Um rosto novo, uma confusão nova

32 0 0
                                    

As folhas do chão esvoaçantes traziam a manhã de outono em Londres, o tempo era gelado nada novo para os britânicos.  Existia ali um bairro pequeno, Rogate, Hill Brow, uma vizinhança agradável por assim dizer. No entanto, a casa com a cor marrom escuro com telhas também marrom escuro mas alguns detalhes em brancos destacava a casa, lá vivia a família a família Karter.
—Yaaaaa!
O mais velho, Jonathan Brandon Karter fora acordado por seu irmão mais novo de 6 anos, Thomas Brandon Karter. Jonathan tinha apenas 16 anos de idade, no dia depois de amanhã faria aniversário de 17, ainda frequentava a escola e vivia com seus pais, sua vida era quase perfeita.
—Por que tá me acordando essa hora? —Perguntou o mais velho, esfregando os olhos. —São 7 da manhã, Tommy, vá dormir.
—Nem pensar! Veeeeem, você tem que ir pra escola! —Disse Tommy, tirando as cobertas do mais velho.
Jonathan então se ligou que tinha a escola para frequentar, balançou a cabeça levemente e se levantou, o mais novo saiu pulando do quarto dele. Jonathan foi ao banheiro e depois se trocar, assim que vestiu o uniforme da escola saiu de seu quarto e encontrou sua mãe cozinhando junto com o caçula que apreciava a culinária desde o maternal, Brandon às vezes desconfiava se era ele quem esquentava as mamadeiras na creche.
—Bom dia querido. —Disse a mãe de Jonathan, Elizabeth, se debruçou e deu-lhe um beijo na testa. —Dormiu bem?
—Oi mãe. Deveria processar a escola que eu estudo, sabia disso? —Respondeu o mais velho, pegando uma torrada.
—Por que diz isso, filho?
—Olha para mim mãe, pareço aqueles engomadinhos e mauricinhos... —Suspirou ele, mais irritado do que chateado.
—Você fica uma graça com ele, querido. Não fale essas coisas, não podem te julgar sem te conhecer. —Disse a mãe dele, que tinha sempre consigo uma voz serena, uma aparência linda e toda a energia que ela transmitia era de tranquilidade.
—Você parece um Zé Mané. —Disse o caçula rindo dele.
Brandon mostrou a língua para o irmão, colocou a alça da mochila no ombro e saiu do recinto.
—Até logo, mãe.
Antes que ele fosse, ela colocou a mão em seu ombro e se abaixou diante dele. Acariciou os cabelos negros do menino, olhou para seus olhos azuis com pequenos detalhes dourados, ajeitou a roupa dele em seguida lhe deu um beijo na bochecha. Elizabeth era uma mulher linda, cabelos castanhos e olhos verdes, a pele saudável e o sorriso tão belo quanto um lindo por do sol.
—Não fique triste porque alguém que disse alguma coisa, você é um bom menino, aguente firme, isso vai passar. —Disse ela, a voz calma e acolhedora.
—Tudo bem... —Disse ele olhando para o chão.
—E também não ligue para o seu pai...o que ele faz é para te ajudar, unicamente te ajudar.... —Falou enquanto acariciava o rosto do filho.
Ela se levantou lhe dando um beijo no rosto e lhe deu um bolinho que Tommy fizera ontem com a mãe, Brandon sorriu e olhou o horizonte. Viu dali um caminhão que parecia ser de mudanças e uma menina morena que observava ele pela janela, Brandon desviou o olhar e seguiu seu rumo para o caminho da escola.

Na escola ele andava sozinho pelos corredores, cheio de adolescentes conversando e trocando bilhetinhos entre garotos e garotas, alguns dando sorte, outros azar, mas Jonathan ficava apenas na dele, não querendo confusão. Até que eles chegaram. Os dois valentões que sempre implicavam com o menino, empurraram Brandon para a parede e jogaram suas coisas no chão, em seguida ele foi ao chão. Os garotos saíram correndo trocando risadas e toques, como se aquilo fosse algum esporte e eles acabassem de fazer pontos em parceria.
