— Precisamos de mais panos, rápido! — o desespero ecoou por toda a casa enquanto mais e mais o líquido preto escorria da ferida e boca de Edward ao ponto de transbordar das mãos trêmulas de Mieczyslaw, se espalhando pelo sofá e chão.
Pela segunda noite seguida todos eram movidos pelo caos, lealdade e mais cafeína do que qualquer médico sensato recomendaria. Pelo chão inúmeros panos e bacias estavam espalhados, as peles de todos os ali presentes refletiam de tanto suor, somente uma pequena amostra de todo o esforço que fizeram. Neste ponto Mieczyslaw agia no modo automático, tão esgotado que cada vez menos a adrenalina fazia efeito, mas ainda assim recusava-se a parar, a fechar os olhos por mais de alguns segundos, a se afastar mesmo que para tomar um gole d'água. Edward iria sobreviver, custe o que custar.
"Eu não sinto o pulso dele!" aquela simples frase de Jan o acertou como um soco no estômago.
Não, isso... isso não pode estar acontecendo.
Suas mãos estavam trêmulas mas sequer ligou. Aos poucos, como se o mundo todo estivesse em câmera lenta, cada pequeno detalhe o atingiu: as sardinhas que tanto beijou quando estavam a sós, os lábios cômicamente rosas que tanto comparava aos das princesas da televisão, as mãos suaves que por horas acariciaram seus cabelos. Agora tudo estava sujo, corrompido por aquele maldito líquido preto, quase como um piche.
Todo o ar lhe fora roubado de repente, a garganta travada como uma punição por aquilo. Edward iria morrer por sua culpa, por culpa de um maldito lobisomem, por culpa daquela cidade infestada de monstros.
Ainda sentindo-se dentro de uma bolha, longe de todo o resto do mundo, levou a mão direita até a bochecha de Edward, o polegar acariciando levemente aquela maçã do rosto marcada que tanto amava beijar.
Em sua mente inúmeros pensamentos mórbidos gritavam, alimentados pela culpa mortal que lhe preenchia a cada instante. Mas havia uma voz diferente das outras, um pensamento que se arrastava por entre os outros subindo cada vez mais em direção à superfície.
Ele não vai morrer, não hoje.
Por um instante foi como se o fogo tomasse conta de tudo. A visão focada em Edward foi inundada por um clarão tão forte, quase o bastante para cegá-lo.
E então a escuridão.
***
Quando abriu os olhos a escuridão foi a primeira coisa que notou. Durante tanto tempo se viu acompanhado da escuridão, quase como uma velha amiga, sempre acompanhada de um calor confortável após tantos dias difíceis. Desta vez, no entanto, não houve calor algum. Apenas aquele simples vazio.
Não houve hostilidade ou frieza, apenas... vazio.
Olhou para todos os lados, gritou tantas vezes quanto possível ao ponto de não escutar mais sua própria voz, correu até não sentir mais as pernas de tanto cansaço mas no fim, não houve nada além da escuridão.
Não havia minutos para contar, dia ou noite para se localizar. Sequer soube estar ali por cinco segundos ou três meses, tudo parecia igual, como se estivesse parado no tempo.
Isso até os murmúrios começarem, vozes estranhas, abafadas, como se viessem de um lugar muito distante. Nas primeiras vezes não conseguiu entender uma única palavra e ainda assim sentiu-se feliz, como se enfim a solidão estivesse chegando ao fim.
"Quando você acha que ele vai acordar?"
"Sinceramente... eu não faço a menor ideia."
Aquelas foram as primeiras frases que conseguiu escutar com clareza, então vieram as outras, cada vez mais frequentes.
"Ei, eu não vou dizer ao Xerife que matamos o filho dele!"
— Você o quê? — então a escuridão se rompeu, como uma bolha de sabão que enfim se chocou contra o chão, deixando que a voz cansada fosse enfim escutada.
"Eu disse que não vou- espera, chefe?"
