Ataque de pânico

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Clarisse acordou em um pulo. "Aquele cara não podia ser Apolo, deuses nem existem". Ela ouviu um barulho e desceu para a sala de estar. Quando chegou lá não tinha ninguém, era só o vento lá fora. Clarisse olhou o relógio e já era sete horas da noite. Ela ficou encarando o relógio incrédula, ela não tinha dormido esse tempo todo. Não era possível, ela tinha só tirado um cochilo, o relógio devia estar errado. Ela subiu para seu quarto novamente e foi pegar seu celular. Olhou as horas. Sete e dois.


- Isso não é possível. - Falou com ela mesma.


Ela começou a ficar preocupada, pois John ainda não havia voltado. Ela ligou para ele, mas caiu direto na caixa postal. Ela decidiu ligar para a polícia e falar com um dos amigos de seu pai.


- Polícia. Qual é a emergência?


- Oi. Eu sou filha do xerife. Ele ainda não voltou para casa e eu estou preocupada.


- Você é a Clarisse? - Perguntou o policial.


- Sim. Sou eu mesma.


- Eu sou amigo do seu pai. Ele disse que ia à casa do Sr. Singer, o dono do mercadinho, para fazer compras. Não se preocupe, ele deve chegar em casa em breve.


- Está bem. Obrigada. - Clarisse nem esperou a resposta dele e desligou o celular. - Ele está bem. Mantenha a calma.


Ela foi para a cozinha e começou a cozinhar, John iria chegar em casa cansado e com fome. Clarisse não sabia cozinhar muito bem, mas se esforçou para fazer arroz, feijão e fritar frangos e batatas. Preparou a mesa do jantar e ficou esperando ele chegar em frente à porta. Ela olhava para o relógio a todo instante. Nove e meia da noite e ele ainda não tinha voltado. Clarisse ligou para a polícia novamente.


- Polícia. Qual é a emergência? - Dessa vez uma mulher atendeu o telefone.


- Por favor. Meu pai não voltou para casa. Por favor, me ajude. - Ela estava entrando em desespero.


- Mantenha a calma garota. Onde seu pai foi?


- Ele foi trabalhar. Ele é o xerife e trabalha como policial. John Adams.


- Ok. Mantenha a calma. Ele deve ter ido investigar algum caso e ainda não voltou.


- Eu liguei para vocês hoje mais cedo. Falei com o... - Qual era o nome dele? O amigo de seu pai que falou com Clarisse mais cedo não tinha falado o nome dele. - Eu... Eu falei com um policial que é amigo do meu pai.


- Qual o nome dele? - A policial que estava no telefone falava calmamente.


- Eu não sei. Ele não me disse. Só me falou que meu pai tinha ido ao mercado do Sr. Singer.


- Está bem. Vou mandar policiais para verificar.


Clarisse desligou o telefone. Não podia acreditar no que estava acontecendo. Ela começou a sentir falta de ar e uma dor lancinante no peito. Sua visão começou a ficar turva e ela caiu de joelhos no chão. Estava tendo um ataque de pânico. Ela desenvolveu a síndrome do pânico quando sua mãe falecera. E agora seu pai havia desaparecido. Ela pressionava as mãos contra o peito tentando respirar. Seu peito ardia como se estivesse pegando fogo, sua visão começou a escurecer e Clarisse desmaiou.


Ela acordou em uma maca de hospital. Olhou ao redor da sala, não tinha ninguém. Segundos depois uma enfermeira entrou na sala.


- Oi. Como está se sentindo?


- O que aconteceu? Onde está meu pai? - Clarisse tentou se levantar, mas a enfermeira a impediu.


- Calma. Está tudo bem. - A enfermeira tentava acalmar Clarisse. - Você teve um ataque de pânico e desmaiou. Um rapaz te encontrou e te trouxe aqui.


- Onde está meu pai?


A enfermeira olhou para Clarisse com pena.


- Ainda não acharam ele.


