the fool

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Harry


Acordei quando a luz do sol começou a entrar pelas persianas do hotel em que estava Gary. Eu estava deitado em seu peitoral e olhei ao redor.

Lembrei de seu apartamento, que estava meio vazio, sem minhas coisas lá. Mas depois de toda a mudança, eu não estava com pique algum de colocar tudo de volta tão cedo.

Me levantei, indo até o frigobar e pegando uma garrafa de água. Noite passada fomos para um jantar em sua empresa, depois de o anunciarem como vice-presidente.

Andei pelo quarto até ver um brilho perto do chão que chamou minha atenção. Me estiquei, pegando uma alça dourada e ao levantar o pedaço de pano no ar, vi que se tratava de um sutiã.

O joguei com toda a força em Gary, que dormia tranquilamente, mas se assustou e acordou, se sentando na cama.


- Bom dia pra você também.

- O que é isso, Gary?

- Harry...

- Por que me chamou? Por que disse que quer uma nova chance se tá com ela?

- Harry, senta aqui.


Ele deu dois tapinhas no colchão, onde fui até ele, me sentando.


- Harry, você tem que me entender. Eu gosto muito de você, mas é sério que meus pais não podem saber disso. E a outra garota, não é uma opção eu me livrar dela. Ela vai ficar, eu preciso desse apoio, e eu preciso de você.

- Eu nunca entendia o motivo de você só me levar em reuniões do trabalho, eventos do trabalho, e ontem, quando eu decido te dar outra chance, me leva novamente pro trabalho. Mas aí eu entendi, Gary. Finalmente entendi o papel de idiota que estou prestando.

- O quê?

- Você cresceu bastante na gravadora enquanto eu estava com você.

- Atrás de um grande homem tem sempre um grande homem. - Gary riu.

- Seu chefe, o dono da gravadora é um homossexual assumido, como Gary poderia alcançar o topo? Com um namoro de fachada com um homem, certo? Um homem pra esfregar na cara de todo mundo no trabalho, esbanjar elegância e sempre aparentar uma vida feliz.

- Harry, para de besteira.

- Por isso me pediu pra morar com você tão cedo, por isso toda semana eu era obrigado a comparecer aos seus compromissos. Eu sou o namorado de fachada, não ela.


Gary não me disse nada, apenas me olhava enquanto eu tentava não quebrar por dentro. Ele não precisava dizer nada. Depois de tanto tempo sendo iludido eu finalmente tinha aberto meus olhos.


- Valeu a pena brincar com a minha vida, senhor vice-presidente?


Gary abaixou a cabeça e então eu peguei minhas coisas, indo para meu carro, praticamente repetindo os atos de quando terminamos da outra vez.

Dei partida, dirigindo sem ter pra onde ir. Meu coração doía tanto que eu sentia que poderia ter um infarto a qualquer segundo.

Por mais que eu já não estivesse nas melhores com Gary, eu ainda sentia algo por ele. Em momento algum meus sentimentos por ele foram forjados, e saber que ele nunca foi quem eu acreditava ser, me matava.

Quando percebi, estava parado na frente da casa de Louis. Noite passada eu disse que não queria mais o ver, mas foi da boca pra fora.

Como eu poderia não querer mais ver a única pessoa que me entende nesse mundo? A única pessoa que sempre está lá por mim, mesmo quando não mereço.

Desci do carro, tocando sua campainha e enquanto eu esperava por ele, não podia conter as lágrimas.

Louis abriu a porta e ao me ver ali, nas minhas piores condições, a primeira coisa que fez foi me puxar para dentro de casa, fechar a porta e então me abraçar.


- Louis, me desculpa. - Eu tentei dizer firme, entre lágrimas.- Você estava certo, eu não devia ter ido.

- Harry, o que aconteceu?

- Eu preciso ouvir que você me desculpa, Louis.

- Harry.


Louis disse meu nome calmo e então me pegou pelo maxilar, olhando em meus olhos.


- Eu não me importo com qualquer que tenha sido a burrada, não estou chateado com você. Só me diz o que aconteceu, pra eu saber como te ajudar.

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