prólogo

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Dois anos atrás...

Era um dia feliz, pelo menos foi o que eu pensei quando os primeiros raios solares adentraram pela janela do meu quarto me despertando. San Dimas mesmo sendo uma cidade litorânea não era nada solar, por isso quando Heitor me ligou dizendo que daria uma pool party na sua casa não pensei duas vezes em dizer que estaria lá. Deixei minha timidez de lado ao colocar um biquíni preto da minha irmã Freya e aproveitei o máximo de conforto e luxuria que a mansão dos Fisher's proporcionava.

O DJ comandava a pista com algumas músicas pop do momento. Enquanto algumas pessoas dançavam animadamente, eu observava Heitor conversar com um grupo de amigos. Ele tinha fácil 1,85 de altura, usava apenas um short azul marinho deixando seu corpo másculo e o abdômen trincado a vista, sua mandíbula quadrada se contraia para um sorriso de tirar o folego e seus dentes brancos perfeitamente alinhados aparecia. Toda vez que eu parava para admirá-lo eu sabia o quão era sortuda pôr o ter ao meu lado. Seus olhos extremamente verdes se encontraram com os meus castanhos sem graças e me encarou sem nenhum pudor. Ergui minha mão esquerda e apontei a ele o anel de diamante maravilhoso que ele tinha colocado no meu anelar quatro meses antes, suas mãos grandes e masculinas passou sobre seus cabelos loiros e  seus lábios desenhados se fecharam em um sorriso tímido. Eu iria me casar com um dos homens mais cobiçado e maravilhoso de San Dimas e eu o amava além de sua beleza e riqueza.

Antes do nosso primeiro encontro eu o amava em silêncio, esgueirando pelo ginásio da escola com meus 13 anos o observando silenciosamente treinar para o time de futebol americano. Sua camisa de capitão lhe caia tão bem que era impossível alguma garota não se apaixonar por ele, mas Heitor estava em um patamar bem maior do que o meu e era cinco anos mais velho. Ele jamais olharia para mim enquanto garotas de sua idade gritava seu nome toda vem que entrava em campo. Mas quando eu estava no último ano do colegial e ele tinha acabado de voltar recém-formado em administração na Columbia para pegar o cargo ao lado do pai na empresa da família, eu jamais imaginaria que minha família acabaria sendo convidada para sua festa de boas vindas.  E foi nessa mesma festa, quando nossos olhares se cruzaram enquanto tocava Yellow do Coldplay que eu tive certeza que ele era o cara certo. Nosso primeiro beijo não foi na festa, mas lembro como conversamos até o início da madrugada quando meus pais resolveram ir embora. Nosso primeiro beijo foi no nosso primeiro encontro, no restaurante mais caro da cidade, sob as dançantes luzes de velas nossos lábios se encaixaram perfeitamente. Heitor era perfeito, nós juntos éramos perfeitos. Eu não ligava em fazer faculdade ou mudar da nossa pacta cidade, não se tudo isso significava ficar longe dele. Eu tinha desistido dos meus maiores sonhos por ele. 

Por nós.

Três anos juntos e nada parecia mudar. Cada dia que ia passando mais eu o amava e tinha certeza que tinha feito a escolha certa. O pedido de casamento foi simples, no mesmo lugar do nosso primeiro encontro, com velas e flores. Ele não ajoelhou, apenas sorriu e continuou sentado a minha frente quando abriu a pequena caixa de veludo. A felicidade não cabia em mim, meu coração batia tão freneticamente que por um segundo eu achei que desmaiaria. E então eu disse sim num sussurro, como se aquele fosse nosso eterno segredo. Eu não parei de sorrir durante o restante do dia e nem no outro. Deus, como eu o amava.

E então ele partiu meu coração, na verdade, o estilhaçou.

Se pudesse escolher eu não teria ido o procurar por todo o canto da casa o encontrando se agarrando sem vergonha alguma com Sasha Davis, a melhor amiga da minha irmã mais nova na garagem da sua casa, talvez eu viveria para sempre enganada, mas eu não seria tão humilhada. A partir daquela cena quando suas mãos ágeis passavam por todo corpo da morena e suas bocas se engoliam eu senti meu mundo desabar. Sentir minhas forças indo e lágrimas descendo. Eu o odiei por todos aqueles longos minutos.

