Cuspo água salgada para todos os lados, como se o mar todo nascesse de mim.
Abro os olhos e não reconheço de imediato onde estou. A cama em que me deito está toda molhada e não é minha. O quarto é pequeno, um cubículo, tendo apenas uma cama e uma escrivaninha encostada na parede, todo feito de madeira escura. Uma janela entre os dois móveis está coberta por uma cortina verde antiga e uma luz fraca passa por ela. Identifico que é o fim da tarde.
Ah, o quarto também está lotado com sete pares e meio de olhos me encarando preocupados.
As feições de meu pai e irmã se aliviam instantaneamente, meu pai com uma expressão séria e minha irmã com o olhos inchados e vermelhos, como se houvesse chorado durante todo o dia. Com eles estão Saymon, seu irmão mais velho, sua mãe e um homem barbudo, moreno e com um rosto cansado. Seus ombros largos estão caídos e sua expressão é uma mistura de ansiedade e agradecimento. Não posso deixar de notar uma cicatriz que se estende da sua bochecha até sua testa e passa sobre seu olho direito, ou o lugar onde ele costumava estar.
Um arrepio passa por minha pele. Esse deve ser o pai irresponsável, o homem que eu salvei do afogamento.
Uma avalanche de memórias passa por minha mente e começo a me sentir enjoada.
— Coral! — Morgan grita, se jogando sobre mim. Ela está ajoelhada junto à cama e ao lado de um senhor de idade com vestes brancas, certamente um curandeiro. — O que você estava pensando? Quer me matar do coração?!
Sinto um peso a mais sobre nossos corpos apertados e vejo Claire com o braço ao nosso redor, ela chora de alívio e balbucia algo que eu não consigo entender.
Abraço as duas fracamente e ambas recebem uma repreensão do senhor de branco. Elas se afastam pedindo desculpas e se juntam aos outros espremidos no quartinho. Começo a me sentir sufocada repentinamente.
O curandeiro pega um pano seco e quente e o coloca sobre minha testa, aliviando uma pressão que eu nem sabia que estava ali, e me confortando. A toalha está seca, porém as cobertas se encontram molhadas de meus engasgos com a água salgada. Então, a mulher que causou tudo isso trouxe uma coberta também seca e as troca. Ela aparenta estar mais calma e sorri com apreciação.
— Obrigada — disse, seus olhos se enchem de lágrimas. — Não temos como agradecer...
Levanto a mão para fazê-la parar de falar, mesmo sem ter forças para exprimir palavra alguma. Ela segura minha mão, apertando-a de leve. Abro um sorriso cansado e transmito a mensagem que quero com um olhar calmo.
O que importa é todos estarem bem.
Ela sorri novamente e sai do quarto em busca de alguma coisa.
O curandeiro olha para meu pai, que mostra os dentes em um sorriso pequeno. O susto passou e seu rosto exprime apenas uma mensagem: orgulho. Mesmo Claire, que agarra seu braço e funga tentando se acalmar, sorri fracamente.
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Oceanos de Traição e Sangue
FantasyEm um mundo onde a magia não é mera invenção, Coral foi criada como humana em um país em que as raças podem viver em paz. No entanto, quando impede que um acidente ocorra no desfile da família real, Coral descobre um poder especial; uma habilidade q...