Capítulo 1 - Sonhar

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"Thomas."

"Thomas, acorde!"

Eu não conseguia entender o que estava acontecendo, eu já estava acordado porém continuei deitado na cama olhando para o teto e escutando os pássaros cantarem na árvore ao lado do meu quarto, mas mesmo assim aquela voz não saía da minha cabeça.

"Thomas, acorde!"

"Thomas você precisa acordar."

Me levantei e fui em direção à janela do meu quarto, que entretanto fosse tão grande estava sempre fechada. Decidi abrir a cortina e deixar o sol entrar um pouco, eu não lembrava a última vez que olhei o movimento do mundo exterior ao meu quarto, então pensei que aquilo seria algo interessante a se fazer em um momento de tédio. A luz clara e quente encostou no meu rosto, olhei para o relógio, eram nove horas da manhã e pode-se dizer que há muito tempo eu não sentia aquela sensação estranha de liberdade. Eu estava de férias há dias ou até meses, e por mais que tentasse lembrar o tempo exato, não havia nenhuma lembrança de como foi minha vida antes do início de toda aquela rotina infinita de não fazer nada o dia inteiro.

Desconfiei que havia algo estranho no fato de não conseguir lembrar de nada que ocorreu antes do dia 27 de junho, mas de repente, como um aviso sobrenatural, minha atenção mudou dessa desconfiança para a rua em frente a mim. Eu estava em pé com um cotovelo apoiado na janela e a mão sustentando o rosto, tentando entender a razão de não lembrar detalhes da minha vida, como se algo em minha mente estivesse trancado e não me deixasse ter acesso às informações, foi então que eu senti uma sensação inexplicável de insegurança e medo.

Nesse momento os pássaros pararam de cantar, um olhou para mim por uns instantes, suas penas eram marrons de um tom amadeirado e seus olhos escuros e foscos, depois disso os dois saíram voando. "Thomas acorde agora!" - mais uma vez eu escutei. Uma nuvem enorme cobriu o sol, um dos pássaros foi engolido por ela e sumiu do meu campo de visão, o outro simplesmente desapareceu e o dia que estava claro e radiante escureceu em instantes.

Decidi abrir a janela para tentar entender, aquilo era mesmo só uma nuvem? Algo estranho estava acontecendo? Pensei que fosse tudo coisa da minha cabeça, talvez eu estivesse ficando louco ou talvez eu ainda estivesse mesmo dormindo. Olhei rápido para o outro lado da rua e em frente à casa do meu vizinho vi uma figura encapuzada de cabelos longos e castanhos que estava parada olhando para o chão, quando percebi que havia alguém ali e voltei a olhar para o local ela já não estava mais lá. Senti um calafrio e achei aquilo muito suspeito, meu medo aumentou assim como a minha insegurança e quando eu percebi havia um floco de neve caindo bem em minha frente.

"Neve? Como assim?" – me perguntei.

"É impossível isso estar acontecendo."

Com medo e sem conseguir raciocinar direito resolvi fechar a janela e ir falar com meus pais sobre o que estava acontecendo. Quando virei para sair do quarto me deparei aquela mesma figura que vi do outro lado da rua, só que agora sem capuz, com os cabelos longos, soltos e parada bem à minha frente. Fiquei sem reação, seus olhos estavam fixados nos meus, eles eram pretos como a noite e não brilhavam de forma alguma.

"Acorde." – ela disse. Sua voz era aquela que eu escutava anteriormente, mas agora algo estava diferente.

"Acorde!" – ela repetiu. Mas dessa vez falou mais alto e com um tom de insatisfação, como se eu não estivesse dando ouvidos o que ela dizia.

Não consegui processar as informações direito. Quem era ela? Como ela foi parar no meu quarto? Como o dia escureceu tão rápido e por que estava nevando? Como ela sabia quem eu era?

Thomas e a queda das estrelas (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora