Cap 9

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Alemão Narrando:

Passei a noite inteira sem conseguir pregar o olho, com a cabeça a mil e o quarto cheio de fumaça. A ponta do beck queimava devagar enquanto eu encarava o teto, tentando entender tudo o que estava acontecendo à minha volta. Era como se a minha cabeça estivesse presa num looping de pensamentos sobre ela, sobre aquele garoto, sobre o que sinto e o que deveria fazer. Estendi o braço e alcancei o celular, abri o Instagram e procurei o perfil da Makaila. Sei que não devia, mas ali estava eu, rolando pelas fotos dela, cada uma trazendo memórias que me puxavam para mais perto e, ao mesmo tempo, me lembravam do quanto isso tudo pode acabar.

Ela era linda demais. E, ao mesmo tempo, inatingível. Nas fotos, parecia tão leve, tão despreocupada, como se o mundo fosse dela e ela nem soubesse disso. Aquela noite, enquanto eu encarava o brilho da tela, me perguntei por que diabos eu deixei chegar a esse ponto. Não devia ter me metido com ela de novo, não quando as coisas ficaram confusas e eu descobri que tenho um filho de outra.

A fumaça enchia o quarto, mas não trazia o alívio que eu esperava. Ao invés disso, cada tragada era só uma desculpa para não dormir, para não encarar o que vem pela frente. Eu sabia que era só questão de tempo até a Makaila perceber que algo estava errado, que eu estava perdido no meio de toda essa bagunça.

Fechei o Instagram, larguei o celular ao lado e encarei o escuro por um tempo, tentando imaginar como seria se eu fosse honesto com ela, se falasse o que estou realmente a sentir. Mas sabia que, ao mesmo tempo, eu não tinha coragem para isso. Estava preso entre o medo de perder a Makaila e a realidade de que, mais cedo ou mais tarde, essa situação ia explodir.

O dia começou a clarear lá fora, e eu sabia que precisava levantar, enfrentar o que quer que esse futuro bagunçado tivesse para mim.

Não consigo acreditar que ela está mesmo grávida. Logo agora que a Makaila me despertou um interesse mais sério, algo mais forte do que apenas uma atração. E agora tem um filho no meio disso tudo – um garoto que, por ironia, se parece comigo. Isso me deixa confuso e frustrado. Como lidar com essa situação? Um filho de uma mulher qualquer?! A cada pensamento, sinto minha mente se apertando em nós de incerteza.

Entro na sala e vejo JP sentado à mesa, entretido no celular. Quando ele percebe minha presença, ergue a cabeça com um sorriso fácil, claramente contente em me ver.

— O que você tá fazendo aqui, seu puto?! — dou um abraço nele, tentando aliviar a tensão. Preciso de uma distração agora, e quem melhor pra isso do que o JP?

— Vim te ver, mano. Makaila me falou uma coisa, quis confirmar se é verdade mesmo — responde ele, com aquele tom brincalhão, mas sei que a curiosidade tá pegando.

— É verdade, mas isso não muda nada. Não vou me prender a essa mulher — dou de ombros, pegando um cigarro e acendendo. O cheiro familiar me dá uma falsa sensação de calma, mas a questão ainda me sufoca.

— Tá fodido, mano! — ele ri, mas o brilho sério nos olhos diz que ele sabe do peso da situação. — Ela vai te enroscar, não importa a mulher que você escolha.

Dou uma tragada, pensando nas palavras dele. — Cara, se isso continuar desse jeito, eu sumo da vida da Makaila, sem olhar pra trás — murmuro, mais pra mim do que pra ele, mas o JP ouve. A ideia me parece tentadora, mas algo dentro de mim sabe que é mais complicado do que apenas desaparecer.

— Escuta, mano. Tá vendo o Allan como teu filho ou não? Já reparou no moleque? — ele solta a pergunta, e a imagem do garoto volta com tudo. A semelhança é inegável, mas aceitar o garoto como meu filho... será que consigo?

