Fim de ciclo: 02 de Fevereiro de 2018

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Meio dia. O céu está em um azul sem nuvens. Um verão sem queixas a Ele.

No jardim da casa de praia leio um triller ouvindo música. A temperatura é amenizada por uma brisa que sopra de sudoeste - rara se comparada ao ruidoso Nordestão, vento que frequentemente varre a região. No headphone, músicas do Spotfy. No iPad, um e-book baixado da Amazon (leio livros digitais, mas, não nego, amo os em papel, ainda). Uma cadeira de praia, o verde da grama e casas brancas ao largo do lago completam o cenário.
Se por formação não fosse Engenheiro, porém um escritor profissional,  talvez eu descrevesse  este momento de forma mais rica, detalhada e poética, lembrando que haveria poucas crianças se divertindo com bicicletas, ou porque estão na beira da praia ou porque foram proibidas por suas mães - sem direito a argumentação - dado que o sol de meio dia faz mal à saúde. Diria que vizinhas saradas e bronzeadas se borrifam lentamente sob o sol no gramado do outro lado do lago. E diria que os adolescentes dormem, descansando para a maratona de apresentações em um Festival de música logo mais à noite.
Alguém ao fundo me chama, tiro os fones e antes que eu responda, ouço:
- Coffee Sir? - pergunta minha esposa, Bia, usando uma expressão há muita usada como uma brincadeira íntima entre nós.
- Siiimm! - respondo, sabendo que em instantes teria  um café passado na hora em filtro de papel. Não seria diferente, pois há quase 30 anos sei que, nas palavras dela, café de cafeteira, nem pensar.

Recebo a caneca, sinto o aroma do café recém feito e volto para o IPad. Desta vez,  a leitura não avança. Não consigo me concentrar, refletindo sobre este momento especial. Mentalmente faço contas. São 14 anos, penso, desde 2004, que no mês de novembro recebi um telefonema que mudaria para sempre minha visão de mundo, minhas convicções e até mesmo meu estilo de vida.

Fito o olhar para longe e tomo longos goles sorvendo-os com prazer, tempo suficiente para uma longa reflexão sobre um período de perdas, de incertezas, de descrédito, de restrições e privações; e até mesmo de ofensas pessoais por conta de situações que eu nem mesmo era o culpado, vindas de pessoas que não tinham - e continuam não tendo - a mínima noção do que venha a ser presunção de inocência.
Anos se passaram, porém tudo parece ter ocorrido em um lapso de tempo menor que um piscar de olhos de uma paquera inocente.

Termino o café. Não volto ao e-book.  O brilho do sol é tão forte que parece que tudo se esmaece aos poucos na minha frente.
——
Começo a escrever no bloco de notas do Ipad.

DANDO A VOLTA POR  BAIXO: Uma Corrida contra o tempo em busca da dignidade. Onde histórias criam vida. Descubra agora