A sala escura

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Assim que a Sra. Blake saiu do quarto, Melissa soltou as amarras de Clarisse, mas ela continuou deitada. A menina falava as regras, mas Clarisse nem ouvia. Ela estava apavorada, tudo tinha acontecido tão rápido. Naquela mesma manhã ela estava com seu pai e de repente estava em um orfanato com uma mulher maldosa. A menina parou de falar e ficou olhando o corpo imóvel de Clarisse.


- Você está bem? - Perguntou ela.


Clarisse não respondeu e continuou deitada. A menina ficou olhando para ela por mais alguns segundos e deitou também.


- Amanhã você estará melhor.



Clarisse acordou com uma pancada forte na porta e deu um pulo de sua cama. Ela tinha ficado acordada por um bom tempo na noite passada depois de a menina ter parado de falar, mas, no fim, acabou dormindo.


Melissa já estava acordada, vestia um vestido branco com golas e sapatos preto. Clarisse ouviu o som das chaves destrancando a porta e a voz da Sra. Blake mandando todos levantarem de suas camas.


- Levantem. - Gritava ela. - O café da manhã será servido em dois minutos. Não ousem se atrasar.


- Vista isso. - Falou Melissa segurando um vestido branco e sapatos preto iguais aos dela.


- Por que?


- Todos temos que nos vestir assim. Eu te disse isso ontem. Disse tudo o que faríamos hoje. - Clarisse ficou encarando a menina por um tempo. - Vista logo. Não podemos nos atrasar.


Clarisse pegou o vestido das mãos pequenas da menina e o vestiu. Elas saíram de seu quarto e andaram pelo corredor, onde havia uma fila de crianças de diversos tamanhos e idades.


- Não saia do meu lado. - Disse Melissa enquanto elas entravam na fila.


Elas entraram em um pátio grande, nele havia várias mesas e bancos compridos e as crianças foram sentando em grupos por elas. Clarisse se sentou ao lado de uma menina pequena, devia ter cinco anos, e Melissa sentou ao seu lado.


- Nós fazemos as refeições aqui. É proibido repetir a comida e conversar durante as refeições. - Logo Melissa ter dito isso a Sra. Blake apareceu no pátio com mais três mulheres ao seu lado.


As mulheres começaram a servir comida para as crianças e quando chegou em sua vez Clarisse não conseguiu identificar a comida.


- O que é isso? - Perguntou fazendo uma careta.


- É um tipo de mingau que elas fazem, até hoje não consegui determinar um sabor. Somos obrigados a comer tudo. É proibido deixar restos nos pratos. A Sra. Blake fica nos vigiando o tempo todo. Acho melhor você começar a comer logo.


Clarisse olhou para a Sra. Blake que estava olhando para ela também. Ela começou a comer, mas quando colocou um pedaço daquela coisa nojenta na boca quase vomitou. Clarisse percebeu que as crianças comiam sem levantar os olhos e com rapidez.


A Sra. Blake percebeu que Clarisse não estava comendo e caminhou até ela.


- Qual é o problema?


Clarisse olhou para ela e para o prato. Ela não era acostumada a enfrentar os outros, mas sentia raiva da Sra. Blake e não sabia o porquê.


- Não vou comer esse negócio. - No instante em que disse isso todas as crianças olharam para ela.


- O que disse?


- Eu disse que não vou comer isso. - Respondeu Clarisse enquanto se levantava do banco.


- Voltem a comer suas refeições - Berrou a Sra. Blake para as crianças que ainda estavam olhando para Clarisse.


Ela pegou Clarisse pelos braços e a arrastou até uma sala de escritório. A Sra. Blake se sentou em uma cadeira preta, atrás de uma mesa, e mandou Clarisse se sentar na cadeira que estava do outro lado da mesa.


- O que você pensa que está fazendo, garota? - Perguntou a Sra. Blake.


Clarisse não sabia o que estava acontecendo com ela. Ela nunca tinha enfrentado alguém, mas ela não iria abaixar a cabeça para aquela mulher.


