Capítulo 4

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Ricardo - infância

Era mais um dia comum para Ricardo. Ouvira gritos de sua mãe e os seus próprios, e as risadas de seu pai. Sabia que aquela noite renderia diferentes colorações à sua pele. Mas não podia fazer nada, sua mãe dizia que tudo se resolveria, que era apenas a bebida e que ela o amava. Ricardo confiava mais em sua mãe do que em si mesmo, então não dizia nada à ninguém.

Nunca pensou que sua vida mudaria de um dia para o outro.

Após seu pai ter saído à noite, como era-se de costume, Ricardo aproveitou para conversar com a mãe, sobre aquele que lhe deu a vida e ao mesmo tempo a tirou. E Ricardo retribuiria.

- Mamãe, por que a senhora deixa papai fazer aquilo conosco? - Disse Ricardo, com um olhar triste ao se lembrar de tudo o que passava.

- Querido, já te disse que seu pai nos ama. Tudo vai se resolver, e isso não é culpa nossa. - Dizia a mãe enquanto acariciava as mãos do filho. Mal sabia ela que Ricardo não era tão inocente como imaginara.

*

Ricardo gostava muito de ver TV. Estava assistindo uma cena de um filme no qual um carro fica sem freio e acaba caindo e um penhasco, quando decidiu que não aguentaria mais tudo aquilo. Desligou a TV e saiu rápido para sua mãe não o repreender.
Ricardo iria se encontrar com Tyler, um garoto com o dobro de sua idade. Tyler era aqueles caras que vendem coisas que não se encontram em um mercado comum, mas Ricardo queria cobrar-lhe um favor.
Tyler parou de conversar com seu ajudante e se dirigiu à Ricardo.

- Ricardo! A quanto tempo, não?

- Vim cobrar o favor Tyler. Você sabe cortar freios?

- Opa opa, espera aí garoto. Você quer cortar freios de um carro? - Ele diz em um tom de deboche.

- Preciso que corte os freios do carro do meu pai amanhã à noite, antes dele sair. - Tyler abriu a boca para falar mais foi interrompido. - E não te devo explicação sobre nada, apenas faça e não lhe pedirei mais nada.

Ricardo foi embora decidido a acabar com aquela agonia que tinha todas as tardes, querendo que não chegasse o anoitecer.

Se sentia culpa por querer matar o próprio pai? Não, ele já havia perdido a capacidade de sentir qualquer coisa. Mal sabia ele que, ao tirar o que lhe angustiava também tiraria aquele que lhe apoiava.

Após aguardar o anoitecer, Ricardo havia esquecido do que tinha feito. Fazia jus ao apelido "cabeça de vento".

Ricardo acabara de entrar no quarto da sua mãe, e se viu ficar de boca aberta. Nunca viu sua mãe tão bela como estava.

-Mãe! Você está linda! Para onde vai tão arrumada? - Diz à sua mãe quando ela o chama para um abraço.

- Gostou? Seu pai me chamou para jantarmos. Ele disse que queria recomeçar tudo. Viu só? Não te disse que ele nos amava? - Sua mãe não contia o sorriso, estava tão feliz que só sorria.

Após sua mãe se despedir, ele foi vê-los dirigindo pela rua até perder de vista. Foi nessa hora que Ricardo se lembrou. Se desesperou e se culpou.
Deu um grito tão alto que temeu que alguém o escutara.
Caiu na cama tremendo, não de frio, mas de remorso, de culpa, e de medo.
Torcia para que seu pai deixasse sua mãe no restaurante enquanto ele comprava bebidas. Suas orações eram as únicas que o apoiaria naquele momento, mas ainda tinha esperanças. Acabou adormecendo após algumas horas.

Ricardo acordou com batidas na porta. Nem seu pai nem sua mãe estavam em casa. Abriu e se deparou com um policial. O que temia acabou acontecendo. Ele se manteve imóvel enquanto o policial lhe dava a notícia.
O policial disse que o levaria consigo para ser cuidado, pois uma criança não conseguiria viver sozinha. Mas Ricardo era diferente. Com a desculpa de querer buscar seu boneco de pelúcia, Ricardo pulou a janela e nunca mais viu o policial. Não se permitia chorar. Isso só o deixaria mais abatido.
Acabou achando o que se tornaria sua moradia. Uns túneis subterrâneos cuja entrada nunca contou a ninguém.

*
Estava em mais um de seus livros quando ouviu um barulho de algo caindo. Não socializava com ninguém desde aquele dia, 7 anos atrás.
Teve medo daquela menina. Mas não demonstrou. A achou um tanto atraente. Talvez demonstrou um pouco. A menina, que disse chamar- se Lívia, estava tão assustada com Ricardo, que o divertiu. Bem, claro que não demonstrou. Ricardo havia perdido a habilidade de sentir desde que aquele mostro conheceu sua mãe.
Ele vivia naqueles túneis, não via sol há muitos anos e não se reconheceria se visse seu reflexo. Como ele se alimentava e conseguia as coisas de que precisava? Também não contou a ninguém.
Quando conheceu Lívia, sentiu que, talvez seus sentimentos voltassem. Mas logo se puniu. Não iria alimentar aquilo em sua mente.
A menina queria saber como sair de lá. Nem o próprio Ricardo sabia.

Lívia

Ricardo me apresentou os 'cômodos'. Não entendia como ele conseguia viver em um lugar daqueles. Após o que se pareceu horas, decidi descansar. Mas não sabia onde.

- Quer se deitar? Venha, pode deitar aqui que depois eu me viro. - Ricardo me ofereceu a cama. Não entendi aquela gentileza, mas estava cansada demais para raciocinar.

Deitei na cama e fiquei sendo consumida por meus pensamentos. Onde estou? E Alex? Será que ele está bem?

Estava quase adormecendo quando senti um toque frio em meus ombros. Não pude fazer nada. Já estava dormindo.









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Olá pessoal! Bem, demorei um pouco para trazer o próximo capítulo pois meu wattpad estava bugando muito. Mas bem, aqui estou!
Espero que tenham gostado deste capítulo, não esqueçam de votar e comentar!
E afinal, o que acontecerá com Lívia?

Love, ElliotOnde histórias criam vida. Descubra agora