Alemão Narrando:
Tá na hora da festa do JP, caramba! Só agora lembrei que é aniversário dele. O tempo tá voando, e eu tô aqui, indo pro carro.
Sei que ela vai estar lá com aquele menino, mas também tem a minha filha, a minha princesa. Ela é tão diferente, loira de olhos azuis, saiu mesmo ao JP. Um misto de emoções me invade enquanto entro no meu BMW todo preto e desço o morro.
Na descida, vejo a Isa fazendo sinal com a mão, mas sinceramente, tô pouco me importando com essas garotas.
Ela não sai da minha cabeça. Agora, qualquer mulher que vejo me lembra dela, e isso só piora a situação. Caramba, aquele corpo ficou ainda melhor depois que teve o menino. Aquele bundão redondinho, aquelas mamas grandes, é de enlouquecer. Passo a mão nos cabelos, tentando afastar os pensamentos, mas sinto um desconforto. Só transei com ela uma vez e agora tô precisando de mais. Fui um moleque há dois anos, mas agora sou homem.
Aquela mulher vai ser minha. Depois, o menino vai pro pai, porque aqui ele não faz nada. Só quero ela e a minha princesa.
Avisto a Rocinha de longe e piso fundo no acelerador, fazendo ultrapassagens rápidas. Passo por um carro parecido com o dela e não consigo evitar olhar. Quando volto a atenção pra frente, quase bato em um caminhão. "Acorda, Alemão!" penso, colocando a mão na cabeça e respirando fundo pra me acalmar.
Aproximo da entrada da favela e, ao chegar, baixo o vidro, que também é preto, e pego a minha glock.
— Deixa eu passar, beleza? — digo, fazendo sinal pro moleque na entrada. Ele acena que sim e me deixa passar. Acelero o carro, deixando um rastro de fumaça preta pra trás. Kkkk, é pra verem bem que sou eu, esses moleques.
Enquanto sigo o caminho, sinto a expectativa no ar. A festa do JP vai ser insana, e eu tô pronto pra aproveitar. Apesar de toda a tensão, não consigo evitar um sorriso ao pensar na minha princesa. Ela sempre traz luz pros meus dias escuros, e mesmo que a mãe dela esteja por perto, isso não vai me impedir de curtir a noite. Afinal, o que importa é a festa e a certeza de que vou fazer valer a pena.
Entro dentro de casa e a primeira pessoa que vejo é a minha princesa, encostada na parede, com a cara para baixo. Deixo as chaves em cima do móvel e sigo caminhando entre as pessoas, mas não vejo nem o JP, nem a loira. Apenas conhecidos, e a minha Sofia ali no meio, parecendo tão pequena e vulnerável.
Aproximo-me dela e a agarro pela cintura, fazendo-a saltar para o meu colo. Sinto um alívio imediato ao ter ela perto de mim.
— O que você estava fazendo ali? — pergunto, apontando para o canto.
— Momy is mean because of Allan. I just... — ela diz em inglês, e logo as lágrimas escorrem pelo seu rosto.
— Filha, fala português pro papai, por favor — peço, sentindo que meu inglês não é bom o suficiente para confortá-la.
— A mamãe foi má comigo! Eu queria provar a mamadeira do Allan, e ele chorou. Eu tirei da mão dele, e ele começou a chorar. Aí veio o titio JP e chamou a mamãe, e depois a mamãe me colocou de castigo ali — ela aponta novamente para o canto, e eu vejo a Makaila com uma expressão séria, segurando o Allan no colo, que também está chorando.
— Você vai pra parede! — diz ela em inglês, apontando novamente para o canto. Já chega de falarmos em inglês.
— Chega aqui, falam português, porra! — grito, um pouco mais alto, fazendo a Sofia se assustar e a Makaila me olhar com raiva.
— Eu falo na língua que eu quiser! E ela está de castigo porque se comportou mal! — retruca Makaila, puxando a Sofia pela mão. Mas eu não deixo e agarro a minha princesa de novo, segurando-a com firmeza.
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Entre dois mundos 2
Teen FictionApós anos a viver entre o amor e a violência, Alemão tornou-se uma sombra do que era. O coração, antes vibrante e cheio de promessas, agora endureceu, e o olhar que ele lança ao mundo é marcado pela desconfiança. Cada cicatriz na sua alma conta hist...