capítulo um

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Um mês antes do contrato


Nunca é tarde demais para recomeçar. Foi exatamente o que minha mãe me disse dois anos atrás quando eu resolvi largar toda a minha vida humilhante em San Dimas e seguir para Boston com 21 anos e um coração partido. Provavelmente foi a maior loucura que cometi em toda minha vida, mas não me arrependi. Aparentemente a garotinha medrosa e assustada do interior precisava de um impulso para começar a olhar o mundo além da bolha sólida que sempre esteve.

No começo foi difícil, meu pai me mandava dinheiro nos primeiros meses para sobreviver até eu conhecer Sammuel — meu vizinho de apartamento e hoje melhor amigo — e descobrir que onde ele trabalhava precisava de uma secretária. Com sua ajuda conseguir o emprego em uma das editoras de modas mais famosas de Boston. Eu amava aquele mundo. Secretamente eu sonhava em fazer design de modas, mas infelizmente a minha vida não seguiu como planejado e tal fato não era culpa de ninguém além de minha, pelo menos agora eu não precisava mais do dinheiro do meu pai e tinha com o que me ocupar mantendo minha mente longe de coisas desnecessárias. Como por exemplo, o meu passado.

Lembro exatamente em que estado eu estava quando percebi que lamentar pela minha falta de sorte no amor não ia resolver muita coisa. Eu tinha perdido dez quilos e abaixo dos meus olhos formavam bolhas inchadas e escuras, de tanto que eu chorava e das imensuráveis horas que ficava sem dormir. Eu sei. Parece uma coisa maluca, mas quando você realmente ama alguém e esse alguém te machuca a única coisa que você acha merecer é sentir essa dor. E eu senti, por mais tempo que julguei. Só que o que mais doía era ver o rosto de preocupação dos meus pais, ou os olhares assustados que Freya me enviava. Ela mal conseguia me dirigir meras palavras. Acho que no fundo ela se culpava por algo, Sasha era sua melhor amiga e o fato dela estar na festa de Heitor foi porque nós a levamos. Mas a verdade é que ninguém além deles eram os culpados. O pior que eu nunca a livrei disso. Eu estava ocupada de mais, sendo fraca.

🍀🍀

— Sam, nós vamos atrasar. — Entrei no apartamento do meu amigo aos berros. Nós tínhamos alcançado tal intimidade que permitia que um entrasse no apartamento do outro sem ao menos bater na porta. Eu estava feliz pelo patamar que nossa amizade acabou atingindo nesses anos. Quer dizer, eu nunca fui uma pessoa muito comunicativa e isso fez com que eu tivesse o menor numero de amigos possíveis durante toda minha vida.

Felizmente para minha sanidade mental e moral não deparei com o seu colega de quarto e primo agarrando alguma mulher no sofá. Eu sempre esquecia como ele podia ser descarado a ponto de ter relações sexuais na sala enquanto Sam estava apenas há um pequeno corredor de distância.

Sammuel trabalhava na área de revisão e pesquisa da editora e estava no penúltimo ano da sua faculdade de jornalismo, seu rendimento era tão bom que seu chefe já tinha lhe garantido o emprego. Diferente do outro inquilino que já tinha um mês e meio que estava desempregado.

— Jesus, Nina! Ainda nem separei minha roupa — Meu amigo saiu apressado do banheiro enrolado em uma toalha. — Você pode sentar no sofá enquanto me espera. — Gritou do quarto.

— Obrigado, mas prefiro ficar em pé mesmo, aqui nesse sofá deve ter espécies de DST's que a ciência desconhece.

— Bom dia Snake*, já destilando seu veneno a essa hora da manhã? — Um Logan um tanto sonolento e vestindo apenas um samba canção de pinguins surgiu do corredor.

Snake foi o apelido que ele arrumou para mim logo no primeiro dia que conhecemos. Isso porque segundo ele eu o insultei de forma pretensiosa quando disse que ele era um ser humano mesquinho. Eu juro que não tive culpa. Ele simplesmente viu meu sofrimento enquanto eu carregava todas as minhas malas escada acima, quando na minha ultima viagem ele soltou um sonoro "bom dia, aqui tem um elevador nos fundo que funciona". Ah, tenha santa paciência. Isso porque ele não fazia ideia o quanto eu o esganei mentalmente. Desde então nós não paramos de implicar um com o outro. Era divertido irritá-lo e era algo que eu conseguia fazer com sucesso.

Estúpido ContratoOnde histórias criam vida. Descubra agora