— Já resolvi as coisas com a Makaila — digo, apagando o cigarro com um estalo seco na mesa. O silêncio cresce, pesado. Olho pela janela, vendo o movimento da rua lá fora, parecendo tão em paz enquanto minha cabeça está à beira de um caos interno.

A conversa com JP reverbera em mim, forçando-me a encarar as escolhas que fiz. É isso que quero para o meu futuro? Esse conflito, essa dúvida constante? Com um último olhar para JP, penso no que significa de verdade assumir a paternidade, seja a do Allan ou qualquer outra criança que vier na minha vida. Isso me assusta, mas me faz pensar em quem realmente quero ser daqui pra frente.


Makaila Narrando:

Se o Alemão realmente pensa que vou deixar passar essa situação, ele está muito enganado. Ele precisa aceitar o Allan, e isso é mais do que justo. Como ele pode ter certeza de uma criança que ainda nem chegou, enquanto o meu menino, que é tão adorável, está aqui comigo? Ele precisa aceitar o filho dela, porque eu fiz isso por ele, e ele não tem o direito de me tratar com essa frieza. Sinto uma fúria crescer em mim, mas disfarço ao acariciar a cabecinha de Allan, que se ajeita no meu colo.

A presença dele é o que me acalma e dá forças. Olho para Sofia e Damien na piscina. Ela gargalha, feliz ao lado dele, que a ensina a nadar com paciência e brincadeiras. Ver Damien tão atencioso com os pequenos aquece meu coração. Às vezes, é difícil entender como ele e a Clara podem ser tão diferentes. Ele cuida de todos nós, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Então, sem querer, meu olhar encontra o JP do outro lado do jardim, ao lado de Leila. Eles estão juntos, rindo, como se não houvesse problemas. Sinto uma pontada de solidão. Aquele tipo de conexão leve e despreocupada que eles compartilham é algo que sempre desejei. Por um momento, penso em Alemão. Ele nunca me olhou daquela forma, e essa é uma ferida difícil de curar. Mas rapidamente empurro essa sensação para longe; não vou deixar isso me consumir.

Damien chama meu nome, interrompendo meus pensamentos. Ele quer que eu entre na piscina e brinque com eles. Sorrio, deixando Allan em sua cadeirinha e me levanto, me permitindo uma pausa dos problemas.

— Estou indo! — digo, rindo enquanto mergulho na água. O frescor da água dissolve um pouco da tensão, e cada respingo me faz lembrar que, apesar de tudo, a felicidade está nas pequenas coisas. Sinto o carinho de Sofia, sua risada pura enquanto a seguro, e, de repente, as preocupações parecem menos pesadas.

— Sabia que você é uma grande nadadora? — brinco, olhando para Sofia, que responde com uma gargalhada animada, toda orgulhosa. Giro com ela, e sua alegria enche meu coração de um calor que há muito não sentia.

Enquanto Damien e eu brincamos com as crianças, JP e Leila se juntam a nós, e todos mergulhamos em uma brincadeira de pegar, cheia de risadas e pequenos gritos de alegria. O olhar de Leila para JP é cheio de amor, e não consigo deixar de sentir uma pontada de inveja. Mas logo me lembro de que a felicidade deles é uma inspiração, e não uma competição.

O tempo passa num piscar de olhos, e ao sair da piscina, me sinto diferente. Como se aquela água tivesse levado consigo uma parte da minha mágoa. Não posso depender de ninguém para me dar o que quero. Tenho que ser forte e encontrar felicidade em mim mesma e em tudo o que já conquistei.

Envolvida numa toalha, olho para Sofia e Damien, com uma gratidão que chega a me surpreender. Eles são as luzes que guiam minha vida, as razões pelas quais continuo a lutar, mesmo quando tudo parece complicado.

E então, decido: não vou me afundar na amargura. Vou seguir em frente, por mim, por Allan e pela Sofia. Vou reconstruir minha felicidade com os que realmente importam e deixar Alemão com seus próprios dilemas.

Entre dois mundos 2Onde histórias criam vida. Descubra agora