Capítulo 6

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Dos seus sonhos, tudo o que restou foi o Porsche e alguns amigos muito faroleiros.
Não somente odiava a família como ainda, pura e simplesmente, a rejeitava. Isso chegava a tal ponto
que nenhum dos seus amigos deveria saber que ele era casado e pai de família.
Quando os encontrávamos
ou quando algum deles vinha buscá-lo em casa, devíamos chamá-lo de "Tio Richard". Eu, de tanto apanhar, aprendi muito bem e nunca errava: na presença de estranhos, ele era meu tio.

Com minha mãe era a mesma coisa. Ela era proibida de dizer aos amigos de seu marido que era sua mulher e, sobretudo, comportar-se como tal. Eu creio que ele dizia que era sua irmã.
Os amigos de meu pai eram mais jovens que ele, tinham ainda um futuro pela frente ou, pelo menos,
acreditavam ter. Meu pai queria ser como eles, e não um homem com responsabilidade de família e incapaz de suprir suas necessidades materiais.

Naturalmente, nessa época, tendo entre seis e oito anos, eu não entendia nada de tudo isso. O comportamento de meu pai era a simples confirmação da regra de vida que aprendera na rua e na escola: bater ou apanhar. Minha mãe, que, em sua existência,
já havia recebido sua dose de pancada, chegara à mesma conclusão. Ela não cansava de me dizer: "Não
comece nunca, mas devolva golpe por golpe e bata o mais e tão forte quanto possa". Mas ela já não podia
mais devolver os golpes que recebia.

Eu, Christiane F. Drogada e ProstituídaOnde histórias criam vida. Descubra agora