Jonathan pegou os cadernos do chão, em seguida o bolinho que recebeu da mãe e do irmão, estava amassado. Ele suspirou e foi para a sala depois de ter pegado suas coisas. Se sentou na cadeira e lá pôde perceber todos os tipos de garotos e garotas. As patricinhas, onde garotas ainda novas usavam maquiagem e sempre pisavam uma nas outras para erguer o ego, maior que isso só se for o orgulho, e o fato de ser mimadas só as piorava. Os certinhos, eram aqueles que sempre faziam dever de casa, trabalhos, pesquisas, tudo no mesmo dia e ainda tinha a capacidade de medir Q.I contra o próprio professor. Os mauricinhos são aqueles que já eram atletas, geralmente saíam com as patricinhas, e elas só saíam com eles. Os nerds que não eram muito diferente dos certinhos, mas estes eram mais chegados em video-game e teoria da conspiração, algo assim. Jonathan era o solitário, não conversava com ninguém, ninguém conversava com ele, era um fantasma dentro daquela sala, a não ser e claro pelos valentões, pois por acaso eles também eram de sua sala, e ficavam sentados logo atrás dele.
Aquele dia não estava sendo tão mal, Jonathan foi derrubado duas vezes pelos valentões e ninguém aprontou com ele ainda. O menino estudava em período integral, ficava na escola até às quatro horas da tarde.
Brandon estava na sala como todos os outros, após ter vindo do almoço, ele não comeu nada pois estava sem fome, ele deitou sua cabeça no braço olhando para o chão enquanto a professora de geografia falava algo sobre placas tectônicas. Então a porta se abriu, ele não se interessou para ver quem era, então apenas ficou na dele.
—Turma, esta é a nova integrante da classe, quer se apresentar, querida? —Disse a professora.
Jonathan franziu o cenho e olho para frente ainda com a cabeça baixa, viu uma garota que aparentava ser alguns meses ou até um ano mais velha que ele, tinha cabelos castanhos, batiam até os ombros, usava roupas rebeldes pois ainda não tinha recebido o uniforme e mascava um chiclete. Apesar de seu estilo rebelde, ela não era, a aparência era de uma pessoa doce e alegre. Tinha olhos tão azuis que pareciam janelas para o céu de verão. Não dava para perceber se ela tinha corpo ou não, Brandon não reparava em corpos mas o dela especificamente não pois usava calças um pouco largas e jaqueta.
A menina deu um passo a frente, ela não era tímida.
—Oi..ahn...meu nome é Jéssica, tenho 17 anos, fui transferida para cá pois me mudei recentemente para Rogate, Hill Brow.
Jonathan parou de ficar de bruços na mesa e deixou seu corpo ereto, isso era porque o nome daquele lugar era exatamente onde ele morava, então, ele tinha conseguido uma vizinha da sua idade.
A professora agradeceu a Jéssica, mas quando ela foi andar, Jéssica deixou os livros caírem, por nervoso pegou tudo depressa, Brandon ficou olhando-a com um mero sorriso no rosto.
—Jonathan? —Chamou a professora.
Ele se levantou.
—Mais tarde vá a diretoria, ela tem uma palavrinha com você.
Ele revirou os olhos, quase sua vida inteira aprendendo nessa escola cores e o som que o cachorro faz é "au au" e o da vaca é "muu muu" ele ainda tinha receber atenção especial.
—De novo? Professora, eu já aprendi o som que a vaca faz.
A classe inteira riu, inclusive Jéssica a aluna nova, e então a professora apontou para a porta. Jonathan saiu, queriam fazer ele limpar o bolinho que tinha recebido da mãe enfiado na cara do menino que se engasgou com ele, aquilo fez Brandon sorrir vingativo.
—Por isso eu não como os bolinhos que meu irmão faz.
Ele voltou para a classe e a aula seguiu até o soar do sino, indicando que as aulas por hoje já tinha acabado, todos os alunos saíram rapidamente enquanto Jonathan saíra por último, espera, por último? Jéssica estava ao seu lado, sorrindo para ele e lhe oferecendo uma barra de chocolate.
—Ei, você é o Jonathan, não é? —Perguntou Jéssica, sorridente.
—Sou. —Respondeu Jonathan, tímido.
—Eu sou Jéssica, e vi o jeito que você caiu no corredor, foi maneiro. —Ela deu um soquinho no ombro dele rindo. —Quer ir na minha casa hoje? Mamãe disse que eu tinha que me enturmar e levar alguém pra casa pra comer o que ela fez.
Jonathan ficou sem reação, paralisado, nunca alguém tinha convidado ele, na verdade, nunca falaram com ele naquela escola a não ser xingamentos ou ir para a diretoria.
—Bom, se isso foi um sim, me encontra naquela árvore atrás da escola. —Ela deu outro soquinho amigável no ombro do menino e lhe deu a barra de chocolate.
Ele piscou várias vezes e olhou para a barra de chocolate, Jonathan nunca se atrasou para chegar em casa, talvez a família iria ficar preocupada, mas como eles eram vizinhos não veria muito problema.
