2 - Um Pesadelo?

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NOTA DO AUTOR:


AO ABRIR OS OLHOS, observou detalhadamente a tal árvore do qual havia caído. Horas haviam se passado e seu corpo ainda doía.

Em algum lugar dentro de si, Douglas podia sentir brotar um imenso soluço. Então sufocou-o, antes que viesse à tona. Respirou profundamente, juntando forças para tentar sair dali. A tempestade incrivelmente parecia ter chegado ao fim.

Era tão grande o silêncio, que Douglas julgava poder ouvir as partículas de H2O flutuando no ar antes de se misturarem ao tecido de algodão em sua roupa.

Uma aranha armadeira correu por cima das costas da sua mão e Douglas abafou um grito. As aranhas causavam-lhe desconforto. Mas ele não tinha medo.

Com um pouco de força, o garoto finalmente conseguiu se mexer e levantar. As chinelas de Douglas deslizavam ruidosamente pelo gramado, devido a umidade trazida pela tempestade. Procurou por Satelyt, mas nenhum sinal do animal em sua volta. Exceto pela névoa que se aproximava violentamente.

"Certeza que ficarei de castigo o ano inteiro por desobediência", pensou o garoto.

Incerto, deu a volta na casa até a frente, ficando diante da porta de entrada – o portal agora estava com um formato um pouco diferente ao de costume – que se abriu silenciosamente. E, silenciosamente, Douglas entrou.

Dentro, não havia móveis, apenas os lugares que os móveis haviam ocupado um dia. Nas paredes, também não havia decoração como o garoto estava acostumado; havia apenas retângulos descoloridos que mostravam onde as pinturas e as fotografias tinham sido penduradas um dia pela Dona Trurds.

Assustado com o que conseguia ver, Douglas correu a procura de sua avó. Primeiro atravessou a cozinha deserta, não avistando a mesa com a qual teria saboreado aquele delicioso bolo de fubá. Em seguida, correu para o quarto de Dona Trurds, atravessando um banheiro vazio e, dentro dele, uma aranha caranguejeira morta do tamanho de um rato. O último cômodo que viu tinha sido seu quarto. Mas, no lugar da cama, apenas uma sombra retangular de poeira sobre o assoalho de madeira.

— Depressa! — sussurrou uma voz fantasma em seu ouvido.

Quem está aí? — o garoto ralhou, enfurecido — E o que você fez com à minha avó?

— Depressa, garoto! — continuou a voz misteriosa. A tal voz saía do nevoeiro, da neblina, da casa e do céu. — Seu tempo está acabando.

Ao ouvir essas palavras, o garoto saiu o mais rápido que pôde, sem chegar a correr realmente, a porta de entrada bateu atrás dele, com força. O que fez com que Douglas corresse para bem longe dali, desaparecendo sobre a névoa.

Desta vez, não era úmida como a névoa comum ou a neblina trazida pela tempestade. Não era fria nem era quente. Parecia que Douglas estava caminhando para dentro de nada.

O caminho que ele estava percorrendo era um nada descolorido, como uma folha de papel em branco ou um enorme quarto branco vazio. Não tinha nenhuma temperatura, nenhum cheiro, nenhuma textura e nenhum sabor.

"Certamente não era névoa", concluiu Douglas, embora não soubesse do que se tratava.

Por alguns instantes, imaginou que tinha ficado cego. Mas não, conseguia enxergar a si mesmo claramente como o dia. Precisava encontrar o caminho para o vilarejo onde clamaria por ajuda, mas não havia chão sob seus pés, apenas uma brancura nevoenta e leitosa. Então, parou para analisar com precisão.

— O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? — perguntou uma forma embaçada ao seu lado.

Demorou alguns instantes para que seus olhos focalizassem a forma corretamente: achou, de início, que se tratava de algum tipo de homem a alguma distância dele, depois, pensou tratar-se de uma criança bem ao seu lado. E então, descobriu.

— Achei que você nunca fosse conseguir atravessar o Nihil. — Confessou o outro garoto idêntico ao Douglas.

Logo, Douglas concluiu o tal enigma. Sem sobra de dúvidas, jurou estar preso em algum tipo de sonho ou pesadelo.

"Só pode ser isso", solucionou Douglas em pensamento.

— PORQUÊ VOCÊ PAROU? — o tal clone parecia preocupado, gritando, ainda caminhando pela neblina pálida, já um pouco à frente de Douglas. — NÃO TEMOS MUITO TEMPO.

No entanto, Douglas permaneceu imóvel, contente de si mesmo por ter finalmente solucionado o mistério.

Tudo estava silencioso, vazio e deserto. Até mesmo suas pisadas sobre o chão. Ele podia ver-se indo mais a frente, como se o tal clone fosse apenas um reflexo no espelho. Não havia mais nada refletindo a não ser a si mesmo. Mas diferente dos outros reflexos, este continuava a caminhar mesmo que Douglas permanecesse imóvel. O que serviu para atiçar toda a curiosidade escondida dentro de si.

"Sou um explorador.", pensou Douglas, "E preciso de todos os caminhos para fora daqui que puder encontrar. Portanto, continuarei a andar."

— O que você quis dizer com "atravessar o Nihil"? — lembrou Douglas, encucado. Porém, seu clone não respondeu, pois, uma forma começou a delinear-se em frente deles, grande elevada e escura.

"Finalmente", pensou Douglas, achando ser o tal vilarejo do qual o garoto tanto ouvia.

Um vento gélido soprou em torno deles. Douglas sentiu calafrios e virou a cabeça, confuso. E então, a forma ganhou contorno em meio à névoa: uma muralha escura que surgia da brancura informe diante de seus olhos.

Quando voltou a olhar para o seu "clone", ele havia desaparecido.

Douglas estava sozinho.

O REINO ESCONDIDO (As Crônicas de Darren Cook - LIVRO 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora