Capítulo 3

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Cuspo água salgada para todos os lados, como se o mar todo nascesse de mim

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Cuspo água salgada para todos os lados, como se o mar todo nascesse de mim.

Abro os olhos e não reconheço de imediato onde estou. A cama em que me deito está toda molhada e não é minha. O quarto é pequeno, um cubículo, tendo apenas uma cama e uma escrivaninha encostada na parede, todo feito de madeira escura. Uma janela entre os dois móveis está coberta por uma cortina verde antiga e uma luz fraca passa por ela. Identifico que é o fim da tarde.

Ah, o quarto também está lotado com sete pares e meio de olhos me encarando preocupados.

As feições de meu pai e irmã se aliviam instantaneamente, meu pai com uma expressão séria e minha irmã com o olhos inchados e vermelhos, como se houvesse chorado durante todo o dia. Com eles estão Saymon, seu irmão mais velho, sua mãe e um homem barbudo, moreno e com um rosto cansado. Seus ombros largos estão caídos e sua expressão é uma mistura de ansiedade e agradecimento. Não posso deixar de notar uma cicatriz que se estende da sua bochecha até sua testa e passa sobre seu olho direito, ou o lugar onde ele costumava estar.

Um arrepio passa por minha pele. Esse deve ser o pai irresponsável, o homem que eu salvei do afogamento.

Uma avalanche de memórias passa por minha mente e começo a me sentir enjoada.

— Coral! — Morgan grita, se jogando sobre mim. Ela está ajoelhada junto à cama e ao lado de um senhor de idade com vestes brancas, certamente um curandeiro. — O que você estava pensando? Quer me matar do coração?!

Sinto um peso a mais sobre nossos corpos apertados e vejo Claire com o braço ao nosso redor, ela chora de alívio e balbucia algo que eu não consigo entender.

Abraço as duas fracamente e ambas recebem uma repreensão do senhor de branco. Elas se afastam pedindo desculpas e se juntam aos outros espremidos no quartinho. Começo a me sentir sufocada repentinamente.

O curandeiro pega um pano seco e quente e o coloca sobre minha testa, aliviando uma pressão que eu nem sabia que estava ali, e me confortando. A toalha está seca, porém as cobertas se encontram molhadas de meus engasgos com a água salgada. Então, a mulher que causou tudo isso trouxe uma coberta também seca e as troca. Ela aparenta estar mais calma e sorri com apreciação.

— Obrigada — disse, seus olhos se enchem de lágrimas. — Não temos como agradecer...

Levanto a mão para fazê-la parar de falar, mesmo sem ter forças para exprimir palavra alguma. Ela segura minha mão, apertando-a de leve. Abro um sorriso cansado e transmito a mensagem que quero com um olhar calmo.

O que importa é todos estarem bem.

Ela sorri novamente e sai do quarto em busca de alguma coisa.

O curandeiro olha para meu pai, que mostra os dentes em um sorriso pequeno. O susto passou e seu rosto exprime apenas uma mensagem: orgulho. Mesmo Claire, que agarra seu braço e funga tentando se acalmar, sorri fracamente.

Oceanos de Traição e SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora