa. Se há nove anos atrás eu soubesse melhor sobre a sua vida, eu não teria me envolvido com ela. Nojo.

Eu tenho raiva dela por quase ter me tornado uma pessoa estranha aos olhos de todo mundo naquele colégio. Quase que as minhas amizades, minha reputação foram por água abaixo justamente por causa da Baker. Eu queria fazer algo com ela. Uma coisa para aquela garota se lembrar de com quem está lidando. Vou fazê-la se tornar algo mil vezes mais sujo do que a própria sarjeta.

Uma luz no fundo do meu cérebro acende, me trazendo uma ideia genial à tona. As lembranças do meu bico como fotógrafo me vêm à cabeça, claras como a água.
Sorrio, animado com o que os meninos e eu vamos fazer. Levanto, tirando o meu celular do bolso e procurando a câmera.

- Oi, Thomaz. Tá legal? Sua mãe não te estapeou, não, né? - Josh atende, mostrando claramente que está de boca cheia.

- Não, fica tranquilo. Mas eu te liguei para te falar algo importante.

- Desce a letra.

Penso bem. Se eu tentar falar alguma coisa agora, minha mãe ouviria e estragaria completamente os meus planos. Então, a minha única estratégia, é criar uma desculpa esfarrapada na qual ela possa cair.

- Na verdade, eu não posso falar agora. Só queria que você ligasse para o Matthew. Quero falar isso para vocês pessoalmente.

- Tá. Mas que merda vocês está tramando, cara?

- Depois eu te falo. Só ligue para o Matthew. Vamos nos encontrar na sua casa hoje, às dez em ponto. - Desligo o celular, sem dar mais nenhuma chance para Josh protestar. Como os seus pais viajaram a trabalho ontem, vai ficar mais fácil para concluir a minha ideia sem interrupções e imprevistos.
Sim, aquela garota vai me pagar caro por tudo que me fez. Por quase ter me levado ao precipício junto com ela. Eu não sou do tipo de pessoa que vai à queda de uma hora para outra. Eu não sou um lixo reciclável como certas pessoas.

Ashley Baker vai me pagar caro por quase ter me levado à ruína.

CHAOS - HATE OPERATION [EM HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora