Alguns dias depois, peguei minha bicicleta e me
aventurei sozinha pela rua. Já tinha visto brincando ali
crianças um pouco mais velhas do que eu, e lá no
nosso vilarejo as mais velhas brincavam com as
menores e até tomavam conta delas. As crianças de
Berlim gritaram: "Qual é a dela?", e se apoderaram da
minha bicicleta. Quando a recuperei, estava com um
pneu furado e um pára-lama amassado. Meu pai me
deu um tapa, porque minha bicicleta estava arreada.
Daí em diante eu só a usava nos seis cômodos.
Três desses cômodos estavam reservados para
servir de escritório. Meus pais queriam abrir uma
agência matrimonial, mas as escrivaninhas e as
poltronas anunciadas por eles nunca chegaram. E o
velho armário de cozinha ficou no quarto das crianças.Um dia, o divã, as camas, o armário foram
colocados em um caminhão que os transportou até um
prédio do conjunto residencial Gropius. Ali nos
instalamos em um apartamento de dois cômodos e
meio, no décimo primeiro andar. O meio cômodo era o
quarto das crianças. Todas as coisas bonitas de que
minha mãe nos falara jamais caberiam ali.
O conjunto Gropius abriga, em suas torres,
quarenta e cinco mil pessoas. Entre os prédios,
gramados e centros comerciais. De longe, tudo isso
tem um ar de novo, tudo parece muito bem-cuidado,
mas, quando se está dentro, entre os prédios, fede a
xixi e a cocô. É por causa de todos os cachorros e
crianças que vivem nesse conjunto. E no vão da
escada, fede ainda mais.
Meus pais ficavam furiosos, diziam que era culpa
dos filhos dos proletários, que eram eles que sujavam
as escadas. Mas não era culpa dos filhos dos
proletários. Aprendi isso na primeira vez quando,
brincando lá fora, tive, de repente, vontade de ir ao
banheiro. O tempo de esperar o elevador e de chegar
ao décimo primeiro andar já me tinha feito mijar nas
calças. Meu pai me bateu. Depois de três ou quatro
experiências do mesmo gênero - não subir a tempo e
receber uma bofetada -, fiz como os outros: procurei
um cantinho discreto para me agachar. Mas, como dos
prédios se enxerga praticamente tudo, o lugar mais
seguro ainda era a escada.
As crianças do conjunto me consideravam uma
pequena retardada: não tinha os mesmos brinquedos
que elas, nem a mesma pistola de água. Eu me vestia
e falava de outra forma e não conhecia as suas
brincadeiras. Eu também não gostava delas.
No meu vilarejo íamos sempre de bicicleta ao
bosque, até um riacho que passava sob uma pequenaponte. Aí se construíam castelos e barragens de água.
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Eu, Christiane F. Drogada e Prostituída
ActionChristiane F, menor de idade, é acusada de consumir, de maneira contínua, substâncias e misturas químicas proibidas por lei. Ela foi acusada também de ter-se entregado à prostituição, com o propósito de juntar dinheiro suficiente para comprar drogas...