Naquela manhã todos nós havíamos acordado contentes. Estávamos muito animados para a viagem e até mesmo Dylan me parecia um pouco feliz. Dylan nunca foi de demonstrar emoções, era fechado e imprevisível. Mas naquela manhã, até mesmo ele parecia bobo de felicidade.
Aquele era nosso recomeço, entende? Estávamos todos prontos pra deixar tudo para trás e começar uma nova vida. Eu estava mais que tudo no mundo disposta à isso.
— Quer ajuda, querida? — Percebi seus poucos cabelos grisalhos sobre a porta, e seu sorriso branco colidir com a luz que se infiltrava pelas cortinas.
Ele não sabia que eu havia descoberto que ele não era realmente meu pai, e não iria descobrir tão cedo. Eu estava esperando o momento em que ele me dissesse e esclarecesse tudo, e logo depois me desse um abraço apertado como eu sempre via nos filmes. Mas esse momento não iria chegar... Ele nem ao menos teria oportunidade.
— Não precisa, eu já estou terminando. — Sorri de volta enquanto apertava sorrateiramente as roupas bagunçadas para dentro da mala.
Ele riu, balançando a cabeça em negação e seguiu até mim. Sentou-se na cama, ao lado da mala, e me ajudou a dobrar as roupas de cima.
— Olha, eu sei que não estou sendo muito presente, mas prometo que isso irá mudar, okay? — Ele olhou fundo em meus olhos me silenciando com a feição de seu olhar, apenas assenti com a cabeça. Percebi o mesmo levantar-se e seguir até a cômoda tomando um porta retrato em suas mãos. — A propósito, é uma bela fotografia, não acha? — Me mostrou a foto onde estávamos nós dois. Meu pai um pouco mais jovem, e eu com apenas dois anos de idade. Eu sorri.
Logo entramos no carro, afivelamos os cintos e seguimos viagem. Meu pai dizia a todo instante para Mike tomar cuidado, pois seu cinto era o único no qual estaria frouxo e quebrado, mas Mike pouco se importava, afinal, ele era apenas uma criança para se preocupar com algo tão importante. Com o tempo escurecendo, mal pude imaginar que choveria naquela tarde, e tão forte como choveu. Percebi as gotas de chuva caindo levemente sobre a janela de vidro e como elas corriam umas contra as outras e até mesmo, pelas outras.
As estrelas falavam comigo, como uma forma de me avisar. Eu apenas não quis escuta-las. Meus pais discutiam logo a frente e isso impedia-me de me concentrar apenas em meus pensamentos. E logo depois, o clarão tomou meus olhos, e em seguida, a escuridão.
Acontece que naquele começo de noite meus pais discutiam. Meu pai não conseguiu manter a atenção sobre seu volante, indo para a pista vizinha e colidindo seu carro contra o de outra pessoa. Nosso carro capotou, e Dylan que estaria sem seus cintos, foi o primeiro a ser arremessado para fora. Os air Bags quase salvaram minha mãe, se não tivessem atingido-a bruscamente, fazendo-a bater forte sua cabeça em um brinquedo de Mike que voou em meio a confusão, perfurando seu crânio. Mike, Ah Mike... Seu cinto de segurança desprendeu-se por estar mal colocado, sendo ele o segundo a ser arremessado para fora do carro. E meu pai, o Air Bag não funcionou, fazendo-o bater a cabeça no volante.
Você deve estar se perguntando o que aconteceu comigo. Mas sinceramente, nem mesmo eu sabia. A única coisa na qual realmente me lembro era de apertar meus olhos numa tentativa de diminuir a dor do impacto, escutar gritos aterrorizados e logo depois, a escuridão.
Uma dor extrema me tomou em seguida. Eu apenas não sabia dizer se era física ou psicológica. Apenas doía.
E numa tentativa de me recuperar, aquela poderia ser eu, a Hayden.
A propósito, eu sou a Hayden, não é mesmo?
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Uma Chance Pra Recomeçar [CONCLUÍDO]
Non-Fiction"É difícil subir à superfície quando você já está se afogando." Hayden é uma garota de doze anos que através de um acidente fatal, teve a livre escolha de permanecer ou partir. Acompanhe-na nessa estória emocionante na qual Hayden conta quem...