Depois que quase todo mundo saiu do colégio, Brandon saíra com a alça da mochila na mão e indo para atrás do colégio. Lá estava ela sentada em uma árvore, rabiscando alguma coisa com o lápis. Mas quando ele se aproximou ela sorriu olhando para ele.
—Olha só, o mudinho decidiu vir. —Disse ela rindo.
—Acho que meus pais vão se preocupar. —Falou ele,  com a voz meio baixa, com certeza ele era mais tímido que ela.
—Relaxa! Na sua casa tem telefone? A minha mãe liga pra sua. Não irá receber bronca.
Ele suspirou, talvez ela devesse estar certa. Ele olhou melhor para o caderno que ela estava segurando e...espera, era o caderno dele? Onde ele desenhava?
—Esse aí é o meu caderno? —Perguntou Jonathan, curioso.
—Ah, desculpa, eu vi também que você desenha, fala sério, aquelas coisas que você faz com as mesas não são normais, você deveria ser artista. —Respondeu Jéssica, devolvendo o caderno para ele.
Jonathan pegou o caderno e nele havia um desenho perfeito de toda a sala, e o próprio Brad debruçado sobre a mesa olhando para frente, em cima de sua cabeça um balão de pensamento cheio de coisas como formas de círculos, cavalos, dragões, cavaleiros, magos, tudo do mundo da fantasia. Ele olhou para ela como se tentasse descobrir como ela saberia o que se passa na cabeça dele.
—Ah, desculpe, eu fiz isso porque fiquei com tédio aqui. —Ela brincou com os dedos enquanto olhava o caderno.
—Eu deveria ser artista? Olha só esse desenho...como sabe que eu penso em tudo isso? —Perguntou ele, impressionado. —Como conseguiu pegar meu caderno?
—A combinação do seu armário é muito óbvia. Ah, os mais calados são os que geralmente tem mais coisas pra dizer. —Disse Jéssica dando um sorriso a ele. —Bom, podemos ir, Jonathan?
—Me chame de Brad, soa menos mauricinho. É a abreviação de "Brandon". —Falou depois que guardou o caderno em sua mochila e andou junto com ela.
—E me chame de Jess, soa mais legal.
No caminho para casa, o que era mais ou menos 40 minutos andando, eles conversaram bastante. Jonathan descobriu que Jéssica tinha a mãe que trabalhava com arte, e o pai que também era artista, ela era do Queens e veio para cá em busca de amigos novos, de chances novas, pois onde eles estavam não estava nada bem pro lado deles.
Brad lhe contou sobre a família. Sobre seu irmão caçula Tommy, sobre sua mãe que sempre era dócil com ele e sobre seu pai. Brad não gostava muito de mencionar o pai pois o mesmo era muito rígido com ele, sempre pegando no seu pé, sempre brigando, nunca deu um agrado especial a ele, apenas ordens e brigas.
Chegando no bairro deles, Jéssica mostrou a casa onde morava, era simples como a de Brad, porém a cor era amarela com telhas brancas. Eles entraram e deixaram os sapatos na entrada pois pelo que parecia a família de Jéssica não gostava de sapatos pela casa, pelo visto eles adoravam o fato de poder serem livre de calçados. Brandon ficou com vergonha de mostrar suas meias um pouco velhas e quase rasgadas, Jéssica apenas sorriu e chamou ele para a cozinha.
—Mãe chegamos! Trouxe um amigo!
Disse Jéssica. Brad estava observando a cada detalhe da casa, cada móvel, até ver a mãe de Jéssica.
Ela sorriu para os dois. Era uma mulher extremamente bonita, longos cabelos loiros, a pele era branca e bem cuidada, seus olhos azuis eram como os de Jéssica, o sorriso era dócil, parecido com a de sua mãe. Era como se Jéssica fosse uma cópia em treinamento da mãe, pois a mãe dela andava graciosamente, enquanto Jéssica era meio desengonçada.
—E posso saber o nome do nosso querido convidado? —Peguntou a mãe de Jéssica, sorrindo.
—Jonathan, Jonathan Brandon...ahn...meio que somos vizinhos, eu moro a algumas casas daqui. —Respondeu ele, apontando mais ou menos a direção para onde estava a sua casa.
Aquilo pareceu ser uma notícia tão boa quanto um "você ganhou um milhão de dólares" pois a mãe de Jéssica abriu um sorriso enorme.
—Que ótimo! Somos vizinhos! —Disse Jéssica, mas pelo seu tom de voz parece que já sabia daquilo.
—Isso é ótimo, bom, eu me chamo Marie Hope, meu marido se chama Robert Hope, ele logo logo chega. —Se apresentou a Sra Hope estendendo a mão para Brad.