- Aquilo nem é comida. Vocês deveriam servir coisas melhores para essas crianças. Deveriam trata-las melhor também.


A Sra. Blake começou a rir e Clarisse ficou confusa. Qual era a graça? Ela tinha falado algo errado? Ela começou a ficar com raiva. Não entendia porque a Sra. Blake era tão ruim com aquelas crianças indefesas.


- Quem você acha que é para dizer o que eu devo fazer? - Perguntou a Sra. Blake com deboche.


- Alguém que tem compaixão por essas crianças, o contrário de você que não sente nada por elas.


- Você não passa de uma criança rebelde e medíocre. - A Sra. Blake se levantou da cadeira em que estava e deu a volta na mesa. - Você nem sabe o que fala e vai aprender a se comportar como uma moça de verdade.


- Você não os ensina a serem educados. Obedecer regras por medo de punições não é educação.


A Sra. Blake deu um tapa no rosto de Clarisse.


Clarisse colocou a mão no rosto e olhou para a Sra. Blake assustada. Ela realmente não esperava levar um tapa. A Sra. Blake pegou Clarisse pelo braço e a forçou se levantar.


- Você vai se arrepender de ter me desobedecido.


A Sra. Blake, que ainda estava segurando o braço de Clarisse, saiu de sua sala e caminhou até uma porta que estava trancada. Ela largou Clarisse e pegou uma chave em seu bolso. Quando ela abriu a porta mandou Clarisse entrar.


- O que isso? - Perguntou Clarisse olhando a sala escura e vazia.


A Sra. Blake não respondeu e empurrou Clarisse para dentro da sala e trancou a porta.


- Abra a porta. - Gritou Clarisse enquanto batia desesperadamente na porta. - Sra. Blake? O que está fazendo? - Ninguém respondeu. - Socorro!



Dois dias se passaram e Clarisse ainda estava trancada naquela sala escura e fria. A Sra. Blake havia lhe feito uma visita mais cedo naquele dia e lhe dado um pouco de água. Ela não disse nada e quando Clarisse tentou sair da sala ela lhe deu um soco no rosto derrubando ela no chão frio. Clarisse nem se deu o trabalho de levantar, ficou encolhida no chão com sua boca sangrando e acabou pegando no sono. Sonhou com sua mãe. Elas estavam naquela mesma sala, mas estava um pouco mais iluminado do que na vida real.


- Mamãe! - Clarisse correu e a abraçou. - Eu senti tanto a sua falta.


Lágrimas caiam de seus olhos. Sua mãe a afastou um pouco para poder ver seu rosto.


- Não chore, minha pequena. - Disse sua mãe enxugando suas lágrimas. - Eu estou aqui.


Clarisse sorriu e sua mãe sorriu de volta. Ela estava tão feliz em ver a mãe novamente. Talvez sua mãe soubesse onde seu pai estava. Talvez ela pudesse tirar Clarisse daquele orfanato sujo.


- Mamãe, onde o papai está? Porque vocês não me tiram desse orfanato?


- Ah querida, eu sinto muito. - Sua mãe olhou com tristeza. - Seu pai não irá voltar. Você tem que sair desse lugar o mais rápido possível e eu não vou poder te ajudar. Me perdoe. - Ela deu um beijo em sua testa e se afastou.


- Não, mamãe! Por que está dizendo isso? - A imagem de sua mãe começou a desaparecer. - Mamãe!


Clarisse acordou chorando. Aquele sonho tinha sido tão realista quanto o da jaula. Ela não tinha mais forças, passara três dias sem comer e com frio. Ainda estava deitada quando ouviu o barulho da chave abrindo a porta. Dessa vez não era a Sra. Blake, eram dois seguranças, os mesmos que haviam amarrado ela a cama no dia em que chegou no orfanato. Eles levantaram ela pelos braços e a arrastaram até seu quarto. Abriram a porta e a jogaram lá.


Melissa estava deitada e quando viu Clarisse deu um pulo da cama e correu para ajuda-la.

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