3. Conversa estranha

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    Na manhã de segunda-feira, acordei com minha mãe me chamando às pressas.

    Eu estava com muito sono, e com certeza delirando enquanto ela sacudia meu braço e tentava me puxar para fora da cama. Com muita dificuldade, abri meus olhos tentando entender o que estava acontecendo. A expressão em seu rosto era tão preocupada que por um instante achei que a casa podia estar pegando fogo. Até que finalmente entendi o que ela sibilava:

    - Filha, acorda! A Maria chegou!

    Eu não fazia ideia de que horas eram, mas acredito que isso não importava muito quando se estava de férias. A verdade era que, Camila e eu tínhamos ficado acordadas até umas três ou quatro horas da manhã. Vimos um filme, conversamos, e até contei para ela a história de minha amizade fracassada com Thiago, já que ela havia insistido tanto.

    Ela também me contou algumas coisas interessantes. Como quem era Nicole, a garota de quem Arthur tinha falado ser namorada de Thiago.
Camila disse que ela não era muito legal, que já até tinha tentado se aproximar dela uma ou duas vezes, mas não tinha dado muito certo. Parece que a tal garota e meu antigo melhor amigo, tinham um caso ou algo assim. "Não é um namoro", disse Camila com convicção, "eles só se pegam ás vezes", completou.

    Soava muito estranho pra mim que Thiago tivesse um caso com alguma garota ao invés de namorá-la, ele sempre foi tão certinho! O imaginava descobrindo que estava apaixonado por uma garota, e aos poucos a conquistando até que ela sentisse o mesmo, então ele iria até a casa dela e falaria com seus pais ou responsáveis para pedir permissão para namorá-la.

    Mas parece que não era bem assim. Já fazem anos mesmo, e isso era mais uma prova de como ele havia mudado. Dei de ombros ao pensar nisso, não dando muita importância.

    - ALICE! - Minha mãe exclamou. - Levanta agora, todos estão te esperando para conhecer nossa nova empregada.

    Finalmente me levantei, fui até o banheiro e me escovei rápido. Desci as escadas me sentindo menos tonta.

    Quando cheguei até a sala, meu pai estava com sua roupa social e segurando sua maleta, pronto para ir trabalhar. Camila estava com o cabelo perfeitamente arrumado e um vestidinho branco com alguns detalhes rosa e um cinto combinando. Débora, minha mãe, usava um vestido preto meio aberto nas costas, com certeza também já pronta para o seu primeiro dia no novo escritório de advocacia em que iria trabalhar.

    Enquanto eu, Alice, ainda estava de pijama, descalça e com a cara totalmente amassada.

    Mamãe balançou a cabeça quando me viu.

    - Essa é Maria – minha mãe começou. - Maria, esse é meu marido, Ricardo e nossa filha, Alice. Já está outra jovem é nossa hóspede, Camila.

    - Ah, a bela família Tavares! - Maria exclamou, parecendo ser desinibida e gentil.

    A observando, diria que ela não aparentava ter 48 anos, como minha mãe havia dito, e sim um pouco menos, talvez. Tinha os cabelos pretos prendidos em um coque e os olhos verdes, a pele era um pouco mais clara do que a minha, pálida, mas carregava um sorriso alegre no rosto. Usava um vestido azul-marinho com detalhes brancos nas mangas e na barra, simples, parecia ser seu novo uniforme.

    - E a bela Camila Santiago – nossa hóspede disse, indo apertar a mão de Maria.

    Era quase impossível não gostar de Camila, pensei. Ela era sempre tão simpática! Parecia sempre saber o que dizer e como agir.

No Olho do FuracãoOnde histórias criam vida. Descubra agora