Poesia, minha voz, enrouquece
De juras sobre ti: estertor,
Não pose melíflua de cantor.
Vagão de terceira no verão,
Pareces. Subúrbio e não refrão.
Abafas como Iamskaia*: és maio,
Chevardin**, o reduto noturno,
Onde nuvens exalam seus guais
e se vão, cada qual por seu turno.
E em dobro, pela trama dos trilhos, ––
Arrabaldes não são estribilhos, ––
Se rojam das estações à casa,
Não cantando, formas hebetadas.
Renovos que a chuva põe nos cachos
Até de manhã, num fio contínuo,
Pingam seus acrósticos do alto
Enquanto lançam bolhas de rimas.
Poesia, quando sob a torneira
Um truísmo é um balde de folha
Vazio, mais o jato se despeja.
Eis o branco da página: jorra!
* Em muitas cidades russas, havia um bairro chamado Iamskaia Sloboda (arrabalde dos cocheiros), geralmente pobre e abafado.
** Chevardinó é o nome da aldeia onde, em 24 de agosto de 1812, teve início a batalha de Borodinó, decisiva para o desfecho da campanha de Napoleão contra a Rússia.
![](https://img.wattpad.com/cover/106026924-288-k187386.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Literatura
AléatoireCompilação de poemas, poesias, versos e fragmentos da literatura mundial ornado com algumas obras de grandes pintores, que ilustra propriamente em minha opinião, o texto ali presente.