Meu encontro com Changkyun estava indo muito bem. Conversamos pelo caminho até o restaurante de sopas, e eu senti que poderia ter tido um resfriado fácil quando o ar quente do local bateu em cheio contra meu rosto extremamente gelado devido ao vento noturno.
Eu e ele nos sentamos mais aos fundos para evitar muita comoção de gente tradicional e pedimos a mesma coisa; tteokguk. Enquanto o pedido não chegava, Changkyun puxou assunto.
— Você ainda não me contou qual é o seu curso.
— Ah — me endireitei, me preparando psicologicamente para mais um round de tente-não-ser-esquisito-na-frente-dele —, sou do prédio de artes visuais. Sabe as salas da parte de trás, do prédio 2? Um pouco depois da galera de literatura? Estou sempre lá.
— Minha sala é literalmente ao lado da sua. Sou do curso de música — Changkyun se demonstrou particularmente orgulhoso ao dizer isso. — Como eu nunca te vi antes?
— Vamos ver: poderíamos ter nos conhecido um ano atrás, eu provavelmente esbarrando em você e derrubando todos os meus filmes fotográficos no chão e te xingando de alguma coisa bem ultraje, quem sabe. Aí você me detestaria ou me acharia muito duvidoso, e não estaríamos aqui agora, num restaurante de sopas sábado a noite... — minha voz foi se perdendo quando encontrei com os olhos de Changkyun; a expressão dele um pouco perdida. — Acho que estou falando muito, desculpa. É que Efeito Borboleta me interessa.
Changkyun piscou umas vezes como quem tinha acabado de acordar de um transe e balançou a cabeça rapidamente, corado e talvez levemente desesperado, porque ele era educado demais e gentil demais e qualquer coisinha que achasse que tinha feito errado era motivo de deixá-lo assim. A sopa tteokguk já havia chegado e o vapor quente deixou seu rosto ainda mais vernelho.
— Não é isso — ele murmurou, desajeitadamente pegando a colher e ainda mais desajeitadamente pescando os bolinhos de arroz da sopa. — Gosto de ouvir você falando. Você fala com muita propriedade sobre os assuntos que gosta e isso me dá uma sensação muito boa. Eu só... não sei como responder, porque fico perdido em outras coisas — e ele então enfiou a colher na boca como se isso fosse um ponto de salvação para seu constrangimento.
Eu fiz a mesma coisa, mas pelo péssimo hábito de não conseguir reprimir minha vontade de perguntar de volta absolutamente tudo que me convém, voltei a falar, pausadamente, enquanto mastigava os bolinhos de arroz:
— Mas e você, Chang? do que- desculpa, é um hábito, do que você- gosta?
Changkyun deu uma risadinha e me respondeu com muito mais modos:
— Hmmm, de música, musicais em geral também, como The Princess Bride, sabe? Que mais... de você, também-
Eu poderia estar exagerando, falando isso pra tornar a situação mais cômica e ajudar a autora a conseguir uma boa posição na categoria do humor, quem sabe, mas não estou. Nunca fui tão sério na minha vida quando digo que: eu engasguei. E foi patético. A minha imagem, mais vermelho que um morango, tentando tossir minimamente menos me-ajuda-acho-que-vou-morrer, enquanto Changkyun me dava tapinhas nas costas e perguntava se eu queria água, e depois correndo de volta pra mesa com a água e eu conseguindo engolir o pedaço maldito de bolinho de arroz com muito custo, minha garganta relaxando e meus brônquios puxando todo o ar do mundo de uma vez, foi ridícula. O significado de vexação, realmente.
— O que você achou que eu estava querendo dizer? — Changkyun disse entre gargalhadas enquanto fazíamos o caminho de volta. — Que eu estava apaixonado?
Sim, era exatamente isso que eu achei que você estava querendo dizer, desgraçado.
— Não, por que eu acharia isso? — Ri nervosamente, enfiando as mãos nos bolsos do sobretudo pretendendo estar relaxado e aéreo, observando os pisca-piscas que decoravam as árvores.
— Porque eu poderia estar — Changkyun apressou o passo e se pôs parado em minha frente, também com as mãos no bolso do casaco, pendendo a cabeça para o lado com um sorrisinho. — Seria um problema pra você?
Desviei o olhar resmungando um "tsc", minhas bochechas e a ponta das minhas orelhas mais quentes do que poderiam estar no frio de 3°C que fazia.
— É claro que não...
— Bom, do jeito que você quase morreu engasgado com tteokguk só porque eu mencionei gostar de você, não especificando o sentido, parece que seria.
— Eu só- ah, você não consegue parar de mencionar esse acidente, né? Eu só reagi assim porque fiquei surpreso. Achei que no máximo você tinha afinidade por mim.
— Aceitei ir a um encontro com você, Kihyun. Pode apostar que eu sinto mais do que afinidade por você. — Changkyun estava perto e seu polegar direito deslizava delicadamente em meu queixo. Um toque tão singelo que me fez derreter de maneira ridícula, intoxicado. Ele quebrou o momento tirando o polegar, respirando um pouco mais fundo que o normal.
Andamos em silêncio depois disso e chegamos à rua do meu apartamento em cinco minutos. Perguntei a Changkyun se ele queria companhia até sua casa, mas ele disse que morava muito longe. Se despediu de mim com um beijo no canto da boca que eu não sei se foi de propósito ou não, sei que custei demais a dormir. Pela madrugada, ele me enviou uma mensagem:
Changkyun
| www.google.com/dicionarioinformal/duplo-sentido
| vê se você entende ;)
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MCDONALD'S
Humor[𝐂𝐇𝐀𝐍𝐆𝐊𝐈] Na qual Changkyun é atendente do McDonald's e Kihyun um esfomeado em plena madrugada. SHORT FIC | PT-BR REFORMULADA - abril/2020 @wjsnchateau, 2018.