Rotina

11 2 4
                                    

Assim que saí do psicólogo, fui direto ao "La Boca". Lembro-me de almoçar aqui no primeiro dia fora da base, depois que voltei de uma missão no Irã, desde então almoço todos os dias que estão abertos, faço sempre o mesmo pedido. A maioria das pessoas vê isso como um ponto fraco, por ser rotina, porém existem várias rotas de fuga daqui, sem muito trânsito, a pé, de todas as maneiras possíveis, além de um amplo campo de visão e com poucos edifícios utilizáveis por um atirador, se almoçasse em casa não estaria mais seguro, e além de todas essas vantagens militares, tem o principal de lugares públicos, muitas pessoas um ótimo lugar pra caçar, e não ser notado, além de servi como um álibi excelente, pois de tanto me verem, mesmo que não estivesse aqui, diriam que estava, é algo que estão acostumados e suas mentes cansadas de ver, então não prestam muita atenção em mim. Se eu te perguntar quantas cabines tem no banheiro do seu local de trabalho, ou da sua escola, a menos que seja muito observador e tenha uma memória incrível pra armazena essa informação que seu cérebro considera inútil, você não vai saber me dizer com certeza e corretamente, vai?

Enquanto comia, pode observa um banqueiro jovem e ganancioso negociando o que parecia ser o trabalho de uma vida com uma viúva que parecia ter acabado de enterrar o marido, devido a sujeira em seus sapatos e como ela chorava a cada três frases que ele dizia. Estava usando um vestido sensação paris preto, um perfume doce que vinha até mim conforme o vento soprava, e o anel de diamantes no dedo anelar dela indicava que era uma mulher de posses e se havia acabado de enterrar o marido e já estava ali fazendo negócios, significava que não queria abandonar seu estilo de vida. Sempre achei fascinante o poder que o dinheiro exercia sobre as pessoas, e como as pessoas podem significar apenas números.

Durante uma missão em território hostil tudo que tínhamos era isso, números, um para munições, um para o tempo, um para a quantidade de homens que estavam ao meu comando e um número de baixas que aquele vilarejo teria na manhã seguinte, 230 pessoas mortas em uma noite, no relatório eram apenas números, e em poucos dias foi como se nunca tivessem existido, nunca nem ao menos me questionei "Por que?" pra mim são apenas um número entre muitos outros. Acho que todos têm os seus, por motivos diferentes, mas são necessários. É impossível dizer a importância de algo como verdade absoluta, porém até quando isso importa realmente pode ser tão circunstancial quanto a existência da própria vida.

Assim que terminei de comer, pedi a conta e dei uma última olhada na viúva, pela expressão no rosto do banqueiro ele havia acabado de fechar a negociação que alavancaria sua carreira, entretanto o outro lado dessa negociação parecia apenas feliz por ter se livrado dele. O garçom deixou a conta e saiu, é admirável como esse restaurante trabalha baseado em confiança algo que chega a ser irracional na sociedade atual, mas cada um com suas crenças.

Caminhei até o carro que havia deixado em um estacionamento a algumas quadras dali, fiz o percurso com uma estranha obsessão pelo anúncio da loja de ferragens que vi em cima do balcão da recepcionista junto com os panfletos, havia algumas ferramentas que me seriam bem úteis no projeto de férias. Após pegar meu carro dirigi até o outro lado da cidade, fui a tal loja e enchi a picape, pareciam às compras para começar a construção da Arca. Moro em uma casa na área mais afastada do centro e dentro das jurisdições, mudei recentemente então estou fazendo umas adaptações aqui e ali, vou terminar a última parte do telhado hoje e ainda não me decide se melhoro o celeiro ou o porão, vou decidir isso amanhã, tenho que ir visitar um amigo hoje a noite.

Depois de uma tarde longa e trabalhosa consertando o telhado, um banho frio e um bom bife no jantar, apanhei meu kit de anotações, binóculo e dirigi 750 quilômetros na direção sul que é contrária a minha casa até chegar à cidade vizinha. Estacionei e depois andei 2 mil metros até a casa dele, Brian Adams, carteiro e nas horas vagas espancador de mulheres, esbarrei com ele a um mês atrás, e hoje quando saia do consultório. Tenho observado e seguido esse bastardo a dias, por ter aquele olhar de fúria que é muito raro de se encontrar. Desde então, ele já agrediu 15 mulheres, 5 delas foram abusadas sexualmente antes e depois da morte. Você deve está se perguntando por que não o denunciei ainda, ou interferi e salvei aquelas pobres almas, bom pelo simples fato de que, o sistema é uma benção pra esse tipo de pessoa e que ainda não estava pronto pra pega-lo, mas a hora dele está chegando senhores. Vamos apenas tomar nota por enquanto.

Segui o nosso amigo a noite toda, ele andou pelo bairro, comeu uma torta na lanchonete e na volta pra casa, por infelicidade de uma garçonete que saiu do seu turno no momento que estava passando, ficou parado na esquina esperando que viesse até ele, quando se aproximou agarrou e arrastou a moça para o beco, ninguém ouviu, viu ou fez nada, bom pelo menos não o resto das pessoas, eu estava lá, observando e tomando nota de cada movimento dele atentamente, porém não era a hora ainda e mais um corpo ia aparecer no dia seguinte a matou por asfixia, provavelmente não deve ter força o bastante para quebrar pescoços, continuei atrás dele até que voltasse pra casa e ficasse lá por pelo menos uma hora assistindo programas de tevê. É como se tivesse só ido comer torta, matar aquela mulher não significou nada, arrisco dizer que não lhe gerou nem ao menos prazer, como se a morte da mesma fosse por simples falta de sorte a dela, e um ato de fazer por fazer da parte dele.

Voltei pra casa, coloquei as anotações na mesa, e passei as fotos do corpo pro computador, não que eu vá mostrar pra ele ou algo assim, só preciso de um lugar pra me inspirar quando for a minha vez, posso ser muito criativo, porém criatividade mal direcionada não é saudável, e também não deveria fazer uso da mesma, isso pode vim a causar um fim muito breve do meu momento de espairecimento o que seria definitivamente o oposto do que queremos. Preciso me decidir agora em onde vou concentrar meus esforços pela manhã, pra que não haja nenhum desperdício de tempo, mais tarde decido isso, devido a provável sujeira é mais recomendável o celeiro, no entanto ficaria um tanto distante da casa, não sei se é exatamente o que queremos, mas parece ser a melhor opção, bom é o que será feito então.

Depois de planejar tudo, e verificar se não faltava nada, deitei-me e dormi, precisaria de todas as minhas forças pra termina tudo a tempo e ir atrás dele.

O Peculiar Alecsander  Onde histórias criam vida. Descubra agora