Capítulo 2

70 8 3
                                    



Crystal Moon Kannenberg

Pisco várias vezes e trombo com meu skate, viro-me de barriga para cima e encaro as fitas amarelas que ainda estão no local e por incrível que pareça, estão ao meu redor, estou no local da sua queda, o chão.

Gostaria de ficar aqui para poder de alguma forma me conectar com ele, mas não posso.
Segundo a perícia ele morreu ainda na queda, dizem que ele se afogou com o ar e por isso não houve hemorragia, mas eu sei o que realmente foi. Ele estava muito alterado, seus olhos estavam vermelhos, inchados e seu temperamento não costumava a ser como aquele que vi pela última vez, Jake não estava sóbrio e sim sob efeito de drogas.

As pessoas começam a me olhar e falar algo sobre ligar para a polícia ou para o manicômio. Tudo o que não preciso agora são de policiais me prendendo e do diretor se metendo mais uma vez, - ele sempre dá um jeito - dizendo mil desculpas para eu tomar remédios. Me levanto relutante e sigo para o caminho para o qual eu posso ir com os olhos fechados.
Vou até o túmulo de JAKE HAARS, suspiro e me sento encarando o nome dele. Um bolo se forma em minha garganta e minha visão começa a ficar embaçada, balanço a cabeça me lembrando do motivo de eu estar aqui. Tiro a mochila das minhas costas e abro a mesma, pego o bendito caderno que eu tanto odeio. Olho ao redor...

- Silêncio pessoal, preciso me preparar para a prova de amanhã! - digo em em voz alta. Tá, vocês podem me chamar de louca, mas eles são os meus únicos e verdadeiros amigos que ainda mantenho contato.

Depois de terminar o estudo olho para o sol que invade o meu rosto, ele está se pondo, isso quer dizer que tenho que me despedir.
Guardo o caderno na mochila e começo a fazer o TOUR, era assim que eu e Jake chamávamos quando nos despedíamos dos nossos amigos. Quando termino de me despedir fico frente a frente com o último que falta, me ajoelho e deixo as lágrimas caírem.

- Sabe, eu...eu... - começo a gaguejar.

- Hoje seu pai quase me assustou, mas ele nunca me assusta. - encaro o túmulo e percebo que estou arfando, coloco a mão na boca me deitando sobre o túmulo logo em seguida, como se estivesse o abraçando.
Sinto algo me puxar e por alguns instantes penso ser ele, mas não é, pelo menos não até abrir a boca.

- Saia de cima do meu filho. - ele diz curto e grosso. Me solto do seu aperto no meu braço e o olho com raiva.

- Filho? Quer dizer que você é o pai dele? - pergunto irônica, ele dá um passo à frente me encarando, mas eu não demonstro qualquer desestabilização.

- Não se faça de tola, menina, você sabe muito bem que eu sou o pai dele, era essa a matéria que você tinha que estudar? - ele pergunta, me viro, pego o skate e a mochila.

- Não. Até porque se fosse me daria muito bem, eu poderia fazê-la até oralmente, permita-me. - digo o encarando, não estou esperando uma resposta e sim uma reação, e lá está ela, o medo. É incrível como tudo o que fazemos tem seu preço e para ele não seria diferente, seu preço é a verdade e uma hora ou outra ela irá aparecer, até lá...eu o lembrarei de seus erros.

- O pai, certamente rico, esquece de sua família, se é que já existiu, em parte por causa do seu outro filho mais novo, JAKE HAARS. Atormentado por culpar o próprio filho pela morte da esposa no parto, o culpa por tudo. Sendo assim, afasta cada vez mais o filho, fazendo com que ele saia de casa e procure algo novo. Assim que sai da porta da casa que um dia chamou de lar, encontra uma vida nova, amigos novos e verdadeiros e não aqueles que seu pai os arrumava por serem filhos de homens importantes, Jake conseguiu conquistar o seu mundo em poucos anos. E quando olhava para trás, só conseguia pensar o porque de ter esperado tanto para fazer aquilo e é claro que - pauso chegando perto de seu rosto sentindo o cheiro de podridão.
- ...quando o assunto era família ele só conseguia renegar o mesmo pai que sempre o culpou e o odiou pela morte da mãe. - digo a última palavra em seu ouvido e vejo que ele está do jeito que eu queria, acabado. Estamos compartilhando o mesmo sentimento ao mesmo tempo não o ódio e sim a saudade. Jake era tudo para mim e tenho certeza em que algum momento de sua vida ele sentiu a mesma coisa pela sua esposa. O deixo sozinho com sua culpa após terminar de falar.

AMOR PSICOPÁTICOOnde histórias criam vida. Descubra agora