4. Um dia de praia

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Já fazia um bom tempo que eu não ia à praia. Mas foi só meus pés pisarem na areia quente e fofinha, que me lembrei como era bom estar tão perto do oceano, principalmente em um dia de sol como este. Camila colocou uma toalha em cima da areia para que nós pudéssemos sentar, ela estava usando um maiô lilás com algumas flores na frente. Quando estávamos ainda saindo de casa, elogiei a peça e a vi corar, o que na hora eu achei engraçado. Eu estava usando um biquíni verde sem estampa alguma e que pelo o que eu lembrava, tinha a muito tempo.

Estava tão quente! Meu corpo certamente não estava acostumado com o sol forte que fazia. Mas estar ali não era desconfortável, era quase como se eu estivesse me lembrando de anos atrás, quando estar naquela praia era normal e divertido. Lembrava de meus pais brincando comigo na areia, de minha mãe me ensinando a nadar, dos piqueniques que fazíamos à beira do mar, mas que geralmente não davam certo porque meu pai aprontava alguma coisa.

Os dois eram bem mais unidos antes do meu pai ter tanto trabalho, mais felizes também, acredito. Quer dizer, fazia tempo que eles não saíam para jantar ou fazer qualquer outra coisa a sós, e quando estávamos juntos em casa, meu pai estava sempre distante e minha mãe fingia não se importar.

Realmente fazia uma eternidade que esses momentos felizes em família aconteceram.

Ao meu lado, agora com óculos de sol, Camila suspirou.

- O que foi?

- Nada - Ela respondeu. - No que está pensando?

Falei brevemente sobre as vezes em que tinha vindo à praia com meus pais e de como eu gostava e me sentia feliz, mas que esses momentos já não aconteciam a um bom tempo.

- Pelo menos você teve esses momentos - Ela disse, amargamente. - Meu pai não me procura a anos, e minha mãe ... - Ela fez uma careta. - É diferente.

Franzi a testa.

- Diferente? - Não era difícil de acreditar que minha mais nova amiga tinha problemas com a mãe, se não provavelmente nem estivesse passando esses dias em minha casa.

- Ela é tão egoísta! - Exclamou, claramente brava. Era estranho que ela pudesse sentir algo além de felicidade, quer dizer, ela estava sempre sorrindo e fazendo a coisa certa. Era surpreendente que ela tivesse um tipo de defeito. - Me enchia de presentes, mas raramente me ligava. Nós mal nos víamos! Ela estava sempre viajando, e não é como se estivesse todas as vezes trabalhando, como seu pai. Ela saía para se divertir, e eu ficava praticamente sozinha. - Camila balançou a cabeça, como se lembrar disso a deixasse incrédula. - Se não fosse por uma tia minha, eu teria ficado sempre sozinha. - Ela deu ênfase no sempre. - Por isso a Luciane é tão diferente. Geralmente as mães se importam e querem estar o mais perto possível de seus filhos! Mas ela não.

Eu podia jurar que vi uma lágrima escorrendo por trás dos óculos de sol. Quando abri a boca para falar alguma coisa, ela me silenciou. Balançou a cabeça e respirou fundo antes de voltar a falar:

- Eu me sentia pior em relação a isso antes. Com o tempo, eu me acostumei. - Camila deu um sorriso meio torto. - E não tive uma infância horrível, graças a Deus tive outras pessoas por mim.

Sorri para ela e apertei sua mão, tentando passar algum tipo de conforto. Eu não fazia ideia do que deveria dizer, e não queria parecer falsa, porque a verdade é que não tinha como eu entender tudo o que ela sentia. Mas de alguma forma, consegui falar algo:

- Você é muito forte - E era verdade. A conheço a dois dias e posso dizer isso com certeza. Camila era admirável, agora não só por sua educação e gentileza, mas também por sua força e positividade.

No Olho do FuracãoOnde histórias criam vida. Descubra agora