— Amor... Não é o que você está pensando. — Foi a primeira coisa que Heitor proferiu quando seus olhos verdes assustados me viu.

Não, não era o que eu estava pensando, era exatamente o que eu e mais algumas pessoas estavam presenciando. Caminhei com toda a força que me restara para fora daquele cenário, eu me sentia tão diminuída que a única coisa que queria fazer era sumir.

Por que ele estava fazendo aquilo comigo?  

— Amor, espera. — Heitor correu atrás de mim me fazendo parar perto da piscina.

Todas as pessoas de repente estavam olhando para nós, a mais nova novela ridícula a ser comentada nas futuras rodinhas de fofoca. Vi o olhar confuso da minha irmã do outro lado e o sorriso debochado de Sasha. Eu não estava a fim de fazer alguma cena, eu só queria ir embora, me trancar no quarto e chorar pelos próximos séculos, mas eu não iria simplesmente ceder a eles. Não mesmo.

— Amor... — Heitor ergueu meu queixo com o dedo e tentou secar algumas lágrimas que saiam descontroladamente. Eu me odiei como me estremeci com o toque dele.

— Não toque em mim. — Falei trêmula enquanto recuava alguns passos. — Não me chame assim, eu não sou a droga do seu amor.

— Nina eu...

— Não se dê ao trabalho de me explicar, eu realmente não quero saber. Eu nunca te pressionei a nada Heitor, eu nunca te implorei para me amar ou para ficar ao meu lado. Eu nunca te pedir para casar comigo, na verdade foi você quem fez isso. — Minha voz era mais firme e alta agora, embora lágrimas silenciosas ainda descia pelo meu rosto. — Você foi um grande covarde, obrigado por me humilhar e despedaçar a merda do meu coração.

— A culpa foi dela amor, eu... — Ele começou a falar, e eu tive que rolar os olhos diante a tamanha cara de pau.

— Você acha que isso é algum tipo de piada? Deus, como você é patético. — Aquela altura do campeonato eu realmente estava quase gritando, as pessoas ainda nos olhavam em silêncio. — Já que você faz tanta questão de ser o mais novo solteiro do pedaço, estou te dando oficialmente a minha benção, não que você precisasse dela não é mesmo? — Tirei o anel de diamante e joguei na piscina ao meu lado com toda força, eu vi quando aqueles rostos curiosos fizeram um "O" em reação ao que eu tinha acabado de fazer. — Se o diamante é mesmo verdadeiro então provavelmente você irá encontrá-lo no fundo da piscina junto com a sua dignidade.

Minhas lágrimas tinham cessado, marchei até Freya decidida e a puxei para sairmos o mais rápido que fosse daquela confusão. Eu não sei de onde tinha achado tanta segurança para fazer o que tinha feito, mas quando cheguei em casa ela sumiu e eu desabei novamente. 

De forma trágica.

É decepcionante quando você passa a vida inteira criando ilusão em cima de uma pessoa que você jurava que conhecia, mas que na verdade não era nada do que parecia. O choque de realidade era intenso de mais para ser proferido. Eu era patética por ainda assim não ter conseguido odiá-lo como eu queria, por mais triste que fosse eu ainda o amava e não conseguiria seguir em frente quando meu coração ainda acelerava a cada vez que ele me ligava insistidamente, ou me mandava inúmeras mensagens pedindo desculpas. 

Eu era fraca e o fato de saber que eu era capaz de perdoá-lo estava acabando comigo cada dia mais. Por isso, quando eu percebi que se eu perdesse mais peso eu provavelmente iria sumir, criei coragem para mudar para um lugar onde não conhecia ninguém, onde não saberia nada relacionado a Heitor e minha cidade natal pelos próximos anos. Um lugar onde eu não seria a Nina traída. Seria só a Nina... Nina Prescott. Um lugar para recomeçar. 

A verdade era que Heitor tinha sido o meu primeiro amor e eu tinha medo que ele fosse o único.   

Estúpido ContratoOnde histórias criam vida. Descubra agora