—Oh, muito prazer Sra Hope. —Respondeu Jonathan, meio tímido, mas mesmo assim segurou a mão dela de leve.
—Vejo que foi bem na escolha do seu novo amigo, Jéssica, ele é bem educado.
As duas se entreolharam rindo e Jonathan não entendeu muito bem, era uma maneira de dizer com o olhar para a filha de que ele era bonito.
A porta se fecha fazendo o barulho e logo se ouve um "Querida, cheguei!" Uma voz animada que aparentava ser de alguém que desconhece o termo "mal dia".
—Papai! —Jessica correu até seu pai lhe dando um abraço, o mesmo a abraçou fortemente e deu vários beijos em seu rosto.
Brad ficou observando aquilo quieto, suspirou até que ele foi notado pelo homem, o que seria Robert.
—Ah então você é o famoso Jonathan, como vai, rapaz? —Perguntou ele estendendo a mão para Brandon.
—Muito prazer Sr Hope, tem uma bela casa.
" 'Famoso Jonathan'? Quer dizer que Jéssica andou falando sobre mim? —Pensou Brad.
—Iriam começar o jantar sem mim? —Disse uma voz vinda da escada descendo devagar.
Apareceu uma garota, tão jovem quanto Jéssica, na verdade aparentava ser um pouco mais velha que ela. Também era loira, como a mãe, mas um loiro meio falso, pois suas sobrancelhas era de cor castanha, e seus olhos também eram castanhos. Seu rosto era fino, os lábios contornados e bem desenhados, a garota tinha uma certa beleza natural, ela era o tipo de garota que ficaria bonita até sem maquiagem.
—Oh, quase me esqueci de você, amor. —Brinca o Sr Hope. —Jonathan, esta é Amélia, Amélia este é Jonathan, nosso vizinho.
Ela o olhou e lhe deu um sorriso tão bonito que fez o garoto ficar um pouco sem graça, mas se olhasse melhor juraria que tinha visto Jéssica com expressão impaciente, como se não fosse a primeira vez que a sua irmã roubasse a atenção de seus amigos assim.
Conversa vai, conversa vem até que algo apita, era o forno, o cheiro era de queijo quente e molho de carne, o que Jonathan chutou que seria carne moída. A Sra Hope tira do forno uma bela lasanha de dar água na boca, ela pede para que nos sentamos.
Jonathan nunca tinha provado lasanha antes, mas conhecia uma quando via, era simplesmente deliciosa e se sentiu culpado por ele estar comendo e sua família não.
Quando acabaram de jantar, todos foram para a sala de estar na lareira.
—Ta legal, sua vez pai.
Jéssica joga um ursinho de pelúcia em seu pai, ele o pega e começa a falar.
—Hum, bem, hoje eu vendi por um preço bom um dos melhores quadros que já fiz, eu acho que vou fechar negócio amanhã com um grande admirador da arte e talvez eu saia nos jornais! Dá pra imaginar?  —Disse o Sr Hope, entao Jonathan estava certo, o pai dela era artista e feliz.
—Ta legal... —Ele jogou o ursinho e Brad o pegou. —Sua vez, garotão.
Jonathan olhou para eles não entendendo direito. Jéssica colocou a mão no ombro dele.
—É assim que funciona, quem pega o ursinho conta como foi seu dia, ou alguma história passada, o que você tem pra nos contar?
—Bom.. —Jonathan começou —Hoje provavelmente seria mais um dia monótono e sem graça, mas aí essa menina apareceu e fez tudo valer a pena.
Brad a olhou sorrindo, e ela retribuiu o sorriso.
—Considere-se da família, rapaz. —Disse o Sr Hope sorrindo. A Sra Hope assentiu levemente com a cabeça.
No fundo, tocava uma das músicas clássicas numa vitrola, até que começa a tocar uma que eu acho que era jazz, talvez?
—Opa! Essa é a nossa música, venha querida, vamos mostrar para esses jovens como a gente se divertia. —O homem puxou a mulher dele que ria alegremente e começaram a dançar.
Jonathan e Jéssica estavam sentados vendo os dois, rindo e sorrindo, eles dançavam bem, parecia aqueles filmes de romance. Jéssica olhou para Brad e pegou sua mão rindo, se levantou e forçou o menino a dançar também, Jonathan meio duro tentou dançar mais saiu algo bem engraçado. Logo a irmã de Jéssica, Amélia, queria dançar com ele também, então o chamou e ele meio tímido aceitou.

Soldado ÔmegaOnde histórias criam vida. Descubra agora