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Daniel:

O colégio Manchester costuma premiar os dois melhores alunos do ano com uma viagem ao Sea World e eu ansiava muito por aquele prêmio, eu precisava saber que todo o pesadelo do ensino médio havia me rendido algo bom, mas infelizmente, o meu acompanhante era não apenas inesperado, mas indesejado.

- Sério? Tenho que ir com aquele cara? – Reclamei.

- Sim filho ele só vai te acompanhar. Olhe você estudou muito e ganhou uma viagem. Merece isso!

Respirei fundo olhando para minha mãe e em seguida pra minha irmã que parecia interessada em estar no meu lugar.

- É sério irmão, você vai perder aquele gatinho acompanhando você? – Eliza minha irmã indagou com um sorriso.

- Não enche. – Respondi olhando-a com cara feia.

- Vai ser legal filho. – Minha mãe insistiu.

- Tudo bem... Eu vou.

*****

- Pai, aquele garoto me odeia! – Disse Tadeu.

- Você só vai acompanhá-lo, só isso.

- Pai, eu sei que o senhor só quer ver a gente junto. – Disse Tadeu.

- Vai ser divertido – Disse Makena.

Embora todos os meus esforços para evitar a presença do rapaz, eu não tinha escolha e eu não ia desistir da viagem dos meus sonhos por causa daquela companhia indesejada.

*****

Minha rejeição a presença do Tadeu não era sem motivo, mas minha mãe não sabia disso. Ele era um dos mais populares da escola e em certa ocasião esbarrou em mim me derrubando no corredor, eu fui vaiado por metade da escola, tive meus livros e cadernos derrubados no chão e ele sequer pediu desculpas ou me ajudou a me levantar e recolher minhas coisas.

Talvez ele fosse preconceituoso demais para falar comigo na escola, ser bissexual ainda é complexo, mesmo no século XXI e o fato de ele ser lindo, não me fazia se render aos pés dele como todos por onde ele passava, contudo, não nego sua exuberância marcada pelo cabelo perfeito, corpo atlético e sorriso magnífico, mas eu não era tão superficial e era isso que me diferia de toda aquela corja da escola.

Tadeu era o típico garoto do último ano do ensino médio que apenas esnoba quem passa pelo seu caminho porque não vê a hora de sair do colegial. Eu não tinha nada em comum com ele, exceto pelas boas notas que ele havia tirado e feito com que também ganhasse o mesmo prêmio que eu (por um milagre), o que também fazia dele meu acompanhante com direito a viagem e hospedagem compartilhada.

Cansei de reclamar, fiz minhas malas e entrei no aeroporto receoso do meu encontro com Tadeu, seria um vôo longo e em grande silêncio já que ele obviamente não tinha o menor apreço pelas coisas que eu gostava, pelo menos era o que eu pensava.

- Oi Daniel – Disse Tadeu me cumprimentando e gaguejando.

- Oi Tadeu. – Sorri disfarçadamente.

Ambos ficamos em pé na frente da ala de embarque para as despedidas e embora eu houvesse esperado muito por aquela viagem, os olhos cheios de lágrima de minha mãe me doeu.

Despedi-me da minha mãe e o Tadeu do pai dele. Ambos pareciam emocionados, mas entramos o quanto antes evitando lágrimas constrangedoras. Chegamos ao aeroporto às 14h00min da tarde.

O hotel que ficaríamos no Sea World já estava reservado e a nossa poltrona ficava uma do lado do outra, mas não importava o quanto eu pensasse, eu não tinha ideia de puxar conversa com Tadeu para quebrar o gelo.

- O Sea World é um parque Aquático, não é? – Indagou Tadeu fazendo uma pergunta meio óbvia mas quebrando o silêncio finalmente.

- Sim o maior de Orlando. – Falei meio sem graça.

- Que legal - Disse ele com um falso entusiasmo.

A tensão que havia entre mim e ele não levou a nada, senão em muito sono e não pude deixar de adormecer, mas o mais inesperado foi o sonho que tive.

Acordei com Tadeu me chamando. O seu ombro parecia estar dolorido depois que eu deitei minha cabeça sobre ele e dormi por pelo menos uma hora.

Constrangido, pedi desculpas, mas não por eu dormido em seu ombro, mas por ter sonhado conosco nos beijando avassaladoramente no banheiro do avião e aquilo me corou no instante em que me perguntava do porque de sonhar aquilo, mas nada me veio a mente, senão a teoria de Freud que diz que nossos sonhos são resultado dos nossos desejos e medos inconscientes, mas não era medo, e sim desejo e me custou admitir aquilo em pensamento com ele do meu lado.

Comecei a soar frio, minhas mãos estavam trêmulas e um enjoo me embrulhou o estômago fazendo Tadeu perceber que estava passando mal.

- Você está bem? – Perguntou segurando minha mão gélida.

- Sim, eu estou.

- Meu Deus, você está pálido. Tem medo de viajar de avião?

- Não, não. Não é nada. Não tenho medo não. – Justifiquei nervoso.

- Daniel, olhe para mim, respira duas vezes fundo e solta calmamente.

- Okay. – Concordei respirando conforme ele me instruía, mas o fato dele ele segurar minha mão é que me impedia de melhorar.

- Isso Daniel, sua cor está voltando e sua temperatura também. – Ele disse notando que eu estava melhor.

- Desculpa por isso. – Falei envergonhado.

- Que isso. Não tem problema. – Insistiu ele com um sorriso.

Depois dali, eu fiquei mais calmo, parece que Tadeu não era tão homofóbico como eu imaginava e também sabia ser gentil e útil. Taylor e eu adormecemos e diante da cota de coisas insignificantes que podemos fazer em um voo as horas correram.

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Um Dos Seus Garotos (Short-fic)Onde histórias criam vida. Descubra agora