Clarisse começou a chorar e sentir falta de ar novamente. A enfermeira retirou uma agulha do bolso de sua blusa, provavelmente algum tipo de calmante, e aplicou no braço de Clarisse.


Antes de pegar no sono novamente Clarisse viu um garoto entrar no quarto.


- O que está acontecendo com ela? - Perguntou o garoto.


- Só está preocupada com o pai dela. Ela deve sofrer da síndrome do pânico.


Clarisse caiu em um sono profundo e dessa vez não teve sonhos.




- Clarisse. - Alguém chamava por ela. - Clarisse. Acorde.


Clarisse abriu os olhos lentamente, a claridade feriu seus olhos e ela colocou a mão sobre o rosto para tentar ofuscar a luz. Com dificuldade ela foi se levantando. Ela demorou alguns segundos para voltar a enxergar normalmente e percebeu que não estava mais no hospital.


- Onde eu estou?


- No orfanato. - Respondeu uma menina.


- Como assim? - Perguntou Clarisse pulando da cama em que ela estava deitada.


O quarto onde estava era pequeno e só havia duas camas de solteiro e uma porta que estava fechada. A menina que estava na frente dela devia ter uns dez anos de idade. Tinha sardas pelo nariz e nas bochechas. O ruivo de seu cabelo parecia fogo e o verde de seus olhos eram encantadores.


- Estamos no orfanato. É onde as crianças órfãos ficam até acharem um lar adotivo para elas.


- Eu sei o que é um orfanato. Eu não sou órfã. Meu pai é o xerife e nós moramos no leste da cidade.


Clarisse foi até a porta e girou a maçaneta, mas a porta estava trancada. Isso não podia estar acontecendo. Clarisse começou a respirar com dificuldade.


- Não. De novo não. Estou cansada de ter ataques de pânico! - Clarisse estava com raiva, mas não sabia exatamente de que ou de quem. Ela começou a gritar e socar a porta. A menina, assustada, se afastou dela e encostou na parede.


Alguém destrancou a porta, entrou no quarto e agarrou os braços de Clarisse.


- Pare. - Falou uma mulher. - Pare de gritar agora.


Clarisse não parava de chorar. A mulher empurrou Clarisse até a cama e tentou deitar ela, mas Clarisse não cedeu. A mulher gritou por ajuda e dois homens fortes e altos entraram no quarto. Eles forçaram ela se deitar e prenderam as mãos de Clarisse na cama. Feito isso os homens se retiraram do quarto.


- Pare de chorar e se acalme. - A mulher tentava falar mais alto que os gritos de Clarisse. - Pare de gritar agora mesmo. - Berrou a mulher.


Clarisse não parou. Ela estava apavorada, não sabia o que estava acontecendo e sem perceber chamava pela mãe.


A mulher, cansada de pedir para Clarisse parar, tampou a boca dela com a mão.


- A Polícia está procurando o seu pai e enquanto eles não o acham você vai ficar por aqui, já que é menor de idade e não pode ficar em casa sozinha sem a supervisão de um adulto. Nós temos regras aqui, e a primeira delas é a proibição de gritos e choros. Então pare ou você terá consequências.


Clarisse olhou para a mulher com desespero. Os olhos cheios de lágrimas e tentando controlar a respiração.


A mulher percebeu que Clarisse não estava mais gritando e tirou a mão de sua boca e, apesar do olhar de tristeza e desespero de Clarisse, ela não teve pena da menina.


- Eu sou a Sra. Blake, supervisora desse orfanato. E não ligo se sua mãe morreu quando você era pequena e que seu pai está desaparecido. Você está aqui agora e vai ter que seguir as regras, aposto que sua colega de quarto não se importaria de dita-las para você. - A mulher olhou com frieza para a menina que estava imóvel na parede. - Venha aqui Melissa! - A garotinha caminhou lentamente até a cama de Clarisse. - E não solte ela.


A mulher saiu do quarto e trancou a porta atrás de si.

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