Capítulo 4 - Será que ainda resta algo?

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"Thomas"

Eu ainda nem havia levantado da cama enquanto observava Dakota se vestir, ela iria se encontrar com America hoje de novo, pra prova dos vestidos e eu estava realmente aliviado por não precisar ir junto dessa vez, a presença dela me deixava desconfortável porque todas as vezes em que eu olhava pra ela, procurava vestígios da garota que um dia ela foi, todas as vezes que que seu olhar cruzava com o meu eu sentia vontade de beija-la, só pra saber se eu ainda sentiria toda aquela felicidade que ela sempre me proporcionou, ficava imaginando como seria ouvir ela gemer pra mim outra vez e todos esses pensamentos estavam me deixando louco. Acho que eu era definitivamente o cara mais babaca do mundo.

— Amor? – Dakota me chamou e eu voltei a prestar atenção nela. – já vou indo tá bem?

— Quer que eu vá te buscar na saída?

— Não precisa amor, as meninas vão comigo já que são minhas madrinhas, preciso achar um vestido que combine com todas elas. – ela exclamou fazendo uma cara desanimada.

— E isso impede que eu te busque? – perguntei confuso.

— Sim, porque vamos sair pra comer alguma coisa depois. – ela disse enquanto se inclinava sobre a cama pra me dar um beijo. – até mais tarde meu anjo.

Ela disse e caminhou pra fora do quarto, e eu pensei no que ficaria fazendo a tarde toda já que hoje tinha tirado o dia de folga do trabalho, pensei em chamar os caras pra jogar um vídeo game ou assistir jogo, mas não estava no clima pra aguentar Ben hoje, e todas as ideias que tive me pareceram realmente ruins. Então quando deu quatro horas da tarde decidi ir atrás da minha noiva, não sei se pra ver ela ou America, só quis ir.
Me levantei, me vesti e fui até a tal loja de vestidos, porém assim que estacionei na porta eu a vi saindo, Dakota estava rodeada por mais seis mulheres e eu reconheci cada uma delas, porém a mais importante não estava ali, America. Fiquei parado por alguns minutos após Dakota ir embora, pra ver se ela aparecia e quando vi que talvez ela ainda estivesse lá dentro, decidi descer.
Eu nem sabia porque estava fazendo aquilo, só sei que desci do carro, atravessei a rua e entrei na imensa loja de vestidos para casamento, no mesmo instante uma atendente ruiva de olhos extremamente escuros veio até mim com um sorriso de orelha a orelha no rosto, ela até que era bonita, porém aquele batom rosa chock a estava deixando com uma aparência mais velha, como se aquela cor não combinasse com o tom delicado de sua pele.

— Prazer, sou Patrícia, em que posso ajudar? – a moça que devia ter uns 19 anos de idade disse enquanto mascava um chiclete de forma irritante.

— Estou procurando por uma pessoa... – comecei – America Walker, ela veio pra cá com minha noiva hoje, Dakota Burke.

— Uau. Você é o noivo de Dakota Burke? – ela perguntou chocada e segurei pra não rir da expressão estranha que se instalou em seu rosto.

— Sim... America tá aqui?.

— Porque quer saber dela? ela tá organizando seu casamento né? Conversamos um pouco antes da senhorita Burke chegar, não parece muito animada – ela comentou com um sorrisinho irônico nos lábios.

— Acho que terei de alertar minha noiva da curiosidade imensa dos funcionários dessa loja, a não ser que a senhorita resolva responder a minha pergunta e não ser tão intrometida – disse de forma rude e no mesmo instante o sorriso murchou em seu rosto.

Ela assentiu como se fosse um cachorrinho e me guiou até uma porta, e antes que eu pudesse fazer qualquer outra pergunta Patrícia saiu de perto de mim e voltou para seu posto, conversar com as outras atendentes que estavam por ali. Então simplesmente girei a maçaneta e me deparei com uma sala grande, uma das paredes era um espelho enorme que ia do chão ao teto, no centro da sala havia várias elevações redondas, como se fossem mini-palcos, e imaginei que aquele era o local onde faziam os ajustes dos vestidos. Entrei um pouco mais e foi então que eu a vi, ela estava parada sobre um dos mini-palcos, seu olhar estava fixo no espelho enquanto ela observava a si mesma dentro daquele vestido de noiva... e ela estava linda, seus cabelos estavam presos em uma única trança jogada sobre seu ombro e suas feições estavam suaves. Ela parecia tão distante, como se estivesse perdida em pensamentos enquanto alisava a saia do vestido cuidadosamente com as pontas dos dedos, seus lábios estavam entreabertos enquanto seus olhos percorriam o vestido através do espelho. E naquele instante eu consegui enxergar a minha America, aquela que conheci a tantos anos atrás, a America que eu havia pedido em namoro no meio de um acampamento simplesmente porque a estava achando linda com medo de animais selvagens, ali eu consegui enxergar a garota que eu abracei durante uma noite inteira enquanto ela chorava em meu ombro porque a irmã mais velha havia se mudado pra outro país, a garota que ficou sentada ao lado da minha cama enquanto eu queimava de febre simplesmente pra ter certeza de que eu não pioraria durante a noite, a garota que eu prometi amar, cuidar e proteger com todas as minhas forças. Ali, parado na porta daquela sala eu consegui enxergar a America de verdade, e não aquela cópia adulta de si mesma e Deus como ela estava linda, parecia tão frágil naquele momento que pareceu uma miragem em meio ao deserto, sabendo que quando eu a tocasse ela sumiria novamente.
Dei mais alguns passos pra dentro da sala e então seus olhos encontraram os meus através do espelho e ela se encheu de constrangimento.

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