Mãos envolveram seus ombros e quando deu por si um grande chacoalhão fez com que abrisse os olhos, dando de cara com um par de olhos castanhos claros arregalados em choque. Como se não fosse surpresa o bastante, também viu um par de olheiras e cabelos tão bagunçados que podia jurar serem seus, mas na verdade pertenciam a Hans.
— O que diabos aconteceu com você? — franziu o cenho ao falar, mais chocado com a falta gel naquele cabelo do que com o fato de ter acordado depois de sabe-se lá quanto tempo.
Um instante de silêncio se seguiu, transformando a expressão surpresa de Hans em uma de completo rancor.
"Você aconteceu comigo, seu pestinha. Sabe quanto tempo eu fiquei sem dormir? Uma dica, muito mais do que o meu sono de beleza precisa!" os lábios do homem se moviam sem parar, despejando em ofensas todo o nervosismo que sentiu durante a inconsciência surpresa do jovem chefe.
As frases, no entanto, nunca chegaram à Mieczyslaw. Mesmo que observasse os movimentos contínuos dos lábios de Hans, sua mente vagava para muito longe com a volta repentina das memórias do último acontecimento, do nervosismo, o piche, dos malditos lobisomens.
"Eu preciso dorm-" sequer pensou duas vezes antes de pular da cama e correr porta afora, deixando um Hans atordoado para trás.
— Edward! — cambaleou escada abaixo, os olhos estalados virando de um lado para o outro à procura de uma cabeleira conhecida. Quanto tempo teria se passado? Horas, dias? Havia um corpo a ser enterrado ou...
Só bastou colocar os pés fora da escada para escutar aquele barulho, murmúrios animados vindos do sofá, onde, ao olhar, pôde ver quatro jovens reunidos ao redor de um jogo de tabuleiro.
Os cabelos platinados dos gêmeos foram os primeiros detalhes que captou, seguido da camisa polo de Jürgen e então aquele par de olhos redondos.
Piscou, tornando a encarar toda a cena com uma expressão incrédula. Logo à sua frente estava Edward, vivo, mas diferente. Os cabelos claros ainda eram os mesmos, tal como os olhos e a cor da pele, mas algo não se encaixava.
Talvez fosse o sorriso confiante ou a camiseta, geralmente tão larga mas que agora servia a ele como uma luva, o tecido marcando com perfeição um par de músculos desconhecidos à Mieczyslaw. Aquele ali era Edward, uma nova versão dele.
— Edward, você...— as palavras simplesmente escaparam, levando consigo aquele tom de culpa tão familiar ao Stilinski.
"É, meio que sou um novo amigo da Lua." a cabeça do mais jovem lobisomem se virou rapidamente em um sinal de reflexo, como se soubesse da presença do namorado muito antes da voz dele se fazer presente. Apesar da tranquilidade na voz, aqueles olhos não eram capazes de ocultar o nervosismo no interior dele.
Um silêncio desconfortável tomou conta do ambiente e todos aqueles pares de olhos se voltaram para Mieczyslaw. Não havia sequer a sombra de um sorriso, todos aguardavam pacientemente por uma reação, quaisquer fossem as próximas palavras ditas, elas ditariam o futuro de todo aquele grupo.
Desta vez não houve dúvida alguma na mente do jovem Stilinski. Teve de ver seu namorado ser transformado sem consentimento, se esgotou até a inconsciência para mantê-lo vivo, sem contar as imagens do líquido preto que não seriam esquecidas por um tempo. Tudo isso por causa de um lobisomem.
— Nós vamos à caça. Quem quer que tenha feito isso sofrerá as consequências.
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Demorou mas a atualização veio :)
Lembrando que a revisão (reescrita) dos capítulos antigos continua, então dêem uma olhada lá quando puderem.A trama real da história chegou ao início, então se preparem.
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𝐌𝐚𝐟𝐢𝐚 - 𝐓𝐞𝐞𝐧 𝐖𝐨𝐥𝐟
FanfictionQuando os conflitos entre Stiles e a matilha chegam ao ápice uma expulsão é capaz de mudar o mundo por completo. Livre dos amigos e de Beacon Hills, é necessário somente uma viagem à Polônia para que o antigo Stilinski fique para trás permanentement...