Alemão Narrando:
Ontem, a festa do JP foi doideira, sabe? Eu tava fora da casinha, aproveitando ao máximo e, no meio de tudo, tentando ignorar a bagunça que minha cabeça virou. Só que agora o peso voltou com força, aquela vontade de estar bem com minha família, de ser um cara decente pra eles, enquanto, ao mesmo tempo, carrego o nome de Alemão no morro, a reputação que construí. Tô tentando equilibrar essas duas vidas, mas é como andar na beira de um precipício, cada passo parece que pode dar errado a qualquer momento. Hoje tô limpo, a cabeça mais no lugar, o cheiro do mundo à minha volta tá nítido, mas a neurose de tudo isso não me larga.
Saio de perto da Makaila e do Allan, descendo as escadas enquanto sinto um aperto crescente no peito. O que tô fazendo aqui? Quando olho pra trás, vejo Makaila com Allan no colo, aquele olhar preocupado que ela tem, tentando esconder a vulnerabilidade de sempre. É aí que surge a Isa, cheia de sorrisos, como se todo esse drama fosse só mais uma cena pra ela.
— O que tu faz com esse bastardozinho? — grita Isa ao me ver com o Allan. O menino olha pra mim com uma expressão que me lembra a única foto que tenho dele, aquela que ficou guardada como um fragmento de um passado bom, quando a gente era feliz, descalço, sem preocupações. Mas a realidade volta com força e sei que não posso me perder em lembranças.
— Fala baixo, tu tá assustando o menino! — digo, tentando transmitir segurança pro pequeno, minha voz baixa e firme. Sinto uma mão tocar meu braço, e ao olhar pra trás, vejo Makaila me encarando com um sorriso tenso, como quem tenta manter a calma mas, ao mesmo tempo, não gosta nada do que tá vendo. Ela balança a cabeça em reprovação, e eu, meio perdido, dou um passo pra trás, criando uma distância entre nós.
— Vai embora, Isa! — rosno, tentando cortar o contato com ela e mantendo Allan seguro.
— Tu vai ficar com essa aí? — Isa pergunta, a raiva saindo em cada palavra, cheia de provocação.
— Fico com quem eu quiser! — respondo, tentando não perder a calma, mas a frustração transborda. É insuportável estar no meio dessas duas, cada uma trazendo um caos diferente pra minha vida.
Makaila, que até então tava em silêncio, finalmente abre a boca:
— Tu ainda não viu que ele vai ficar com o filho dele? — As palavras dela me pegam de surpresa e meu olhar encontra o dela, cheio de perguntas. Filho?
Isa solta uma risada seca e debochada, olhando em direção ao Brian.
— Ah, essa aí tá dizendo que esse bastardo é teu filho? Hahaha, filho é o que eu carrego! — Ela põe a mão na barriga, lançando um olhar provocativo. Meu estômago dá uma cambalhota de horror. Sempre usei camisinha com ela! Como é que isso tá acontecendo? Vejo o rosto de Makaila se transformando, os olhos dela ficam marejados. Ela tira o Allan do meu colo e sai correndo escada acima. Uma dor absurda me atravessa.
— O que tu disse? — pergunto, segurando Isa pelo braço e levando-a pra fora da casa. A paciência acabou.
— Tu ouviu bem, vamos ser papais — Ela me encara com uma expressão desafiadora e tira um teste de gravidez do bolso do short. — Dois tracinhos. — A visão do teste nas mãos dela faz minha cabeça girar. Com um tapa, derrubo aquilo no chão.
— Filho? Tá achando que sou otário? — seguro o queixo dela, obrigando-a a olhar nos meus olhos. — Eu, quando como putas como tu, uso camisinha. Não me vem com essas histórias! — Empurro ela, que cai de bumbum no chão. Sinto uma mistura de raiva e uma ponta de preocupação, mas me forço a ignorar isso.
— Tô falando sério, Brian, tô grávida e posso provar. Se quiser, vamos lá no postinho e eu faço o teste de novo — diz ela, agora chorando. O desespero na voz dela me deixa ainda mais perdido. E se for verdade? Se eu já tô com um drama com a Makaila e o Allan, como vou lidar com mais isso?
