Consultório

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Estou sentado na última cadeira, se usar a porta como referencia para contagem, é uma sala de espera bem agradável pra falar a verdade, entretanto não acho que seja o suficiente para que alguém se sinta confortável aqui, a espera é inevitavelmente irritante, tem um cheiro razoável de lavanda, uma mesa de centro com algumas revistas organizadas por ordem cronológica, um aparelho de televisão no alto, acima do local onde fica a moça da recepção, um balcão, com uma pedra de mármore e alguns panfletos sobre ela, nada muito elaborado, apesar da madeira envernizada utilizada como base ser a coisa mais esteticamente prazerosa aos olhos, uma caixa de alto falante onde são anunciados os próximos a serem atendidos acima da porta. A cor da sala é mórbida um verde vômito, pelo visto foi um grande equívoco pensar que por ser um consultório de psicologia teria cores mais "alegres" ou pelo menos que passassem essa mensagem, essa cor me causa uma aversão a este lugar.
Ao menos, tem uma coisa interessante acontecendo aqui, a Maria da recepção está encarando o relógio do outro lado da sala a pela menos meia hora, e verificando o celular mais vezes que seria considerado normal, seus olhos estão com olheiras sinal que não teve uma boa noite de sono, já roeu metade das unhas que foram feitas recentemente. A única coisa que tem me segurado aqui foi a curiosidade de saber o que angustiava tanto a nossa adorável recepcionista, todavia ela parece ter recebido a noticia que estava esperando. Acho melhor ir embora e deixar isso pra semana que vem.
Droga é a minha vez, bom, parece que não tenho escapatória afinal.
Levantei-me, andei até a porta que se abria para o paciente anterior sair, enquanto ele saia notei em seus olhos uma profunda solidão, porém ele me olha, sorri e parti.
Caminhei na direção da poltrona verde no fundo da sala, é uma daquelas com apoio prós pés, mesmo que fosse confortável preferi sentar num tapete ao lado dela. Ele deve ter alguma obsessão oculta por verde vômito, pelo menos o tapete é vermelho com uma mancha do que parece ser... Vômito, que grande surpresa. Ele foi ao banheiro do outro lado da sala, da pra vê a pia daqui, agora que já está vindo.
-Olá, você é o Alecsander Berg Wolfgang, certo? Indagou, enquanto sentava em um puff marrom, que estava ao lado da mesa, mesmo quando foi pegar sua caderneta de anotações desviou muito brevemente seu olhar de mim.
-Sim, mas pode me chamar de Berg. Isso é vômito? Desviei o olhar para a mancha. Tenho a crença que só um idiota responde uma pergunta, com outra pergunta, mas creio que já havia respondido a pergunta dele, quando fiz a minha.
-Infelizmente sim, um antigo paciente passou mal e vomitou aí, já disse pra Maria comprar um novo. Não sei porque ainda não me livrei deste, acho que me esqueci. Você foi a primeira pessoa a reparar nisso em meses, parabéns tem excelentes habilidades de observação, senhor Berg. Sou o Dr. Hans, aqui na sua ficha diz que você é militar, e está aqui por causa de estresse pós-traumático. Então eu tenho duas notícias pra você: a primeira é que tem tratamento. E a segunda é que não tem cura. Por onde quer começar? Rimos um pouco, e depois de um breve silêncio.
-Pelo clichê. Esperei até que ele se manifestasse.
-Infância! Ótima escolha tem irmãos?
-Não, sou filho único, e você? Ele franziu a testa e se retraiu pensei que não fosse responder, mas se inclinou em minha direção novamente, porém, antes de respondeu ele cruzou os braços por cima das pernas enquanto se apoiava neles, o que indica que as próximas palavras que saíram da sua boca eram mentiras. Talvez o mais importante nisso tudo seja, por que ele mentiria pra mim? Sobre uma coisa tão banal.
-Não, também sou filho único. Mas sempre quis ter irmãos, vai ver por isso passava tanto tempo com meus primos, mas não estamos aqui pra falar de mim, e sim de você.
-É, tem razão. Concordei.
Essa breve conversa de 55 minutos, teve vários momentos em que ficamos apenas calados, analisando um ao outro, ficou claro isso, pois acompanhou cada um dos meus movimentos e escutou atentamente cada palavra, com tudo acho que está apenas fazendo o seu trabalho ou não, ainda é cedo pra definir algo com certeza, vou precisar de mais algumas sessões pelo visto.
Ele olhou para o relógio, eu sabia que nosso tempo tinha acabado há 14 minutos, mas não queria parar antes de descobri algo sobre ele.
-Bem, nosso tempo acabou há 15 minutos, nem percebi como essa sessão passou rápido. Ele disse se levantando e guardando suas anotações na mesa.
-É o tempo voa, quando não se está contando. Eu estava, desde o momento que entrei. A pia do banheiro, onde o doutor havia ido antes de começarmos, pingava em intervalos precisos de 30 segundos, enquanto conversávamos contei cada um deles.
-Você vai voltar? Prometo que vou trocar o tapete hoje mesmo. Ele perguntou enquanto sorria.
-Ah claro, e não precisa trocar o tapete, gostei dele é agradável e simples, além de ser único agora que tem essa mancha. Rimos e ele me acompanhou até a porta, como se não tivesse mentido para mim. Mesmo sabendo de tudo, sorri  dissimuladamente e fui em direção a recepção para marcar minha próxima sessão.

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