DANDO A VOLTA POR BAIXO: Uma Corrida contra o tempo em busca da dignidade.

O começo: 12 de novembro de 2004.

Muito embora o celular fosse uma realidade em 2004, o telefone fixo ainda era uma fonte de notícias, ruins ou boas. Naquele sábado, foi de notícia péssima.
- Alô, Posso falar com o Zé Mário? - desandou uma voz apertada e nervosa do outro lado.
É ele!- respondi, já reconhecendo a voz ansiosa, mas lenta de nosso gerente financeiro, Sr. Vani, uma das pessoas mais puxa-saco de chefe que encontrei pela frente.
- Não é possível! - comentei, após ouvir o relatório
- Mas "não te preocupa" (sic), na segunda-feira falo com o Silvio - nosso Gerentes de conta - e ele resolve tudo.
Quando foi isto? - Pergunto, já preocupado com uma verdade: quando um subordinado lhe diz "não te preocupa", o problema está só começando!
- Ontem, sexta-feira, dia 12, bem no fim da tarde. Fizeram depois do fechamento da Bovespa.
- OK - respondi atônito. Sabia que era esta a postura do Banco Central. Senti uma anestesia geral.
Fui até a frente de casa, atravessei a rua, olhei para a fachada e refleti.
Estava casado a 12 anos e minhas filhas tinham 6 e 8 anos. Havia pouco mais de ano que nos mudamos para aquela casa carinhosamente planejada e construída. Tudo era muito bonito. Condomínio com campo de golfe. Academia, lagos, restaurante e até uma recreação com "tias e tios" amáveis  que tomavam conta de nossas crianças todos dias.
Voltei para dentro de casa com uma mistura de desânimo e tristeza. Senti-me prostrado para reagir diante daquela notícia.

Quieto em minha biblioteca, comecei a fazer cálculos mentais com números que, infelizmente, relutavam em serem amigáveis. Nossa empresa estava com pouco dinheiro em caixa.
Ao final desta matemática, um calor tomou conta de meu estômago e a minha cabeça faiscou como que tentando dar um choque de realidade sobre aquilo que eu acabar de ouvir. Se eu não agisse rápido e mudasse o rumo das ações, o resultado seria um só: ESTAVA FALIDO.