Capítulo 14

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Reese e Kesa possuem mãos mágicas, literalmente.

Estou deitada na cama de Reese, gemendo de dor e exaustão do intenso dia de treinamento com Rinaldi, enquanto as duas naturalis fazem uma massagem em meus músculos das pernas. A noite das garotas não podia ter começado de outra forma, pois eu não me aguentava em pé quando cheguei a alguns minutos atrás, mancando e me escorando nas paredes do palácio.

Ayla também está no quarto, sentada entre as almofadas floridas no chão de carpete verde e lendo algum livro que não consigo identificar o nome.

O quarto de Reese só se diferencia dos jardins que nos cercam pelas paredes e móveis, pois as cores e quantidade de flores e frutos espalhados pela decoração verdejante do aposento faz com que eu me sinta em uma floresta. Plantas que nunca vi estão dispostas em vasos de vários tamanhos do chão ao teto, em que um grande lustre em forma de rosa cai delicadamente. O quarto é quase duas vezes maior que o meu, percebo de imediato, e acredito que seja pelo fato de minha amiga viver aqui a muito mais tempo que eu. Nem pensei em decorar o meu ainda!

  — Ruby, você já conseguiu desenvolver algo de sua magia? — pergunta Kesa com os olhos castanhos brilhantes. Ela está com o cabelo ruivo preso em duas tranças e veste um pijama rosa claro, seu sorriso me lembra muito minha irmã e meu coração se aperta novamente.

— Não... — suspiro. — Rinaldi está primeiro me ajudando a fortalecer meus sentidos e músculos, mas quando tentou me ensinar a liberar um pouco da magia, eu não consegui fazer nada.

— Mas você vai, todas sabemos — fala Reese, em sinal de conforto. Ela pega uma toalha para limpar as mãos do creme natural que passou em minhas pernas, passando-a para Kesa em seguida. — Você vai conseguir controlar sua magia, não precisa se preocupar. Dê algum tempo para seu corpo e sua mente, muita coisa aconteceu em pouco tempo.

Concordo. Ela está certa, como sempre.

Tento me sentar com dificuldade e os repuxões de meus nervos fazem com que eu trave minha mandíbula em resposta. Um som dolorido escapa de meus lábios. Reese me ajuda e me aconchega entre as almofadas coloridas de sua cama e me dá um copo de água.

— Ainda bem que tenho vocês — falo em um murmúrio e percebo a sinceridade de minhas palavras. Eu realmente não esperava isso, de me sentir acolhida e bem cuidada. Como eu estaria sem Reese para me ajudar a andar, tomar banho e até mesmo a comer?

Mesmo me sentindo acolhida, também me sinto uma inútil. Eu não estou dando nada em troca, apenas estou sendo um peso! Inconformada com isso, olho para as garotas ao meu redor e noto os olhos de Reese bem focados em mim, como se avaliasse cada palavra do que eu acabei de dizer.

— Ruby, você nunca precisa se sentir sozinha a partir de agora — responde, como se lesse minha mente. Como é possível ela me conhecer tão bem? — Você é uma de nós, é uma elfa e naturalis e será uma grande nobre, e nós — ela mostra Kesa e Ayla com a cabeça, ambas me encarando com um sorriso caloroso no rosto — sempre estaremos aqui ao seu dispor.

Meus olhos começam a marejar e limpo a lágrima rebelde de despenca de minha bochecha. Desde que cheguei a Venegar só faço chorar.

— Não chora! — exclama Kesa, preocupada. Ela corre até meu lado, pulando na cama e segurando minha mão. — Alguma coisa está doendo? Posso ajudar em algo?

Nego com a cabeça, mas a abraço apesar da dificuldade. Ela não entende, mas fecho meus olhos com força. Por um momento, imagino estar abraçando Claire. Minha irmã mais nova sempre agia da mesma forma quando me via chorar. Kesa fica em silêncio e retribui o abraço.

Eu me sinto automaticamente mais próxima à menininha ruiva. Não sei dizer o motivo, mas pareço conhecê-la de séculos atrás, e ter um sentimento de cuidado e carinho inimaginável. Meu amor por Claire é intensificado no abraço da pequena tenente, e me sinto capaz de sentir o perfume de minha se me esforçar.

Oceanos de Traição e SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora