𝐌𝐚𝐟𝐢𝐚 - 𝐓𝐞𝐞𝐧 𝐖𝐨𝐥𝐟

McCall (Revisada)

O sono não tardou a atingir Stiles após algumas horas de espera, deixando-o num ressonar tranquilo no acento enquanto pouco a pouco o mais velho dos Stilinski recobrava a consciência. De primeiro momento, a única reação de John foi piscar lentamente, tentando enxergar o desconhecido sob a onda de sono que os remédios causavam. Em instantes, quando a visão entrou em foco, captou aquele rosto tão famíliar cheio de pintinhas como bem se lembrava.

"Stiles?" murmurou rouco, o espanto afastando o sono abruptamente. Seu menino estava diferente, muito diferente. O rosto, quase ainda o mesmo, começava a perder àquela macies juvenil, o corpo já não era o de um adolescente frágil mas sim de um homem forte e capaz. Estreitando os olhos, pôde notar até mesmo uma tatuagem nas mãos parcialmente escondida pelas mangas de uma blusa.

Não esperava revê-lo em algum tempo, assim como não esperava que seu jovem e até então inocente filho se tornasse um mafioso, ou então que em plenos 65 anos fosse baleado em um dia de trabalho. É incrível como o destino pode ser irônico. 

Revirando os olhos para a ironia do destino, se ajeitou na cama, tentando achar uma posição menos desconfortável. Por sorte, não precisou esperar que Mieczyslaw acordasse pois o barulho do colchão fez o serviço primeiro. Mal conseguiu abrir a boca para cumprimentar o rapaz antes de ser engolhido por um abraço abertado, que sem querer atingiu alguns dos curativos.

"Ei garoto." cumprimentou John, e mesmo a dor pelo contato não seria suficiente para afastar a felicidade que sentia. 

— Ops, desculpa. — abriu um sorriso constragindo o adolescente ao se afastar com rapidez, preocupado com a saude do velhote. — E oi. Eu até ia perguntar se 'tá tudo bem, mas né. 

O nervosismo de outrora desapareceu ao notar que no fim das contas tudo parecia igual, mesmo depois de vários meses afastados. Arrastou a cadeira para perto do pai e ansioso como era, voltou a conversar à meio milhão de palavras por segundo. Não podia esperar para contar todas as novidades, e ouvir as dele também.

— E também tem o Ed, o senhor vai amar ele, juro. — e iniciava-se assim então o monólogo sobre todos os companheiros que trouxera consigo. 

A conversa rendeu por um longo tempo. Mieczyslaw quase pulou da cadeira ao escutar o falatório sobre Melissa, a qual o Xerife finalmente tinha chamado para sair depois de muita enrolação. Poderiam continuar assim por horas se não fosse o bater da porta, que anunciava a presença de um novo e inesperado visitante.

"Stiles?"

Como num piscar de olhos, toda a felicidade no rosto do Stilinski se escondeu sob uma fachada de frieza quando levou o olhar ao rapaz no meio do quarto, dono de um característico queixo torto. Por um breve momento, quase acreditou na expressão feliz no rosto do verdadeiro alfa, mas então a memória dos últimos dias em Beacon Hills voltaram à sua mente. Os dias tristes em que fora ignorado ou tratado rudemente pelos que mais confiava. Nada disso seria esquecido com sorrisos ou quais quer pedidos de desculpa. 

— McCall. — recostou as costas na cadeira, mostrando um belo sorriso sínico, que pareceu atingir Scott como um soco no estômago. — Sabe, eu podia ter certeza de que somente familiares são permitidos. 

"É que... eu" como se as palavras ficassem presas em sua garganta, Scott não pôde mais do que murmurar palavras desconexas. Para o lobisomem, sentia-se como se visse o pior dos fantasmas à sua frente. Se por um momento pensou em abraçar o antigo melhor amigo, agora só conseguia paralizar diante à frieza do mesmo. Toda a esperança de deixar o passado para trás sumiu em questão de segundos. "Stiles, podemos conversar? Por favor, eu só quero-

— Desculpe McCall. — interrompeu bruscamente, forçando toda a raiva, todo o fogo em seu interior para o mais longe possível. Podia ter um controle invejável, mas Scott o tiraria do sério com facilidade se deixasse. — Mas Derek deixou claro que não nos quer juntos. Uma pena eu diria, mas sabe como é, são ordens. 

Rindo, finalizou a frase ao apontar para a porta por onde McCall entrara minutos antes. — Acho melhor você sair. 

O adolescente lupino pareceu pronto para discutir, e realmente iria se não fosse interrompido por John, que prevendo a dor de cabeça pela discussão achou melhor intervir.

"Scott, por favor."

Sem mais opções, deu um último olhar triste para a dupla antes de sair da sala. Algo em Mieczyslaw sentia que não iria demorar para o bando todo saber de seu retorno. Só esperava que não fizessem alguma loucura com isso.

— No começo foi tudo bem bizarro, mas com a Janel e o Jan me ajudando, deu tudo certo no fim. Aí quando eu descobri o que aconteceu com você... — estreitou os olhos numa expressão de desaprovação pelo trabalho perigoso do pai. Apesar de continuar a falar com tranquilidade, dentro de si um turbilhão de emoções há muito tempo adormecidas voltavam à cena. E ainda é só o primeiro dia. — Eu aproveitei que tinha um tempinho sobrando e vim.

"História incrível Stiles, mas cadê o seu namorado? Eu quero conhecer o garoto que te deixou apaixonadinho assim." aproveitando de seu direito como pai, John usou um tom de voz firme, que apesar da brincadeira deixava claro o quanto queria  de fato conhecer o menino e julgá-lo por si mesmo.

Num riso envergonhado, alcançou o celular e com rapidez digitou uma mensagem de texto para Edward, que após um breve surto com muitas figurinhas e mensagens em letra maiúscula, avisou estar a caminho. — E aliás, me chamam de Mieczyslaw agora.

Em meio aos devaneios da dupla, não demorou para que escutassem uma batida na porta, que então teve uma fresta aberta por onde Edward enfiou a cabeça, procurando saber quais os ocupantes do quarto. Um sorriso surgiu no rosto do mais novo ao conectar os olhares com os do namorado e sem coragem alguma, entrou pela porta.

Sentindo-se entrando na cova dos leões, Edward se tornou rubro no instante em que achou o sorridente John Stilinski, que assim como o filho parecia achar a situação hilária.

Em busca de tranquilizar o namorado, Mieczyslaw levantou da cadeira e cumprimentou-o com um beijo na bochecha. Com as mãos entrelaçadas, seguiram juntos para mais perto da maca, onde John permanecia a espera.

— Pai, esse é meu namorado, Edward Kowalski. — tratou de falar no outro idioma para que todos os presentes participassem da conversa. Em resposta, pôde observar a expressão desaprovadora de John, que escondida ao máximo um sorriso.

"Meu filho corrompendo um garoto tão jovem, que decepção." fingia um tom choroso, que mal durou um minuto antes que explodisse em risadas.

E assim a tensão foi quebrada, por uma crise de risos que se espalhou como um vírus pela sala, resistente à qualquer explicação que Mieczyslaw insistia em dar.

— Ei! Ele é só um ano mais novo!