Capítulo 8

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Angélica on

- Vamos parar um pouco, você deve estar exausta. - Jake diz segurando meu braço e mostrando uma clareira.

Resolvemos pegar o caminho mais curto para a cidade, e era óbvio que era o mais perigoso. Mesmo estando em uma estrada boa Jake tropeçou umas 20 vezes pelo menos, aposto que todas elas foram em formigas.

Lutamos com uns 18 monstros até agora e nosso level subiu até o 15º. Ainda estava baixo mas comparado em quando começamos a versão beta acabamos subindo de nível mais rápido do que esperávamos.

- Tudo bem, uma pausa rápida não faria mal. - digo sorrindo fracamente, resolvi parar mais por ele do que por mim.

Eu juro que queria deletar da memória aquela hora em que chorei abraçado ao Jake, que vergonha mano. Eu nunca tinha ficado assim, mas se ficar pensando muito nisso e lembrar o motivo eu provavelmente vou chorar de novo.

Durante todo caminho em vez de suas piadas e dilemas nerds ele ficou quieto, o que era muito raro e só tinham quatro opções para ele estar daquele jeito: 1- Está pensando na morte da bezerra; 2- Tá tentando não comentar alguma coisa que ele quer muito falar; 3- Está pensando em tudo que Strender falou; ou 4- Tá segurando o choro.

Eu sei que a 4ª opção é uma merda mas é muito válida, só para constar eu estava tentando não fazer a 3ª opção, e as lutas me ajudaram a me distrair. Sentei em uma pedra grande e Jake que ia se encostar em uma árvore ligou o botão do foda-se e deitou na grama.

- Então... como você está se sentindo? - perguntei e ele me fitou com seus olhos escuros.

- Como assim? - ele pegou os óculos e começou a limpá-los na camisa, eu desci da pedra e sentei ao seu lado na grama.

- Você sabe... com tudo que Strender falou... - ele parou de limpar os óculos, colocou-os contra o sol e olhou para mim.

- Você quer a verdade? - assenti - Tá... é... assim... meu Deus como que que falo isso?

- Com a boca, fala logo Jake.

- Primeiro que o som da fala só é produzido quando o ar passa elas cordas vocais e nós fazemos o formato do som com a boca e... - eu olho para ele cansada, e ele suspira - tem certeza?

- Só me fala, por favor. - ele senta na grana ficando de frente para mim.

- Eu conheço esse cara com a palma da minha mão, assim como conheço todo o mecanismo do nerve gear. - tudo isso fruto de seus milhares de livros e pesquisas na internet - E Strender não brinca em serviço, sua vida e seu trabalho são um livro aberto. Desculpa falar isso mas... o único jeito de sairmos daqui é pelo centésimo andar, juntos... e vivos.

Eu pude sentir minha garganta arder e meus olhos se encherem de lágrimas. Eu não queria chorar na frente dele de novo, mas já que ele falou isso eu sei que se morrer aqui eu nunca mais irei ver meu pai novamente.

As lágrimas rolaram silenciosamente e como antes Jake me abraçou, e também pude sentir que ele pensava o mesmo de sua avó quando uma lágrima caiu sobre meu ombro.

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Flashback Rick on

Depois que meus filhos chegaram em casa, Angélica abriu a porta sorriu e correu em minha direção me abraçando e agradecendo por comprar o jogo. Ela era a única que conseguia transformar meu dia horrível de trabalho no melhor de todos só com um sorriso.

Dilan se juntou a nós no abraço mesmo segurando as sacolas da janta. Sim são só 4 da tarde mas depois que esse nervo gerador sei lá das quantas substituiu o Atari eles ficavam até no mínimo 4 horas jogando, é claro que depois de seus deveres do colégio, sou um pai responsável também.

Enfim, eu nunca sabia quanto tempo eles iam ficar lá na geringonça, então nosso trato era de jantarmos juntos antes mesmo que seja as 3 da tarde.

Como esse jogo era novo e amanhã era sábado isso era praticamente sinônimo de que iam revirar a madrugada jogando. Mas enfim, depois de jantarmos Dilan me abraçou dizendo boa noite e meu anjo me abraçou e disse seu "te amo" de sempre e subiu as escadas também.

Eu sentei no sofá e liguei o canal do MMA, depois de ver Carlos Hund perder para meu companheiro Manuel Júnior eu ri de sua cara como ele fez quando ganhou de mim dois meses atrás. Depois da luta liguei o jornal da noite, só que eu sempre durmo assistindo o jornal.

E dessa vez eu o assisti desesperado. Quando começaram a falar desse jogo eu até estava achando interessante, tanto que comecei a gravar o programa, mas quando chegaram nas 257 pessoas mortas eu saltei do sofá e corri escada acima.

Cheguei na porta do Dilan que era a primeira a esquerda e tentei abrir. Estava trancada. Nada mais importava então arrombei a porta, quando ela abriu adentrei no quarto com a leve luminosidade da lua passando pela fresta da cortina. Tateei a parede buscando o interruptor e achando a luz.

Meu filho estava deitado na cama com aquela coisa na sua cabeça, corri até ele e tentei acorda-lo sem sucesso é claro. Ele havia me dito que não podiam se manifestar no mundo real. Desesperado resolvi ver sua pulsação, me ajoelhei ao lado da cama, peguei seu braço e posicionei meus dedos em seu pulso.

Foram os piores 2 minutos da minha vida. Eu era horrível para medir a pulsação, mas ela estava lá. Batia normalmente. Uma onda de alívio me consumiu, mas então lembrei de Angélica e corri até seu quarto.

Dessa vez não tentei abrir a porta e me joguei nela direto. Meu Anjo não podia estar morto. Não a menina que eu criei com todo mimo e carinho desde que sua mãe faleceu quando Angélica tinha 4 anos.

Nem me dei o trabalho de acender a luz do quarto corri em sua direção e medi seu pulso. Nada, esperei mais uns 3 minutos pois estava mudando de posição a cada segundo. E lá estava ela, a pulsação.

Graças a Deus meus filhos estavam vivos, chorando deitei ao lado de minha princesa e adormeci com ela.

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