capítulo 9

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     Quando cheguei a casa, o gerente já havia telefonado: segundo ele, eu havia atiçado meu cachorro contra o zelador.
Pelas flores não recebi o beijo maternal, mas uma boa surra de meu pai.

   No conjunto Gropius o calor de verão era às vezes insuportável; não havia sombras, pois só tínhamos
árvores raquíticas. Os edifícios, muito altos, cortavam o vento.
Não havia piscina, nem um laguinho onde as criancinhas pudessem brincar. Apenas um chafariz no
centro da praça. Às vezes brincávamos nele, de jogar
água uns nos outros. É lógico que isso era proibido, e fomos obrigados a nos mandar.

    Certa época, tínhamos uma verdadeira paixão pelas bolas de gude. Onde jogar no conjunto Gropius?
No cimento, no asfalto ou na grama proibida?
Impossível. No tanque de areia também não dava. Era preciso um chão mais ou menos duro onde se
pudessem fazer uns buraquinhos.
Encontramos um terreno quase ideal: embaixo dos aceráceos. Para que eles respirassem, deixavam em volta de seus troncos uma abertura circular no asfalto. Uma rodela magnífica de terra, limpa, sem folhas. Um sonho para quem gosta de jogar bolinhas
de gude.
Mas, mal a gente começou, o zelador e o jardineiro já estavam em cima de nós para nos expulsar, fazendo terríveis ameaças.

Um belo dia eles tiveram uma idéia: em vez de passarem o ancinho, revolviam a terra com uma pá. Adeus aos jogos de bolinhas de gude.
Quando chovia, o hall de entrada dos prédios se transformava em fantástica pista de patins. Se ao menos fosse. . . Como no andar térreo não havia
apartamentos, não incomodaríamos ninguém se fizéssemos barulho. E foi assim das primeiras vezes.
Ninguém reclamou. Um belo dia a zeladora decretou que arranhávamos o chão. Adeus patins. E eu ganhei
uma surra magistral.

Eu, Christiane F. Drogada e ProstituídaOnde histórias criam vida. Descubra agora