× Capítulo 02 ×

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A MÃO DA REALIDADE É PESADA!
" Quem quiser vencer na vida deve fazer como os seus sábios:
mesmo com a alma partida, ter um sorriso nos lábios."
Dinamor


Music : Who You Are - Jessie J

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O dia nasce como qualquer outro, tranquilo. Os pássaros cantam, o sol aquece a terra, o cheiro do orvalho entra pelo vão da janela, e o meu pai bate na porta dos nossos quartos com força, quase nos matando do coração. Bom, o que dizer? Bom dia para você também, pai. Penso enquanto recupero as batidas do meu coração que se perderam de alguma forma.

— Levantem! Conhecem as regras! — diz ele sem parar de andar, atravessando o corredor. — Banho, se arrumar corretamente e tomar café! Têm meia hora para partirmos para a igreja! Já perderam dois minutos com a cara de sono!

Suspiro neste meu pensamento e me apresso para fazer o que nos foi mandado. Minha irmã e eu dividimos o quarto, ou mais ou menos isso, já que são ligados através do banheiro. Anabel já estava no banho quando entrei no nosso banheiro compartilhado. Como de costume, eu puxo o meu banquinho para que consiga me ver melhor no espelho para lavar meu rosto e escovar os dentes.

Em pouco tempo, ela sai do banho, enrola-se na toalha, aproxima-se de mim e me dá um beijo no topo da cabeça.  Fala baixinho um bom dia e sorri. Com a forma tão carinhosa que ela me trata, não posso evitar um sorriso nascer em meus lábios. Como se minha energia fosse recarregada, animo-me e vou logo para o banho. Anabel e eu somos muito próximas, e é verdade absoluta. Na verdade, todo amor que sinto precisar, vem da minha irmã. – Não espero nada dos meus pais. Não espero nada de ninguém. – Aprendi cedo demais que eles só veem a Anabel. Ironicamente, assim como eu.

Depois de terminar o banho e me vestir, desço as escadas e vejo um cenário clássico de um filme.

Minha mãe e meu pai estão à mesa, sentados com a Anabel. Eles parecem felizes, sorrindo, pacíficos… Sinto que não me encaixo ali. Eu sei. Não me encaixo aqui. Pergunto-me em pensamento: Deus, onde é o meu lugar?

Anabel, como se escutasse meus pensamentos, dirige seu olhar a mim e abre um lindo sorriso que afasta meus pensamentos depressivos.

— O que foi, Alice? Venha! — Seu sorriso parece iluminar o meu coração de tal maneira que corro em sua direção. O meu pai volta a beber o seu café. Mas então seus olhos pairam sobre seu relógio e avisa-me que tenho apenas cinco minutos para tomar meu café, já que demorei no banho.

Droga...

Depois de comer desesperadamente, minha mãe me repreende por ser tão afobada, por não ser uma "mocinha" de maneiras, pois meu pai não iria a lugar nenhum sem mim, mesmo que passasse dos cinco minutos. No entanto, não consigo entender, afinal o meu pai falou que só tinha cinco minutos… Ah! Tão confuso que deixo para lá.

Junto com a Anabel vou para o carro do papai. Ele nos deixa diante da igreja com uns dez minutos de atraso. E sim, vai reclamando todo o percurso. Explicando o porquê é importante criar o hábito de pontualidade, que isso fará de nós adultos confiáveis e corretos…

Sorte que o padre é bonzinho, boa parte das vezes.  

Diante da igreja e sem a voz do meu pai ecoando na minha cabeça, analiso o lugar. Não é como se já não tivesse admirado esta igreja antes, mas não consigo evitar de todas as vezes achar este lugar incrível. Diante da porta, recebendo-nos, há um impressionante chafariz do arcanjo Miguel com suas grandes asas e a sua espada. Ao seu redor, há anjos brincando, um deles fazendo um escudo de escorrega para cair na água.  A Igreja não é grande como as do centro, mas é a miniatura — embora ainda bem grande — de um castelo de pedras brancas, com vitrais grandes e bonitos, no meio de um grande jardim florido e bem cuidado, mesmo agora no outono…

Alice | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora