Fiquei encarando Thiago através da janela até me dar conta de aquilo era real. Minha primeira reação foi ficar um pouco brava, afinal, já era de madrugada! E ele estava ali, sozinho, na rua deserta já que a maioria das pessoas estavam seguras dentro de casa, provavelmente dormindo. Então que raios ele estava fazendo?
- Eu sei que você mora no Leblon – ele começou, ainda pelo telefone -, mas ainda é meio perigoso ficar parado na rua a essa hora. Pode abrir a porta dos fundos?
Não respondi. Apenas desliguei o telefone, o joguei em cima da cama e desci rápido pelas escadas até chegar a porta que dava acesso a garagem, que ficava bem na frente, poucos metros de distância, nos fundos do terreno de minha casa. Eu havia calçado meus chinelos então foi inevitável ter alguns leves estalos durante minha descida, principalmente porque acabei tropeçando umas duas vezes, tamanha era a minha pressa.
Havia uma chave já na fechadura da porta, e agradeci mentalmente por isso, já que nem sabia aonde tinha deixado a minha. Girei para esquerda duas vezes e a porta abriu. Thiago já estava ali, vestia uma regata branca e uma bermuda azul de praia, parecia completamente à vontade e tranquilo.
Ele sorriu para mim e entrou para dentro mesmo sem eu ter deixado muito espaço para isso.
Enfim fechei a porta, sem chavear, e me virei para ele.
- Tudo bem? - Thiago perguntou. Percebi que seus cabelos loiros estavam ainda mais bagunçados e úmidos.
- Estava chovendo? - Perguntei, passando a mão em seu cabelo.
Ele sorriu, gentil, provavelmente apreciando o simples gesto de carinho que durou por poucos segundos.
- Chuviscou um pouquinho enquanto estava vindo pra cá.
- Você ainda mora no Humaitá, não mora? - Questionei, chegando bem perto de perguntar o porquê da visita tão tarde e sem aviso.
- Moro. Mas estava aqui perto, então vim caminhando até aqui.
Assenti, meio sem jeito.
Estávamos do lado da cozinha, e como eu não sabia o que dizer, caminhei para lá, parando na frente da geladeira e perguntando se ele queria comer ou beber alguma coisa. Thiago disse que não, então voltei a articular alguma conversa em minha mente, para que não ficássemos parados com expressões idiotas na minha cozinha à uma da manhã.
Porém um tempinho depois, eu ainda não tinha conseguido falar nada.
- Você ainda não respondeu se tá tudo bem – Thiago disse, relembrando sua primeira fala após entrar aqui, que eu tinha ignorado.
- Ah, sim, desculpe. Está tudo bem.
- Eu te acordei?
- Não, não. Eu estava deitada, mas não estava dormindo.
- Que bom – ele falou.
Mais alguns segundos de um silêncio constrangedor.
- Então - comecei, disposta a saber o motivo de sua visita -, o que está fazendo aqui?
Thiago abriu um largo sorriso.
- Bom, meu plano não era vir aqui no meio da noite. Mas eu estava perto, então me deu um estalo e caminhei até aqui. Quer saber por que eu estava por perto?
Balancei a cabeça afirmando, curiosa. Ele olhou para o chão ainda sorrindo antes de voltar os olhos mais uma vez para mim.
- Por algum motivo, você tinha se incomodado com a minha relação com Nicole...
VOCÊ ESTÁ LENDO
No Olho do Furacão
Fiksi RemajaUma história de amizade ou de amor? Alice Tavares passou três anos morando em São Paulo, por causa do trabalho de seu pai. Ela nem cogitava a ideia de voltar ao Rio de Janeiro, sua cidade natal, até que pelo mesmo motivo acabou retornando. Com sua...