Capítulo 4

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À noite, quando voltava do seu trabalho, minha mãe me ajudava a fazer os deveres da escola. Durante
certo tempo, tive dificuldades em distinguir a letra H da letra K, minha mãe me explicava com uma santa
paciência, mas eu mal conseguia ouvi-la, pois sentia que a raiva de meu pai aumentava.
   
Já sabia o que iria acontecer: ele iria até a cozinha, pegaria uma vassoura e me bateria. Depois era preciso que eu lhe dissesse a diferença entre H e K. É claro que eu ficava confusa, misturava tudo, conquistava o direito a uma
bofetada suplementar e, em seguida, me mandavam
para a cama.
Essa era a sua maneira de me ajudar a fazer os
deveres escolares. Ele queria que eu fosse boa aluna,
que fosse "alguma coisa na vida". Afinal de contas,
seu pai tinha muito dinheiro e, entre outras coisas, era
proprietário de uma gráfica e de um jornal. Após a
guerra fora expropriado pela
RDA (República Democrática Alemã). Por tudo
isso, meu pai ficava furioso quando percebia que na
escola as coisas não estavam indo bem.
Até hoje eu me lembro de certas noites nos seus
mínimos detalhes. Certa vez, a lição era desenhar
umas casinhas no caderno de cálculo: seis quadrinhos
de largura e quatro de altura. Eu já tinha feito uma e sabia muito bem como me virar. De repente, meu pai
sentou-se ao meu lado. Aí ele me perguntou o tamanho da próxima casinha.

Tinha tanto medo que nem contei os quadrinhos e respondi sem pensar. Errei recebi uma bofetada. Em seguida, chorando, era incapaz de responder a uma pergunta. Ele se levantou para buscar o chicote de borracha. Sabia o que isso
significava.
  Ele segurou o cabo de madeira e pimba na minha bunda, até que fiquei em carne viva.

Começava a tremer quando ele se sentava à mesa: se eu fazia qualquer sujeira, era um drama; se
derrubava qualquer coisa, cuidado com a bunda. Eu mal conseguia engolir um copo de leite, em quase
todas as refeições tinha muito medo de que me acontecesse alguma desgraça...

Eu, Christiane F. Drogada e ProstituídaOnde histórias criam vida. Descubra agora