— Entra no carro! — ordeno, destravando as portas. Ela obedece e entra sem contestar. — Quero prova de que tu tá grávida e que esse filho é meu — exijo, assumindo o volante e acelerando até o postinho. Minha mente é um turbilhão de raiva e confusão. Não consigo acreditar que cheguei a esse ponto.
Makaila Narrando:
Mais uma lágrima rola pelo meu rosto. O Allan, com seus olhos grandes e curiosos, olha pra mim sem entender, e faço um esforço enorme pra não deixar ele ver o quanto tô ferida. É inacreditável que ele tenha engravidado essa mulher, que agora se apresenta como mãe do filho dele. Como ele pode aceitar isso e ignorar o próprio filho? A dor e a raiva se misturam, me lembrando de todas as promessas vazias, dos momentos de violência e do quanto eu acreditei, mesmo sabendo que era arriscado.
Seguro Allan mais forte e tento me recompor. Saio do quarto e dou de cara com a Leila.
— Miga, o que aconteceu? Perdeu o show da Isa aqui embaixo, foi uma confusão — ela diz, percebendo meu estado. Me abraça, e mais lágrimas escapam.
— Não consigo acreditar que ele engravidou aquela mulher, Leila... ele não aceita o Allan, mas aceita um filho dela? — desabafo, a voz tremendo.
— Tu acha mesmo que ela tá falando a verdade? O Alemão parecia diferente hoje com o Allan no colo, miga. E ele tava do teu lado. Essa Isa só quer criar caso — diz ela, tentando me consolar, mas a dúvida ainda me corrói.
— Onde ele foi? — pergunto, olhando ao redor, notando a ausência dele.
— Ele levou a Isa pro postinho, queria ver se era verdade — responde Leila, com uma expressão séria.
— Ele aceita qualquer coisa de outra mulher, mas não o filho dele comigo? — As palavras saem carregadas de frustração. Nada disso faz sentido, e parece que cada passo que ele dá é uma nova ferida pra mim.
— Miga, ele tava diferente quando tava com Allan no colo, quase como se... não sei, talvez, ele queira, sim, ser pai pro Allan. Só que... — Leila tenta continuar, mas a dor é tão grande que eu não consigo acreditar em nada positivo agora.
— Não sei, Leila. Parece que ele vive numa montanha-russa, um dia ele me quer, no outro me ignora, agora engravida outra... como se eu não importasse nada pra ele — desabafo, sentindo que o chão tá se abrindo sob meus pés. E se isso tudo for só o começo de um pesadelo sem fim?
Alemão Narrando:
A noite estava escura quando paramos em frente ao postinho. Isa me olha com aquele sorriso triunfante, um olhar que só aumenta minha desconfiança. Mal consigo olhar para ela sem sentir um misto de raiva e arrependimento.
— Bora logo com isso — digo, segurando o volante com força, enquanto ela sai do carro sem dizer uma palavra. Ela entra no postinho com aquele jeito vitorioso, mas não consigo relaxar. Minhas mãos tremem. Eu, pai de mais uma criança? Não sei se aguento a ideia.
Do lado de fora, fico pensando em tudo que deixei para trás. Em Makaila, no Allan, no tempo que não passei com eles. A visão de Allan no colo de Makaila me volta à cabeça, e sinto um aperto no peito. Eles são minha família, mas parece que tudo o que eu toco vira problema.
Depois de uns minutos, Isa volta com um sorriso malicioso. Ela não diz nada, só balança o teste positivo na minha frente.
— Tá vendo? A prova tá aqui — ela diz, rindo. — Agora vai ter que me aguentar.
Respiro fundo, tentando controlar a raiva.
— Vou fazer outro teste. Não confio em nada que sai de ti — falo, saindo do carro e indo para a porta do postinho. Ela tenta me segurar, mas ignoro. Entro e peço um teste de DNA. Não vou deixar isso assim.
Enquanto isso, uma mensagem da Makaila chega no meu celular: "Já chegaste, Brian? A Sofia perguntou de ti." Meu coração se aperta, e fico entre o desejo de responder e a culpa que me consome. Tento digitar uma resposta, mas desisto. O que posso dizer?
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Entre dois mundos 2
Ficção AdolescenteApós anos a viver entre o amor e a violência, Alemão tornou-se uma sombra do que era. O coração, antes vibrante e cheio de promessas, agora endureceu, e o olhar que ele lança ao mundo é marcado pela desconfiança. Cada cicatriz na sua alma conta hist...