Até Algum Dia...

Capítulo III

— Camila! Camila! — A voz de Lauren ecoou do lado de fora do meu quarto, acompanhada de alguns batidas na janela. Sonolenta, abri um olho e depois o outro, percebendo que havia adormecido em cima dos meus livros escolares. Coçando os olhos, caminhei até a janela, abrindo-a com um suspiro de cansaço. Quando meus olhos encontraram os de Lauren, os revirei ao ver sua expressão de impaciência. — Finalmente! — Bufou.

— O que você está fazendo aqui? — Perguntei quase em um sussurro, mas alto o suficiente para ela escutar.

Lauren colocou as mãos atrás das costas e fez um biquinho como se estivesse se sentindo mal. — Não te vi o dia todo. — Sua voz saiu com um tom de lamentação. — Ainda está brava comigo? — Suspirei, sentindo a exaustão se misturar com a frustração.

— O que você acha? Você não me disse que a festa seria em um lugar tão perigoso, muito menos que a polícia também seria convidada.

Ela deu de ombros, tentando parecer inocente. — Em minha defesa, eu não sabia que alguém chamaria a polícia. E admita, foi engraçado quando o salto da sua amiga quebrou. — Um riso escapou de seus lábios, mas minha expressão séria a fez parar imediatamente. — Ok, talvez não tenha sido tão engraçado assim.

— Eu tive que correr da polícia. Se meu pai descobrir que saí escondida de casa no meio da noite e ainda fugi da polícia, vou ficar de castigo pelo resto da vida. Agora entendo por que o seu pai pediu para o meu te dar um castigo. Acho que ele não aguenta mais você. Eu conheço você há apenas dois dias, e você já me meteu em confusão. — Falei com raiva, sabendo que não podia jogar toda a culpa nela, já que não fui obrigada a ir, mas fugir da polícia foi demais para mim.

Lauren me olhou genuinamente arrependida, e uma pontada de culpa começou a se formar dentro de mim. — Desculpa. Você é legal, eu não queria ser um problema para você. — Ela deu as costas e começou a caminhar pelo jardim, me deixando ali com um peso na consciência.

Decidi ir atrás dela. Sai silenciosamente do quarto, descendo as escadas na ponta dos pés. Abri a porta da sala com cuidado, tentando evitar qualquer ruído desnecessário. Já do lado de fora, corri para alcançar Lauren antes que ela desaparecesse de vista.

— Lauren! Espera... — Minha voz soou desesperada quando ela parou junto ao carro e se virou para mim.

— Camila? — Ela falou surpresa.

Olhei para o carro e depois para ela, sentindo a urgência de me expressar.

— Você tem quinze anos, não deveria estar dirigindo. — Revirei os olhos, tentando esconder a faísca de admiração por sua audácia.

Lauren soltou um riso breve, parecendo não se importar com as regras convencionais. — Você veio até aqui só para me dizer isso?

Minha resposta saiu tropeçada, a incerteza tomando conta de mim. — B-Bom... não... eu... eu vim pedir desculpas pela forma como falei com você. — Enquanto me explicava, meus braços se envolveram ao redor do meu corpo, buscando aquecer-me do ar frio da madrugada.

Ela pareceu surpresa com minha mudança de atitude, observando-me com atenção. Em um gesto inesperado, Lauren tirou sua jaqueta de couro e a ofereceu a mim.

— Não precisa. — Disse automaticamente, mas ela se aproximou de mim e colocou a jaqueta em meus ombros.

— Você está com frio. — Sua voz soou suave, e senti sua respiração próxima ao meu rosto. Envergonhada, desviei o olhar para o chão. — Eu sei que a noite foi péssima, mas eu quero te dizer que você estava linda. — Com delicadeza, ela segurou meu queixo, fazendo com que nossos olhares se encontrassem. A ponta de seus dedos frios traçou o contorno dos meus lábios.