Oi, estava relendo sua última mensagem, aquela que você falou que nunca deixaria de me amar. Você estava online, mas não respondi, costumo abrir sua caixa de mensagens, releio aquele seu último texto, mas não consigo mais te chamar.
Você responderia, eu sei, mas as suas respostas frias doeriam mais do que se me ignorasse.
Não sei quando tudo mudou, e nem se fiz algo errado. Mas nada é como antes. O sentimento estava morto, talvez você tenha percebido que não sou tão interessante assim, me desculpe se fui um babaca alguma vez, eu sempre tentei ser uma pessoa melhor, juro por Deus que dei o meu melhor. Por você? Não sei, não quero te dar essa responsabilidade, ninguém tinha culpa pelos meus problemas e incapacidades, mas foi inspirado em você que tentei.
E falhei.
Estava acima do meu controle, assisti meu sonho desmoronando e não soube o que fazer, agarrei com força a esperança de que tudo melhoraria, mas as chances escaparam por entre meus dedos.
Sabe, algumas bocas insinuam que talvez você tenha me traído. Eu não acredito nisso. Nunca suspeitei de você, nem mesmo agora. Não acho que houvesse um terceiro em nossa relação, você nunca precisou de alguém para se sentir completa. Já eu, sempre fui vazio.
A nossa relação nasceu com uma doença terminal, e eu nunca identifiquei os sintomas, mas talvez esse seja o problema, procurando alguém que transbordasse, encontrou uma casca vazia e confusa. Não havia nada a ser feito, ainda assim eu tentei, embora soubesse que nunca seria o que você esperava de mim.
Eu tentei evitar, mas era doloroso me sentir um estorvo ao seu lado e eu me sentia assim sempre que conversávamos. Nossas conversas estavam cada vez mais rápidas, superficiais, o fim parecia inevitável. Isso me entristecia.
Nem sequer rompemos os laços oficialmente, as coisas apenas acabaram. Isso sim foi a maior traição, e nós dois somos culpados por ela.
Eu só precisava de um totem, algo que marcasse isso, um ponto que eu pudesse traçar como a fronteira, o limiar entre o que foi o nosso amor. E por isso não te chamarei mais, sua última mensagem é o totem, a marca da divisa, que ao menos seja bela.
Eu sempre te amarei, minha querida.
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Insônia e outros contos
Short StoryPessoas atormentadas, desiludidas e inconformadas permeiam entre esses contos. A cada capítulo, um novo conto. Devaneios existenciais ou apenas cômicos, as mais inusitadas situações obrigarão esses indivíduos a confrontarem seus demônios interiore...