Capítulo 02 - Encontro Desastroso

372 39 7
                                    

Acordar com o barulho das buzinas dos carros e as freadas dos pneus faz parte da minha rotina. Morar em um bairro nobre de São Paulo, não me impede de ter que lidar com o estresse do trânsito pesado, na minha própria cama. Na cobertura parece que o som se intensifica e o fato de deixar as portas de vidro da suíte – que dão acesso à piscina – abertas, facilita a entrada dos sons. Contudo, acordar sentindo os raios solares – melhora meu astral.

A cobertura tem tudo o que eu preciso, depois de anos de trabalho eu mereço um pouco de luxo. Não foi sempre assim, apesar das pessoas olharem para mim e acharem que me é fácil encarar os problemas da vida. Precisei passar por vários obstáculos para chegar onde estou. Hoje posso escolher o melhor de tudo: moradia, alimentação, roupas, carros e até mulheres. Tenho qualquer uma aos meus pés.

Levantei-me e senti o corpo reclamar, fui dormir depois das três horas, preciso me controlar e só sair para as baladas aos finais de semana. Fui ao banheiro e fiz a higienização matinal. Vesti meu short, camiseta regata, calcei meu tênis, peguei meus óculos de sol, "iPhone", fones de ouvido e desci até a cozinha.

— Bom dia, Cida — cumprimentei minha assistente. — Cida, tem 45 anos, estatura baixa, uma expressão sofrida, há três anos comigo. Fui à cafeteira, escolhi o sachê do café, abasteci a máquina e liguei-a. Enquanto enchia o copo descartável, perguntei a ela:

— Está tudo em ordem por aqui? Aconteceu algo diferente do habitual?

— Bom dia, Sr. Bryan. Está tudo em ordem sim, graças a Deus, nada fora do normal aconteceu enquanto o senhor estava fora.

— Que bom. Tenha um ótimo dia. — Bebi café e saí para a corrida matutina. Peguei o elevador privativo, para não precisar cruzar com ninguém, não estava num bom dia – não queria aturar puxa saco logo no início do dia. Ao passar pela portaria saudei o porteiro, procuro ser educado com as pessoas, porém, algumas, se eu abrir a boca para dizer bom dia, é a entrada para elas não pararem de falar. Eu realmente não quero falar com ninguém.

Minha cabeça está um turbilhão, nunca me senti tão sozinho em toda a minha vida. Estou acostumado a controlar tudo – às pessoas ao meu redor me obedecem – eu pago um bom salário a elas. Quem não se submete a mim por trabalho o faz por sexo. Cuido muito bem da minha saúde, do corpo, com 39 anos coloco muitos garotos no bolso. Minha posição social ajuda bastante, mas quando me olho no espelho vejo que à natureza foi muito amável comigo. Os olhares das mulheres, quando me veem, comprovam que sou beneficiado pela genética.

Por que então não me sinto completo? Tenho tudo nas mãos. Colocar outra mulher em minha vida? Talvez? Não... Nunca mais.

Moro próximo ao Parque Ibirapuera, um benefício, por ser um dos principais pontos de São Paulo, o mais importante parque urbano da cidade. Sempre bem cuidado, com várias espécies de árvores, transmitindo paz – no meio do caos. Gosto de São Paulo me proporciona todas as facilidades possíveis. Tenho o mundo em minhas mãos. Minha empresa está situada na Av. Paulista – coração da economia da América Latina. Porém, é complicado ter qualidade de vida, poluição, muita gente e o trânsito caótico. É importante ter tempo na parte da manhã para correr no parque, um lugar para repor as energias e me preparar para o estresse do dia.

Coloquei os fones de ouvido e comecei a correr... Vou aumentar a velocidade, hoje, preciso colocar para fora toda essa tensão do meu corpo. Acho que vou à academia fazer aula de boxe. Tenho que descarregar isso de algum jeito.


Já de banho tomado entrei no closet, fiquei observando a variedade de roupas e acessórios que tenho ao meu dispor. Vejo que cheguei ao topo! E mesmo assim estou vazio.

Um Recomeço - #1 Trilogia Recomeço |DEGUSTAÇÃO|Onde histórias criam vida. Descubra agora